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quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

"A carta"

Por Miranda Sá
Como a gente teve conhecimento no começo do aprendizado escolar, a primeira carta que entrou na nossa História foi escrita por Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota de  Pedro Álvares Cabral, que oficializou a descoberta do Brasil.
A descrição do nosso país nos envaidece pelos louvores, como trouxemos na epígrafe; Caminha fala das águas, da abundância de animais, frutos, raízes e a fecundidade dos campos; realça a inocência dos indígenas que "nem fazem caso de encobrir ou deixa de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara".
O documento registra também a origem do nepotismo da politicalha brasileira, com o missivista apelando para o rei D. Manuel a libertação do seu genro, preso por assalto e agressão… Um aloprado da época.
A outra carta que se faz presente na História do Brasil é o testamento político de Getúlio Vargas, trazendo um balanço do seu enfrentamento com o capital estrangeiro e combate às fraudes no comércio exterior.
Vargas assinalou as agressões pessoais que sofreu, e se projeta para o futuro, como uma maldição, estimulando o povo brasileiro a lutar contra a corrupção e os coveiros da economia nacional: "Quando a fome bater à vossa porta sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos".
Alentando os que enfrentam o autoritarismo medíocre da presidente da República, e seus desmandos na economia do País, chega-nos agora, uma carta do vice-presidente Michel Temer dirigida a ela, realçando sua soberba incompetência e amoralismo político.
A epístola teve cunho particular, mas foi publicada em todos os jornais do dia seguinte; desconfia-se que chegou à imprensa por uma tramoia palaciana, que age costumeiramente dessa forma.
Temer se refere à divulgação de uma reunião dele com Dilma que "foi divulgada, e de maneira inverídica, sem nenhuma conexão com o teor da conversa". Trata-se de mais um desmentido à Presidente, cuja compulsão pela falsidade é doentia.
Segundo o presidente do PMDB, "fatos reveladores" mostram a desconfiança que a governante sempre demonstrou nele e no PMDB; Temer enumerou um a um dos episódios que comprovam situações em que, pelo cargo que ocupa, foi rifado por Dilma.
O escanteio mais importante é recente. Dilma ignorou-o como presidente do PMDB chamando o líder do partido na Câmara, o deputado Picciani e seu pai, para um acordo.
Dando uma lição de Democracia à antiga lutadora por um regime stalinista, Temer faz uma profissão de fé liberal, escrevendo: "Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com a oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento".
E mostrando sua capacidade de articulação e apoio às medidas econômicas urgentes para o País pré-falimentar graças à incompetência petista, Temer lembra que ajudou a aprovação da primeira medida provisória do ajuste, conquistada por ele com oito votos do DEM, seis do PSB e três do PV.
A carta revela que o programa peemedebista "Uma Ponte para o Futuro", aplaudido pela sociedade, foi tido por Dilma como uma manobra desleal e, a partir daí, se multiplicaram as manobras do Planalto para dividir o partido.
A Carta de Temer está à altura da de Pero Vaz de Caminha pelas revelações contidas, e à de Getúlio Vargas, pelas denúncias a um governo que falseia o monopólio das conquistas sociais dos trabalhadores. O maior valor do documento, porém, é ampliar e consolidar a frente nacional pelo impeachment.

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