Por Reinaldo Azevedo
Não pensem que o julgamento do mensalão acabou. Sob certo
ponto de vista, ele mal começou. Depois do maiúsculo trabalho feito pelo
Supremo Tribunal Federal - que deu aos crimes os nomes que, durante um bom
tempo, as oposições se negaram a dar -, resta agora o que chamarei de disputa
pela narrativa histórica, que não coincide necessariamente com os fatos, sobejamente
relatados e provados pela Procuradoria-Geral da República, com o endosso da
maioria dos ministros. Depois de examinar severamente as provas, o resultado é
o que se viu: gestão fraudulenta, corrupção ativa, corrupção passiva, peculato,
formação de quadrilha… A soma de horrores tinha um propósito, como também
restou cristalino: executar um projeto de poder que buscava - busca ainda -
tornar inermes as instâncias da República. O que o Supremo fez foi punir a
extrema ousadia. Depois disso, aquela gente se tornou um pouco mais prudente,
mas não quer dizer que tenha mudado de propósitos. Para os petistas, gosto de
lembrar a frase de Talleyrand ao definir os Bourbons: "Não aprenderam; não
esqueceram nada!”. Quem vai se apossar dessa narrativa?
Na academia, alguns poucos aos quais restou, intocada, a
honestidade intelectual buscarão relatar a história. Uma grande maioria
certamente se calará porque os fatos, afinal, não obedeceram aos desígnios do
"Partido", o ente de Razão que escolheram como senhor da história, numa
evidência de sua mediocridade intelectual, de sua fraqueza moral e de sua
baixeza ética. É preciso, é evidente, que os políticos de oposição se
encarreguem de transformar a evidência dos fatos numa herança histórica a ser
lembrada pelas gerações futuras. Até porque estamos falando de um mal de muitas
cabeças. Não pensem que o petismo vai se conformar com o veredicto do Supremo.
Muito pelo contrário: tentará usar a condenação para partir para o ataque.
Não me refiro às muitas notas disparadas pela Executiva
do PT, por José Dirceu ou por José Genoino. Não me refiro às tolices do
stalinismo bolorento de Marilena Chaui, que segue a trajetória inversa à dos
bons vinhos. Refiro-me aqui a outra coisa. Os petistas tentarão se vingar
institucionalmente. E já emitem sinais nesse sentido, com o que terão de tomar
cuidado também os partidos da base aliada.
No domingo, em entrevista ao Estadão, quando posou uma vez mais de herói, José Genoino
defendeu, do nada, o financiamento público de campanha, no bojo de uma "reforma
política profunda"… Por que um partido que exerce o terceiro mandato
consecutivo segundo as regras que aí estão, que se constituiu, na sua vigência,
como uma das maiores legendas do país, quer mudar "profundamente" as regras do
jogo? A resposta é uma só: para se eternizar no poder. Ora, o financiamento
público, se fosse instituído, teria de obedecer a algum critério, como a
distribuição dos recursos segundo a atual bancada dos partidos, por exemplo, o
que daria ao PT uma enorme vantagem. Imaginem vocês: os petistas querem fazer
uma "reforma política profunda", que terá como fundamento o atual tamanho das
bancadas, quando os partidos de oposição vivem o seu pior momento. E não está
de olho só nisso, não! Também vê com desconfiança o crescimento de alguns
aliados. Antes que o mal cresça, pretende lhe cortar a cabeça.
Tentará ainda mecanismos para controlar a imprensa e,
como já anunciaram alguns representantes do partido, o próprio Poder
Judiciário. É pouco provável que consiga realizar esses intentos. Todas as
iniciativas, no entanto, constituem esse esforço de ser o senhor da narrativa.
O mensalão por outros meios
Cumpre ter muito claro uma coisa: essa gente não tem limites e não reconhece os valores que orientam uma democracia e uma República. Nem a própria imprensa, com raras exceções, vocês já sabem disso, se dá conta das barbaridades que são cotidianamente ditas e cometidas. No fim de semana, em Santo André e Mauá, Lula disse, com todas as letras, na presença de ministros de Estado, que vai atuar junto à presidente Dilma para que não faltem recursos a cidades cujos prefeitos sejam petistas. E isso passa como coisa normal. A própria presidente sugeriu, em Salvador, que a eleição de um candidato do PT facilita o trabalho com o Governo Federal.
Cumpre ter muito claro uma coisa: essa gente não tem limites e não reconhece os valores que orientam uma democracia e uma República. Nem a própria imprensa, com raras exceções, vocês já sabem disso, se dá conta das barbaridades que são cotidianamente ditas e cometidas. No fim de semana, em Santo André e Mauá, Lula disse, com todas as letras, na presença de ministros de Estado, que vai atuar junto à presidente Dilma para que não faltem recursos a cidades cujos prefeitos sejam petistas. E isso passa como coisa normal. A própria presidente sugeriu, em Salvador, que a eleição de um candidato do PT facilita o trabalho com o Governo Federal.
Isso tudo é um acinte. Essa é, provavelmente, a forma
mais escancarada de uso da máquina pública de que se tem notícia. Não deixa de
ser uma espécie de mensalão, executado por outros meios. Trata-se de deixar
claro aos eleitores que o estado foi capturado e que fazem dele o que lhes der
na telha: havendo um prefeito aliado, chegará dinheiro; não havendo, então não!
Por que se constituiu a quadrilha do mensalão? Porque os
petistas não reconhecem os fundamentos de uma República democrática, que prevê
a alternância de poder se for essa a vontade do povo. Não para eles. Poder
conquistado é poder acumulado, e não se concebe que outro lhes tome o lugar.
Por isso buscaram fraudar as regras do jogo com aquela cadeia de crimes; por
isso voltam a falar em reforma política e financiamento público de campanha;
por isso ficam a fazer chantagem sobre os palanques.
Os partidos de oposição têm de denunciar toda essa gente
ao Tribunal Superior Eleitoral, sempre tão célere em censurar meras mensagens
de propaganda. Quero ver é um TSE que coíba o uso da máquina pública e o abuso
do poder econômico nas eleições. O PT recebeu um baita golpe moral. Por isso
mesmo, está mais perigoso do que nunca!
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
Um comentário:
Essa gente não vale nada, pior, êles tentam fazer crer à sociedade que tudo isto é normal. Como disse a ministra do STF, Carmen Lúcia, "...em cada ato de corrupção, roubam é a sociedade, impedindo-a de ter mais saúde, mais educação, como se fôsse tudo normal...". Certíssimo, isto tem que parar.
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