Por Olney São Paulo
Voltando da roça, hoje, vi um urubu pousado de asas abertas
em uma estaca no caminho. Na verdade eram dois. Mas esse tinha as asas abertas
como que alçando vôo.
Sempre fomos habituados a não gostar desse bicho. Bicho
preto, bicho de azar. Mas ultimamente os vejo lá pelas seis e meia sete horas
da manha voando com as garças e com os carcarás. Talvez nem acreditem no que eu
digo, mas é verdade lá na minha roça, eu os vejo, nem todos os dias, mas
bastante, voando com as garças e os carcarás. Não preciso dizer a emoção que é
isso. A sensação que é; eu lá no alto, pois minha casa é no alto, manhã cedo,
e as garças e os urubus e os carcarás e outros bichos que voam voando
juntos. Às vezes eu penso que já
amanheço fora da realidade, às vezes eu penso que durmo fora dela. Tudo se
parece tão diferente do real. O Tempo parece diferente, o tempo parece que
existe. Antes eu só acreditava no tempo, porque eu sabia que era importante
acreditar nisso e ate falar disso. Ate gentes importantes, gentes de ciência
falaram sobre o tempo eu queria ser gente de ciência, então eu falava coisas
sobre o Tempo. Eu gostava de me ver crendo ver o tempo. Mas os urubus voando
com as garças e os carcarás me definem outro tempo. Eu queria criar garças, mas
meu vizinho, o da carroça. Fala que elas só comem os carrapatos dos bois. E eu
não tenho bois. Mas as garças passeiam pela minha roça, junto com os urubus e
os carcarás, nas revoadas de "de manhã". Ainda sou novo nesse mundo das garças,
ainda sou novo nesse mundo das flores, sou novo nesse mundo dos mandacarus e
dos pés de cansanção. Mas é bonito ficar nessa revoada. Eu nem preciso ter gado
pra criar as garças, elas passeiam pelo céu da minha roça. Eu falei de criar as
garças porque urubu a gente não cria, nem carcará, urubu e carcará é coisa do
cão, coisa do demônio. Mas é tão bonito quando voa. O carcará tem uma cara
enfezada, mas ele parece um menino ágil. O urubu parece um carcará que
envelheceu, continua ágil, mas seu tempo é outro. Às vezes eu acho que sou um
carcará envelhecendo. Tomara que eu tenha a elegância desse urubu que vi com as
asas abertas no meio do caminho. Fiquei pensando, porque tudo isso me deixa
triste quando lembro, quando depois. Mas na hora não. Na hora eu fico
tranqüilo. Nem triste nem alegre tranqüilo. É como se eu voasse um pouco, é
como se eu abrisse os braços um pouco. É como a Lua, que quando está no céu eu
gosto. Aqui no sertão é bom sair de noite com minha égua, sob a Lua. Mas quando
a lua não está me dá saudades. Mas saudades de que? Não sei. Eu pensava que
saudades era ter esperanças de viver o futuro no passado, ou talvez a carga do
passado vivendo no presente e no futuro. Quando eu deito e lembro do dia me dá
saudades de algo que não sei o que é. Uma saudade imensa do abraço que da certo
no teu pescoço, do riso que dá certo no teu coração. Do passado que deu certo
na tua historia.
Em mim...
Dá saudades da Pilar.
Dá saudades dos aniversários da Pilar
Pra mim, a vida quando eu gosto dela, tem gosto dos
aniversários da Pilar
E hoje é o aniversário da Pilar.
E hoje é o aniversário da Pilar.
Feliz aniversário minha filha.
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