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quarta-feira, 1 de junho de 2011

"Como se tornar um jornalista influente"

Por Wanderlei Filho
Bastante preocupado em me preservar dos efeitos nocivos, que por desventura possam advir das opiniões que manifesto em meus artigos, um colega de profissão, com experiência em redações, faculdades e assessoria de imprensa a políticos, advertiu-me com um carinhoso alerta publicado numa rede social. Reproduzo trecho:
"Se você fizesse um jornalismo partidário mais discreto (sem bater sistematicamente nos adversários), certamente, conquistaria mais credibilidade e outros públicos além da tucanada frustada." Confesso que, a princípio, fiquei intrigado com o que seria esse "jornalismo partidário" em busca de "outros públicos". Até então, imaginava que fosse coisa para consumo interno de filiados, algo que, por definição, dispensaria "outros públicos", como acontece, por exemplo, com o jornalismo sindical.
Felizmente, um providencial exemplo me ajudou a compreender o real significado desse formato jornalístico. Li na imprensa (privada) que a TV Brasil, emissora controlada pelo Governo Federal, não engavetou matérias sobre o mais novo escândalo do ministro Antônio Palocci.
Bingo! Se não se devemos "bater sistematicamente nos adversários", é lógico que o contrário também vale em relação aos companheiros em apuros. É preciso aliviar a mão na hora de socorrer um correligionário. O resto é "denuncismo".
A jornalista Helena Chagas, que dá as cartas na TV Brasil, foi indicada para o cargo justamente por Antônio Palocci. Mas certamente ela agiu pensando em ganhar a confiança do público, que, ao perceber o constrangimento do ministro enrolado, poderia suspeitar que a jornalista fosse, sei lá, uma "tucana frustrada". Isso seria pior do que parecer uma petista aparelhando um órgão de comunicação sustentado com dinheiro público. O que importa, nessas horas, é "ser discreto".
Tudo bem que não dá para comparar artigos opinativos com omissão de matérias jornalísticas, mas o que vale é a essência da lição que aprendi com meu solidário crítico. Agora eu sei. Jornalismo partidário é uma técnica de propaganda subliminar que visa atingir grupos sem opinião formada. No meu caso, segundo captei, não devo falar mal em demasia do governo, alternando eventuais estocadas com críticas a quem não está no governo, tudo para parecer imparcial e assim "conquistar mais credibilidade e outros públicos".
Segundo captei, esse negócio de ser transparente, de assumir valores, não está com nada. Por sorte, posso contar com o aconselhamento de criaturas altruístas empenhadas em me corrigir o rumo.
* Wanderley Filho é jornalista e historiador. Publicado no jornal "O Estado".

Fonte: "Mídia Sem Máscara"

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