Por Reinaldo Azevedo
“Ah, também você vai ficar falando de futebol?”
Opa! Quase nunca escrevi sobre futebol. Ele é só um simbolismo, uma metáfora, um evento que reúne um feixe de paixões. E que acaba dizendo muito não exatamente do que somos, mas, se me permitem a brincadeira e certa gramática gauche, do que “estamos”. Negar que a política tente se apropriar - e se aproprie mesmo! - dessa “paixão nacional” é negar o óbvio. E isso não quer dizer que a gente não torça pela vitória da Seleção Brasileira porque. Somos todos parte dessa “cultura”. Se não amamos “esta seleção” - porque Dunga não deixa -, amamos a idéia de ter uma seleção para amar. Mas a apropriação do futebol pela política é um dado.
Lula estava pronto para se agarrar à taça; Dilma já havia anunciado sua ida à África do Sul. Ontem, diante da derrota, os dois resolveram enfiar a vuvuzela no saco. O presidente estava tão consternado que não compareceu ao velório. Resolveu falar por meio de seu chefe de gabinete. Recuperem a trajetória política do monstro tornado sagrado e vocês verão que ele não é exatamente um homem solidário.
Ontem, pus no ar um áudio em que, indagado se preferia a vitória da Seleção ou a vitória de Dilma, Lula fez sua escolha sem hesitação: a de Dilma. Os petralhas ficaram furiosos, como sempre. Gente boa também reclamou: “O que ele poderia responder?” Ora, o óbvio: “São coisas distintas; política e futebol não devem se misturar; eu quero os dois”. Com um pouco de requinte, poderia ter acrescentado: “A Seleção é de todos os brasileiros, e Dilma também quer governar para todo mundo”. O repertório de respostas possíveis é infinito.
Ocorre que Lula realmente entende que o partido está acima da sociedade e que as disputas que se dão na área política determinam todas as outras. E, por isso, ele não dá bola para o sentimento da torcida - a não ser nos momentos em que pode usá-la como bode exultório, assim como usa os adversários políticos como bodes expiatórios. Não venham, pois, me dizer que aquela resposta dada à rádio Jangadeiro, do Ceará, não é indecorosa, ainda que se possa questionar o gosto da pergunta.
Não, senhores! A “Escolha de Lula” não é uma “escolha de Sofia”, não esbarra em dilemas éticos, não o parte amorosamente ao meio, como na trágica situação narrada por Styron. Ele faz uma escolha desnecessária e descabida sem hesitação. E essa escolha revela sua visão de mundo e seu modo de fazer política.
Manipulações
O futebol virou território de outras disputas, de outras guerras. Os blogs subordinados ao petismo na Internet - alguns deles financiados por estatais ou por dinheiro público - e os militantes petistas nas chamadas “redes sociais” resolveram lançar o movimento “Um Dia Sem Globo” para se solidarizar com o técnico Zangado no seu suposto confronto com a emissora. Deu errado. A audiência cresceu em vez de cair. Mas eles bem que tentaram opor a Seleção e o Zangado aos “suspeitos de sempre”. No Twitter, José Eduardo Dutra, presidente do PT, não só lançou a Seleção do Mercosul como tentou acusar a oposição de estar feliz com a derrota do Brasil. Certamente não se lembrava daquela confissão do companheiro-chefe…
A adoção do Zangado como herói tinha muito de oportunismo, é evidente. Foi uma tentativa de manipulação da opinião pública. Zangado, no entanto, já andei escrevendo aqui, tem em comum com Lula o ódio à imprensa insubordinada. Ambos entendem a crítica como sabotagem; ambos se consideram - um deles já está indo pra casa, felizmente - portadores de uma sapiência bruta e verdadeira que não pode ser compreendida pelos fracos civilizados. E conquistaram o apoio da opinião pública. O técnico, é bem verdade, não é tão bom de marketing pessoal, e o desastre que produz pôde ser percebido com mais rapidez, embora não a tempo. As besteiras de Lula, como nunca antes na história destepaiz, têm um alcance verdadeiramente histórico. Não existe uma Copa do Mundo para revelá-las; só o tempo pode fazê-lo.
A exemplo de Lula, Zangado também se beneficiou da bonomia do jornalismo; no caso, o esportivo. A exemplo de Lula, Zangado foi protegido pela tese do “resultado, apesar dos meios empregados” - num caso, o futebol monstruoso; no outro, a transgressão à lei e a uma penca de códigos de conduta que compõem isso a que comumente chamamos ética. A exemplo de Lula, Zangado contava com nosso silêncio, aproveitando-se do nosso desejo de que as coisas dêem certo e do esforço para não sermos vistos como aqueles que torcem contra o país. E deu no que deu.
Nem a política nem o futebol ganham com o silêncio cúmplice da crítica. Os cidadãos e os torcedores sempre saem perdendo. Um deles já está indo para casa. Ufa!
Fonte "Blog do Reinaldo Azevedo"
Opa! Quase nunca escrevi sobre futebol. Ele é só um simbolismo, uma metáfora, um evento que reúne um feixe de paixões. E que acaba dizendo muito não exatamente do que somos, mas, se me permitem a brincadeira e certa gramática gauche, do que “estamos”. Negar que a política tente se apropriar - e se aproprie mesmo! - dessa “paixão nacional” é negar o óbvio. E isso não quer dizer que a gente não torça pela vitória da Seleção Brasileira porque. Somos todos parte dessa “cultura”. Se não amamos “esta seleção” - porque Dunga não deixa -, amamos a idéia de ter uma seleção para amar. Mas a apropriação do futebol pela política é um dado.
Lula estava pronto para se agarrar à taça; Dilma já havia anunciado sua ida à África do Sul. Ontem, diante da derrota, os dois resolveram enfiar a vuvuzela no saco. O presidente estava tão consternado que não compareceu ao velório. Resolveu falar por meio de seu chefe de gabinete. Recuperem a trajetória política do monstro tornado sagrado e vocês verão que ele não é exatamente um homem solidário.
Ontem, pus no ar um áudio em que, indagado se preferia a vitória da Seleção ou a vitória de Dilma, Lula fez sua escolha sem hesitação: a de Dilma. Os petralhas ficaram furiosos, como sempre. Gente boa também reclamou: “O que ele poderia responder?” Ora, o óbvio: “São coisas distintas; política e futebol não devem se misturar; eu quero os dois”. Com um pouco de requinte, poderia ter acrescentado: “A Seleção é de todos os brasileiros, e Dilma também quer governar para todo mundo”. O repertório de respostas possíveis é infinito.
Ocorre que Lula realmente entende que o partido está acima da sociedade e que as disputas que se dão na área política determinam todas as outras. E, por isso, ele não dá bola para o sentimento da torcida - a não ser nos momentos em que pode usá-la como bode exultório, assim como usa os adversários políticos como bodes expiatórios. Não venham, pois, me dizer que aquela resposta dada à rádio Jangadeiro, do Ceará, não é indecorosa, ainda que se possa questionar o gosto da pergunta.
Não, senhores! A “Escolha de Lula” não é uma “escolha de Sofia”, não esbarra em dilemas éticos, não o parte amorosamente ao meio, como na trágica situação narrada por Styron. Ele faz uma escolha desnecessária e descabida sem hesitação. E essa escolha revela sua visão de mundo e seu modo de fazer política.
Manipulações
O futebol virou território de outras disputas, de outras guerras. Os blogs subordinados ao petismo na Internet - alguns deles financiados por estatais ou por dinheiro público - e os militantes petistas nas chamadas “redes sociais” resolveram lançar o movimento “Um Dia Sem Globo” para se solidarizar com o técnico Zangado no seu suposto confronto com a emissora. Deu errado. A audiência cresceu em vez de cair. Mas eles bem que tentaram opor a Seleção e o Zangado aos “suspeitos de sempre”. No Twitter, José Eduardo Dutra, presidente do PT, não só lançou a Seleção do Mercosul como tentou acusar a oposição de estar feliz com a derrota do Brasil. Certamente não se lembrava daquela confissão do companheiro-chefe…
A adoção do Zangado como herói tinha muito de oportunismo, é evidente. Foi uma tentativa de manipulação da opinião pública. Zangado, no entanto, já andei escrevendo aqui, tem em comum com Lula o ódio à imprensa insubordinada. Ambos entendem a crítica como sabotagem; ambos se consideram - um deles já está indo pra casa, felizmente - portadores de uma sapiência bruta e verdadeira que não pode ser compreendida pelos fracos civilizados. E conquistaram o apoio da opinião pública. O técnico, é bem verdade, não é tão bom de marketing pessoal, e o desastre que produz pôde ser percebido com mais rapidez, embora não a tempo. As besteiras de Lula, como nunca antes na história destepaiz, têm um alcance verdadeiramente histórico. Não existe uma Copa do Mundo para revelá-las; só o tempo pode fazê-lo.
A exemplo de Lula, Zangado também se beneficiou da bonomia do jornalismo; no caso, o esportivo. A exemplo de Lula, Zangado foi protegido pela tese do “resultado, apesar dos meios empregados” - num caso, o futebol monstruoso; no outro, a transgressão à lei e a uma penca de códigos de conduta que compõem isso a que comumente chamamos ética. A exemplo de Lula, Zangado contava com nosso silêncio, aproveitando-se do nosso desejo de que as coisas dêem certo e do esforço para não sermos vistos como aqueles que torcem contra o país. E deu no que deu.
Nem a política nem o futebol ganham com o silêncio cúmplice da crítica. Os cidadãos e os torcedores sempre saem perdendo. Um deles já está indo para casa. Ufa!
Fonte "Blog do Reinaldo Azevedo"
2 comentários:
E Lula, como fez com os Sarneys e Severinos da vida, hoje passou a mão na cabeça de Dunga, o elogiou e deu-lhe crédito pelos "grandes trabalhos" realizados nas seleções do Brasil.
Acho que foi o bastante prá que brasileiros já insatisfeitos com esta mania do presidente de elogiar bandidos políticos acabarem de descartar Dunga de qualquer possibilidade futura dentro da seleção.
Seria bom que o Demais conseguisse este audio em que o Lula fala que prefere a vitoria de Dilma aa da seleçao e o colocasse para nos ouvirmos.
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