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domingo, 5 de junho de 2011

Tendler: "Sou o mais baiano dos cineasta brasileiros"

Na sexta-feira, 3, o crítico e professor de Cinema André Setaro fez com o cineasta Tuna Espinheira uma entrevista com o prestigiado documentarista brasileiro Sílvio Tendler (Foto: Reprodução). Há muitos décadas, o cineasta vem registrando aspectos da História do Brasil ("Os Anos JK", "Jango"...) e revelado, em seus filmes, as mazelas de um país em transe ("Utopia e Barbárie", "Josué de Castro, Um Cidadão do Mundo...). Está lançando um box com documentários acerca de personalidades baianas. E gosta de enfatizar: "Sou o mais baiano dos cineasta brasileiros". Mereceria o Título de Cidadão Baiano. A entrevista ao "Setaro's Blog" é a seguinte:
Tuna Espinheira - O documentário marca a gênese do cinema, seguindo, em todas as fases da saga da sétima arte produzindo obras primas. Mas, hoje, na Brasiléia Desvairada, confunde-se muito este gênero com reportagem e, pior ainda, com a reportagem, papel carbono da medusante "estética" da TV. Como você vê isto?
Silvio Tendler - Você tem razão. Desde os anos sessenta existe uma tendência em confundir cinema documentário e reportagem de TV. Com as novas tecnologias digitais o problema se acentua já que tecnologia e expressão narrativa se confundem.
TE - Fale sobre a sua preferência por temas políticos, sempre no bojo dos seus trabalhos...
ST - Santiago Alvarez se dizia um animal erótico-político. Acho que, de certa forma, sigo seu caminho. O erotismo e a política são minha razão de viver. Não acredito muito na política partidária. Acredito na militância através da expressão artística, dai meu cinema ser totalmente político.
TE - Os coveiros de plantão já anunciaram a morte da ideologia, você acredita que a bola da vez é a utopia?
ST - Estão matando a utopia pelo fastio, pelo excesso de ofertas de utopias. Hoje tudo é utopia, até comer um pedaço de pizza virou utopia. Confunde-se a palavra com desejo e consequentemente está havendo um esvaziamento do seu real significado de busca de uma sociedade perfeira com o que isso traz de bom e de ruim, de utopia e barbárie.
TE - Existe uma grande celeuma quando em festivais o documentário briga, em pé de igualdade, pelo prêmio de Melhor Filme. Vejo isto como um pré-conceito cultural, o que você diz?
ST - Você tem razão. Uma vez cheguei no Festival de Gramado já carimbado por um diretor que fazia parte do juri me explicando que eu ganharia o Especial do Juri (o festival nem tinha começado, estávamos no avião, rumo a...) já que os outros prêmios estavam reservados à ficção. O festival terminou e ganhei o... especial do Juri. Quando instituiu-se o Juri Popular virei um ganhador de Juri Popular porque o público não tem esse preconceito.
André Setaro - O documentário tomou, nas últimas décadas, um impulso extraordinário, e, creio, você foi um dos pioneiros com filmes como "Os Anos JK", "Jango", "O Mundo Mágico dos Trapalhões" etc. Seus documentários, além de obras palatáveis, conquistaram plateias. Com raras exceções, há um componente político muito forte em seus filmes ("Utopia e Barbárie", "Milton Santos..."). Mas, nos últimos anos, está em franca ascensão a onda dos documentários sobre músicos. O que acha do documentário como possibilidade de conquistar parte do mercado brasileiro?
ST - A música estabelece uma comunicação mais fácil e direta com o público. Há bons filmes com e sobre música e apelos fáceis de serem digeridos. Ao público cabe escolher. Para uma cinematografia ser boa e completa. a diversidade é fundamental.
AS - Até que ponto a realidade atual, violenta, supera a ficção?
ST - Totalmente. Que filme, que cineasta de ficção seria capaz de conceber o roteiro em que o candidato socialista com todas as chances de se eleger presidente da República da França terminaria na cadeia, nos Estados Unidos acusado de estupro? O máximo que o cinema americano consegue imaginar é um hipotético mundo futuro recheado de perigos e violências muito distante da genialidade de um Flash Gordon. Existe um filme com o Robert de Niro que é uma paródia do boquete do Bill Clinton no salão oral pela Monica Chupinski mas não é o imaginário que está em cena, trata-se de uma paródia.
AS - Existe uma estética para o documentário?
ST - Uma não, muitas. O documentário é tão autoral e inventivo quanto a ficção e ele parte da reconstrução da realidade a partir de imagens do real. Só não vale mentir, vale criar e imaginar. E cada autor , à semelhança da ficção, cria sua estética.
AS - Você está lançando um box com quatro baianos porretas. Poderia falar mais do que se trata?
ST - Sou o mais baiano dos cineastas brasileiros e exijo meu título de baiano honorário, soteropolitano por excelência. Nem Tuna Espinheira reuniu uma cinematografia com figuras como Glauber, Milton Santos, Castro Alves e Marighella. Precisa dizer mais? Estes quatro filmes estão reunidos num box primoroso editados com legendas em quatro linguas (inglês, francês, português e espanhol) e lançados juntos com o livro "Os Quatro Baianos Porretas" que publica os roteiros do filme.
AS - Sabe-se que a objetividade no cinema é relativa, pois a personalidade subjetiva do cineasta sempre interfere na realidade objetiva. Nos seus filmes, a querência da realidade é um fato, mas até que ponto se vê restrito pelo relativismo inerente ao próprio cinema?
ST - Total. Todo filme encerra uma narrativa subjetiva. Não podemos matar a magia do cinema e dizer que tudo é invenção mas por trás de todo filme existe um autor que narra sua versão da história e quem não concordar que faça outra melhor.

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