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segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Inimigo interno: Irã "interroga" general, Israel enfrenta cidadãos árabes.

As suspeitas de que a cúpula iraniana foi infiltrada pelo Mossad se mesclam a atentados e planos terroristas de palestinos com cidadania. 



A informação ganha guerras e não existe no mundo país mais ciente disso do que Israel. No Irã, a situação é similar: o regime dos aiatolás conhece muito bem as proezas dos serviços de inteligência israelenses e está agora seriamente afundado em suspeitas de traição. Segundo fontes que parecem confiáveis, o general que foi ao Líbano justamente para evitar mais um grande feito do Mossad, Esmail Qaani, está sob detenção e interrogatório, suspeito de fazer jogo duplo. Nesse período, sofreu um ataque cardíaco.

Dá para imaginar o interrogatório – corre até que ele morreu numa dessas sessões. Qaani é ninguém menos que o comandante do Al Quds (como Jerusalém é chamada pelos muçulmanos), grupo de operação no exterior da Guarda Revolucionária Iraniana, responsável pela coordenação da ampla rede de aliados que o Irã construiu na região, incluindo Hezbollah, Hamas, Hutis e o espantoso número de cinco milícias iraquianas.

A informação veio da jornalista Suadad Al-Salhy, do site Middle East Eye, com base em dez fontes em Teerã, Beirute e Bagdá. “A infiltração foi 100% iraniana, não há dúvida a respeito”, disse uma fonte “próxima do Hezbollah”.

As suspeitas são fortes desde que bombardeios israelenses detonaram os prédios acima da superfície e o vasto subsolo de concreto armado onde o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, participava de uma reunião que deveria ser altamente secreta. Como sabiam onde e a que hora estaria lá o homem mais visado do Líbano?

E mais: como sabiam que apenas dois dias depois o sucessor de Nasrallah. Hassem Safieddine, se reuniria em outro bunker subterrâneo, sendo igualmente aniquilado? Num país já naturalmente dado a boatos, pela desconfiança em qualquer coisa “oficial”, é grande o número de especulações sobre quem “é espião” no Líbano. Como as lealdades são altamente cambiantes, um bocado de gente se enquadra na categoria.

BOMBA NA CAMA

Correu a informação de que Esmail Qaani, que havia sido enviado a Beirute dois dias depois da morte de Nasrallah, também estaria no bunker, mas múltiplas fontes dizem que ele escapou e foi detido.

O nível de informação que Israel tem sobre o Hezbollah provoca, obviamente, suspeitas de colaboração via canais importantes. Para Israel, nada melhor do que ter o inimigo consumido em dúvidas.

“Os iranianos têm sérias suspeitas de que a Guarda da Revolução foi infiltrada pelos israelenses, principalmente os que trabalham na esfera libanesa, de forma que todos estão sob investigação no momento”, disse um dos informantes da experiente repórter do Middle East Eye, um site extremamente anti-Israel e que não pode ser acusado de fazer o jogo dos israelenses.

As suspeitas, na verdade, afloraram com força quando Ismail Haniyeh foi morto por uma bomba colocada debaixo da sua cama num prédio para hóspedes importantes mantida justamente pela Guarda da Revolução.

Somente iranianos graduados e verificados poderiam ter entrado no local e deixado a bomba a ser explodida à distância, aproveitando que Haniyeh considerava estar num dos lugares mais protegidos do Irã, para onde tinha ido assistir a posse do novo presidente Masoud Pezeshkian, dividindo a primeira fila com outros chefões terroristas e o vice-presidente Geraldo Alckmin.

Há praticamente certeza que os iranianos responsáveis por colocar a bomba – e teriam que ser muitos – foram retirados do país antes da explosão, para dar tempo à sua fuga.

FILME DE ESPIONAGEM

Outro amigão de governantes brasileiros, o ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad, hoje totalmente isolado do poder, afirmou que o chefe e mais vinte agentes da unidade criada especialmente para investigar infiltrações israelenses se tornaram colaboradores do Mossad.

Parece filme de espionagem da época da Guerra Fria, mas não pode haver dúvidas de que há uma infiltração, o que aumenta as especulações sobre como será a “surpreendente” retaliação de Israel, na definição do ministro da Defesa, Yoav Gallant, ao ataque iraniano com 180 mísseis contra o país, que matou apenas um palestino, mas, pela lógica da guerra, não pode ficar sem resposta.

Teria Israel alguma “arma mágica”, como os bipes sabotados que exploram em massa nas mãos do Hezbollah? Obviamente, a escala de uma retaliação ao Irã é múltiplas vezes maior.

As movimentações para “segurar” Israel são enormes, envolvendo Estados Unidos, europeus ocidentais e aliados árabes. O nível de tensão aumentou várias vezes depois do catastrófico ataque com um drone do Hezbollah que, voando a baixa altitude para fugir dos radares, deixou quatro mortos e 58 feridos na base da legendária brigada Golani, um fato sem precedentes. Como boatos sempre sempre aumentam em momentos de crise, correu que o chefe do estado maior das Forças de Defesa de Israel, general Herzi Halevi, também havia sido morto no ataque. Halevi foi visitar a base para prestar solidariedade – e dar prova de vida.

Também contribui para o clima de ansiedade a confirmação de que os Estados Unidos vão bancar a instalação de uma bateria mísseis do nível Thaad, interceptadores avançados que precisam ser operados por militares americanos, para proteger Israel em caso de uma retaliação iraniana. É uma mensagem forte.

O Irã já avisou que atacará qualquer país árabe que permita o sobrevoo de aviões israelenses no que seria uma missão altamente complexa para bombardear alvos no Irã. Também retaliará, insanamente, contra países do Golfo caso suas instalações petrolíferas sejam atingidas – com consequências gravíssimas para o resto do mundo, sob risco de disparada do preço do petróleo.

TREINADOS EM TERRORISMO

Israel também tem que lidar com um “inimigo interno”, de outra natureza: membros da comunidade árabe israelense – diferentes em direitos e liberdade de movimentação dos palestinos dos territórios ocupados – que são cooptados para o terrorismo pelo Hamas.

Como a polícia e o exército criaram praticamente um cordão intransponível para isolar os territórios, os atentados recentes em Israel têm sido praticados justamente por cidadãos árabes – 20% da população de quase dez milhões de habitantes do país.

Usam, mais frequentemente, facas para matar judeus nas ruas. Na semana passada, foram presos cinco israelenses árabes que planejavam um atentado de grandes proporções. Sob influência ideológica do Estado Islâmico, pretendiam explodir um carro-bomba para derrubar um dos prédios do conjunto Azrieli Towers, onde fica o maior shopping do país. Tinham sido treinados em terrorismo na Síria.

A relação nacional dos árabes israelenses, esmagadoramente muçulmanos, com minorias drusas e cristãs, é, por motivos óbvios, complicada. Ao mesmo tempo em que desfrutam de um sistema democrático e de liberdades sem comparação com o restante dos países árabes, também se identificam com os irmãos árabes da Cisjordânia e de Gaza.

A região estará indo por um bom caminho quando não precisarem mais ser, em parte, intensamente vigiados e abraçarem uma futura convivência em que todos os envolvidos estejam pensando em construir um futuro, não em reescrever o passado e explodir o presente. Infelizmente, isso parece muito longe.

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