Por Eduardo McKenzie
Dilma Rousseff não suporta a realidade de seu processo de destituição.
Não admite que tenha sido suspensa de funções legitimamente pelo poder
legislativo de seu país. Não concebe que esse poder lhe reprove haver cometido
graves delitos. Não aceita outra condição diferente à de vítima inocente. Não
agüenta que lhe provem que foi posta fora do jogo por falsificar as contas do
Estado, em uma tentativa para fazer os brasileiros acreditarem que sua gestão
econômica era impecável. Não tolera que lhe cobrem ter encoberto os déficits
orçamentários de seu país e ter dissimulado a crise criada por seu falso "Estado de bem-estar" levando às arcas públicas, sem permissão do Congresso,
dinheiros emprestados pelos bancos estatais.
Dilma Rousseff, de 68 anos, não admite que foi defenestrada (embora seja
provisoriamente e por até 180 dias, enquanto é julgada definitivamente pela
Câmara Alta), e que perdeu a confiança dos brasileiros, por ter também jogado
provavelmente um papel central no tremendo caso da Petrobras, que a imprensa
internacional descreve como "o maior escândalo de corrupção
político-econômico da história da América Latina". Trata-se, com efeito, de
um affaire descoberto há dois anos. Seu montante poderia ser
de mais de 2.000 milhões de dólares. Este processo dará muito o que falar pois,
além disso, o Supremo Tribunal Federal acusa a presidente suspensa de obstrução
da justiça por sua atitude ante o assunto. O índice atual de favorabilidade de
Rousseff, segundo as pesquisas, é de apenas 10%.
Para esquivar a humilhação de se ver destituída por essas razões, por
ter faltado com seu dever de chefe de Estado, Dilma Rousseff monta um show
patético. Ameaça o país com seis meses de tumultos e violências de rua: "A
população saberá dizer não ao golpe". Ela acusa os outros, seus ex-aliados,
e cospe sobre seu juiz natural, o poder legislativo. Diz que eles, o Senado e a
Câmara dos Deputados, orquestraram "um golpe" [de Estado]
contra ela, um "golpe moderno" e “"nconstitucional" destinado,
diz, a satisfazer os mais baixos instintos "da direita" e do "fascismo",
pois querem tirar ela e o Partido dos Trabalhadores do poder para matar o povo
de fome: "O que está em jogo são as conquistas dos últimos 13 anos, os
ganhos das pessoas mais pobres e da classe média".
A responsável pela atual recessão econômica diz que os delinqüentes são
os outros. Ela é inocente e as maiorias que a destituíram são vis "inimigos do
povo". E reitera: "O que está em jogo é o respeito às urnas, à vontade
soberana do povo brasileiro e à Constituição".
Dilma não quer aceitar que a esquerda que ela representa no continente
pode cair na lama da grande desonestidade, que pode ser corrompida e corruptora
e que pode ser ladra. Essa esquerda é, segundo ela, sempre límpida, honesta,
pacífica e desinteressada. É o que quer que acreditemos. Na realidade, o que os
congressistas brasileiros estão provando é que, pelo contrário, essa esquerda é
lamentável, e pior, é depravada, sem coragem e sem valores. A credibilidade da
esquerda latino-americana cai de novo pelo caso de Rousseff.
O processo de impeachment em curso prova que ter levado a presidência de
um grande país uma ex-guerrilheira que nunca se arrependeu de seus crimes, não
é jamais um ato banal, que pode acabar de forma satisfatória para as maiorias,
para a economia e para as instituições democráticas. Essa é uma lição
importante que deve ser aprendida sobretudo pelos colombianos, no momento em
que desde a cúpula do governo se quer impor ao país, arbitrariamente, a
impunidade e a liderança política de criminosos endurecidos, os chefes das
Farc.
Certos analistas pró-PT sugerem que o processo de impeachment foi uma
conspiração de uns poucos. Na verdade, foi o resultado de mobilizações
populares de grande amplitude contra o governo. As maiorias respaldam de fato
esse processo. 61% dos brasileiros é a favor do impeachment de Rousseff. Sem
esse apoio massivo tal evolução não teria sido possível.
Os treze anos do PT no poder terminam assim, com essa espetacular queda
de Rousseff (e, portanto, de seu mentor Luiz Inácio 'Lula' da Silva) e em uma
perda enorme de adeptos. Salvo um espetacular retorno à situação anterior, esse
experimento termina com o fracasso do capítulo melhor obtido até agora na longa
aventura da esquerda continental. O do PT foi muito mais importante do que a
catástrofe violenta e depredadora do castrismo em Cuba, mais que o convulsivo
governo de Salvador Allende, mais do que a dramática destruição da Venezuela,
vítima de um Chávez que acabou com as liberdades e saqueou os recursos de seu
próprio país para sustentar, por razões ideológicas, a ditadura agônica de
Cuba.
Os governos de Lula e de Rousseff foram o máximo êxito da esquerda do
hemisfério. Nunca antes essa corrente havia chegado tão longe. O de Cuba é
apenas um avatar, sangrento e expansionista, mas de pouco valor estratégico por
aparecer como um regime detestável e não viável. A chegada ao poder do
lulo-petismo no Brasil, e sua permanência no Palácio do Planalto durante 13
anos, foi o autêntico triunfo, se tem-se em conta o grande peso demográfico, econômico
e geo-político do Brasil.
A plataforma assim montada nesse país reforçou todos os grupos e
projetos anti-liberais das diferentes frações de esquerdas do hemisfério, desde
as mais moderadas até as mais violentas, como a das Farc na Colômbia. Não é por
casualidade que a seita internacional subversiva mais perigosa do continente, o
Foro de São Paulo, tenha sido fundada no Brasil por Lula e Fidel Castro.
Esses bandos, grupos e partidos foram nutridos pelas estruturas de
corrupção do PT, onde se cruzam dinheiros opacos dos governos chavistas, junto
com dinheiros mal havidos do PT. Tudo isso, no episódio da Lava Jato está sendo
investigado. Para tratar de frear tal dinâmica, o PT acode aos organismos
“amigos”, inventados pelo chavismo como Unasul, Mercosul, Parlasul e Telesul.
Todos estão iracundos e no plano de luta para salvar o que resta.
O que se joga hoje no Brasil é de importância capital para a democracia
representativa não só do Brasil, senão do continente americano e do mundo. Em
seis meses saberemos se o horrível pesadelo criado pelo castro-comunismo no
continente perde realmente terreno em benefício da economia de mercado e das
idéias democráticas tão atacadas hoje.
Tradução: Graça Salgueiro
Fonte: "Mídia Sem Máscara"
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