Por Augusto Nunes
O balanço da primeira semana de
governo informa que o presidente Michel Temer acertou na escolha da equipe
econômica, na mudança de rota da política externa e na recriação do Ministério
da Cultura, que confiscou das carpideiras do PT o cadáver indispensável.
Removido o pretexto para a choradeira, o coro dos cantores federais teve de
contentar-se com a lengalenga que finge enxergar um "golpe parlamentar" no
impeachment de Dilma Rousseff. Os acertos compensaram amplamente os erros de
avaliação política. Dois deles: a ausência de mulheres no ministério e a
nomeação de um prontuário ambulante para o posto de líder do governo na Câmara.
Esse saldo assegurado, repita-se,
pelos trabalhos de parto do plano econômico reclamado pela crise devastadora e
pelo enterro da diplomacia da canalhice estaria reduzido a pó se Romero Jucá
fosse dormir ainda ministro. Não porque a turma do quanto pior, melhor
conseguiria fôlego para mais algumas horas de gritaria. Esses são um bando de
derrotados sem horizontes (e, daqui a pouco, sem emprego nem mesada). O que o
afastamento de Jucá impediu foi a reação justificadamente colérica de milhões
de brasileiros exaustos de ladroagem, cinismo e sem-vergonhice.
O Brasil decente aprendeu que não
pode haver bandido de estimação e que todo corrupto merece cadeia, sejam quais
forem o tamanho da conta bancária, o estado civil ou opção sexual. O que já se
sabia do senador por Roraima era suficiente para fazer de sua presença no
coração do poder uma aposta de altíssimo risco. As conversas telefônicas
divulgadas pela Folha confirmaram que Temer teve a seu lado,
durante 10 dias, um homem-bomba com teor explosivo capaz de explodir o governo
recém-nascido.
O comportamento do presidente no
bota-fora de Jucá demarcou outra fronteira que o separa de Dilma e Lula. Em
episódios semelhantes, o padrinho e a afilhada sempre tentaram varrer
para baixo do tapete a sujeira produzida por bandidos companheiros. Hoje estão
todos juntos no mesmo lixão.
O despejo de Jucá eliminou o
perigo real e imediato. É preciso agora remover as muitas minas terrestres que
continuam espalhadas pela Esplanada dos Ministérios. Pelo visto, Temer ouviu a
voz das ruas. E compreendeu que, no Brasil redesenhado pela Lava Jato, não há
esperança de salvação para governantes que protetores de delinquentes. Quem não
enxergar tal evidência terá o mesmo fim de Dilma e Lula.
Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/direto-ao-ponto
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