Por Augusto Nunes
Vinte anos depois de escorraçado do cargo que
desonrou, o primeiro presidente brasileiro que escapou do impeachment pelo
porão da renúncia reafirmou, nesta segunda-feira, a disposição de engrossar o
prontuário com outra façanha sem precedentes. Primeiro chefe de governo a
confiscar a poupança dos brasileiros, o agora senador Fernando Collor, destaque
do PTB na bancada do cangaço, quer confiscar a lógica, expropriar os fatos,
transformar a CPMI do Cachoeira em órgão de repressão à imprensa independente
e, no fim do filme, tornar-se também o primeiro bandido a prender o xerife.
Forçado a abandonar a Casa Branca em 1974,
atropelado pelas revelações do Caso Watergate, o presidente Richard Nixon
passou os anos seguintes murmurando, em vão, que não era um escroque. Perto do
que faria a versão alagoana, o que fizera o original americano não garantiria a
Nixon mais que a patente de trombadinha. Como isto é o Brasil, Collor não só se
negou a pedir desculpas como deu de exigir que o país lhe peça perdão por ter
expulso do Planalto um chefe de bando. Foi o que fez no discurso de estreia que
colocou de joelhos os demais pensionistas da Casa do Espanto (leia o post
reproduzido na seção Vale Reprise).
Neste outono, excitado com a instauração da
Comissão Parlamentar Mista de Inquérito destinada a apurar bandalheiras
praticadas por Carlos Cachoeira e seus asseclas, o farsante sem remédio decidiu
enxergar na CPMI as iniciais de um Comitê de Pilantras Magoados com a Imprensa.
Caso aparecesse no Capitolio em busca de vingança contra o jornal The Washington
Post ou a revista Time, Nixon seria prontamente transferido para
uma clínica psiquiátrica. Nestes trêfegos trópicos, um serial killer da verdade
articula manobras liberticidas com o apoio militante de inimigos do século
passado.
José Dirceu, por exemplo, embarcou
imediatamente no navio corsário condenado ao naufrágio - ansioso por incluir
entre os alvos da ofensiva a Procuradoria Geral da República. E Lula, claro,
estendeu a mão solidária para reiterar que os dois ex-presidentes nasceram um
para o outro. Em 1993, como se ouve no áudio reprisado pela seção História em Imagens, a metamorfose ambulante traduziu,
sempre em português de botequim, a opinião nacional sobre a farsa desmontada
meses antes: "Lamentavelmente a ganância, a vontade de roubar, a vontade de
praticar corrupção, fez com que o Collor jogasse o sonho de milhões e milhões
de brasileiros por terra".
Trajando um jaleco imaginário, o doutor em
ética caprichou no diagnóstico: "Deve haver qualquer sintoma de debilidade no
funcionamento do cérebro do Collor". O parecer foi revogado por Lula. Mas
continua em vigor no Brasil que presta.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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