Editorial
Faz dois anos, desde a enxurrada de 2010 na região de Angra dos Reis até a atual temporada de chuvas no Sudeste, que a inapetência gerencial do poder público dá demonstrações escancaradas da péssima qualidade do serviço prestado pelo Estado à população na área vital da defesa civil.
Na tromba-d'água da Região Serrana fluminense, em 2011, a efetiva inexistência de um sistema de prevenção contra este tipo de acidente climático ficou visível de forma cristalina. Radares meteorológicos federais e estaduais até detectaram a chegada da tempestade, mas como não há - ou não havia - qualquer esquema organizado e eficiente de troca de informações pouco ou nada se fez. E assim, entre Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, 900 morreram, com muitos ainda desaparecidos.
Os desdobramentos da catástrofe na Serra são exemplares da existência de uma "indústria das chuvas", montada para o uso privado do dinheiro público, como aquela acionada nas secas no Nordeste, quando frentes de trabalho, financiadas pelo contribuinte federal, atuam na construção de açudes, na capina de estradas, em obras de todo o tipo em fazendas do coronelato político local.
É característica desta indústria - tocada, é claro, por lideranças políticas regionais - preferir obras de emergência; depois, portanto, de ocorrido o desastre. O prefeito decreta estado de calamidade e, com isso, não se exigem licitações e concorrências, e muito menos há cuidados com os custos.
Em reportagem do GLOBO sobre o assunto, o presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian, estimou os gastos em obras emergenciais dez vezes mais elevados que nas preventivas.
Entende-se a extrema dificuldade em se executar projetos óbvios, em todo o país, contra enchentes e desabamentos.
O esquema montado na Serra para desviar recursos liberados para este tipo de obra é ilustrativo. De tão escandaloso, os prefeitos de Teresópolis e Nova Friburgo foram afastados.
Não há, também, compromisso sério com prazos. Se na Região Serrana fluminense não há uma casa sequer em construção das 5.459 prometidas; em Angra, onde 53 pessoas morreram em desabamentos, as obras de contenção no Morro da Carioca quase não avançaram.
Confirma-se outra norma da indústria das chuvas: melhor obra de emergência do que de prevenção.
A disseminação da cultura deletéria do fisiologismo, existente de cima a baixo na estrutura de representação política do país, faz com que sejam usados artifícios mirabolantes para atrair o dinheiro fácil que sai de Brasília e de cofres estaduais, em grandes desastres ditos naturais.
Prova disso é o golpe dado por prefeitos ao criar coordenadorias de defesa civil apenas para receber estes recursos em enxurradas, enchentes, desabamentos. Mais uma vez, é a busca incessante do dinheiro para "emergências".
E a bagunça e falta de coordenação são tamanhas que a Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec) sequer sabe ao certo quantos dos 5.564 municípios têm coordenadorias.
A Sedec é órgão do Ministério da Integração Nacional, de Fernando Bezerra (PSB), pilhado ao favorecer seu estado, Pernambuco, na distribuição de verbas para obras de prevenção contra acidentes. São demais os perigos para os milhões de brasileiros obrigados a viver em áreas de risco.
Fonte: Jornal "O Globo"
Faz dois anos, desde a enxurrada de 2010 na região de Angra dos Reis até a atual temporada de chuvas no Sudeste, que a inapetência gerencial do poder público dá demonstrações escancaradas da péssima qualidade do serviço prestado pelo Estado à população na área vital da defesa civil.
Na tromba-d'água da Região Serrana fluminense, em 2011, a efetiva inexistência de um sistema de prevenção contra este tipo de acidente climático ficou visível de forma cristalina. Radares meteorológicos federais e estaduais até detectaram a chegada da tempestade, mas como não há - ou não havia - qualquer esquema organizado e eficiente de troca de informações pouco ou nada se fez. E assim, entre Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, 900 morreram, com muitos ainda desaparecidos.
Os desdobramentos da catástrofe na Serra são exemplares da existência de uma "indústria das chuvas", montada para o uso privado do dinheiro público, como aquela acionada nas secas no Nordeste, quando frentes de trabalho, financiadas pelo contribuinte federal, atuam na construção de açudes, na capina de estradas, em obras de todo o tipo em fazendas do coronelato político local.
É característica desta indústria - tocada, é claro, por lideranças políticas regionais - preferir obras de emergência; depois, portanto, de ocorrido o desastre. O prefeito decreta estado de calamidade e, com isso, não se exigem licitações e concorrências, e muito menos há cuidados com os custos.
Em reportagem do GLOBO sobre o assunto, o presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian, estimou os gastos em obras emergenciais dez vezes mais elevados que nas preventivas.
Entende-se a extrema dificuldade em se executar projetos óbvios, em todo o país, contra enchentes e desabamentos.
O esquema montado na Serra para desviar recursos liberados para este tipo de obra é ilustrativo. De tão escandaloso, os prefeitos de Teresópolis e Nova Friburgo foram afastados.
Não há, também, compromisso sério com prazos. Se na Região Serrana fluminense não há uma casa sequer em construção das 5.459 prometidas; em Angra, onde 53 pessoas morreram em desabamentos, as obras de contenção no Morro da Carioca quase não avançaram.
Confirma-se outra norma da indústria das chuvas: melhor obra de emergência do que de prevenção.
A disseminação da cultura deletéria do fisiologismo, existente de cima a baixo na estrutura de representação política do país, faz com que sejam usados artifícios mirabolantes para atrair o dinheiro fácil que sai de Brasília e de cofres estaduais, em grandes desastres ditos naturais.
Prova disso é o golpe dado por prefeitos ao criar coordenadorias de defesa civil apenas para receber estes recursos em enxurradas, enchentes, desabamentos. Mais uma vez, é a busca incessante do dinheiro para "emergências".
E a bagunça e falta de coordenação são tamanhas que a Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec) sequer sabe ao certo quantos dos 5.564 municípios têm coordenadorias.
A Sedec é órgão do Ministério da Integração Nacional, de Fernando Bezerra (PSB), pilhado ao favorecer seu estado, Pernambuco, na distribuição de verbas para obras de prevenção contra acidentes. São demais os perigos para os milhões de brasileiros obrigados a viver em áreas de risco.
Fonte: Jornal "O Globo"
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