Da Redação MSM, em 9 de julho, transcrito do site "Mídia Sem Máscara" (midiasemmascara.org)
"Numa sociedade livre, você pode filmar o que quiser, mas sob pressão dos investidores; nas sociedades totalitárias, desde que você filme pela cartilha do regime, há dinheiro aos montes para ser gasto”.
Milos Forman
Milos Forman
Entre os sustentáculos que mantêm de pé o insolvente cinema brasileiro um, em especial, ganha destaque pelo espírito de cumplicidade. Refiro-me ao papel levado adiante pela mídia e suas editorias especializadas na cobertura dos assuntos ditos culturais - na imprensa, consagrados nas páginas do chamado “Segundo Caderno”. Basta olhar: no que se refere ao noticiário da área do cinema, dir-se-ia que tais espaços antes de tudo cumprem o canhestro papel de torcer e distorcer os fatos - o que soa como uma aberração, pois a função do jornalismo é informar.
Se o amigo tem alguma dúvida a respeito, leia a crítica de filme ou a entrevista de algum cineasta caboclo. Salvo quixotesca exceção, o comentário crítico ou a entrevista tresandam o mais deslavado puxa-saquismo, cujo tom de conivência pouco serve ao leitor, ao jornalismo e ao próprio cinema.
Desde logo, é preciso esclarecer que o jornalismo cultural é hoje peça de suma importância na engrenagem que movimenta a produção cinematográfica do país. Pelo seguinte: não tendo o cinema nacional uma platéia que o sustente como produto de lazer ou cultura; melhor ainda, não contando o filme caboclo com a adesão de um mercado capaz de manter suas piruetas formais ou o seu proselitismo “politicamente correto”, resta ao cineasta o aval dispensado pelos cadernos culturais, no qual se fia o burocrata para conceder as milionárias verbas despojadas do bolso do contribuinte. Quem desconhece a expressão “cineasta de prestígio”?
De fato, tendo pouco valor mercadológico, fica valendo no conjunto da produção, para fins de financiamento, a entrevista concedida pelo cineasta ao caderno cultural ou o aplauso do bonequinho ao filme em cartaz assentado pela crítica.
Com efeito, não fora o tratamento subserviente dispensado pela mídia aos tropeços fílmicos cometidos pelo já mítico Cacá Diegues, por exemplo, dificilmente ele encontraria abrigo para colocar em evidência, profissionalmente, a sua ostensiva falta de talento cinematográfico. Por isso, manobrando como ninguém os espaços concedidos pelos “companheiros” da mídia, Diegues, arauto da “vitimização” do cinema, não só sacrifica projeto atrás de projeto, como deita e rola em cima de uma retórica de ocasião, retorcendo conceitos, dados e fatos que circundam a vida do insolvente cinema nacional.
(A soma de tudo, que não é pouco, permite que CD, o “Sinhozinho do cinema”, se aposse anualmente de fortunas, doadas pelas estatais, para cometer filmes pretensiosos que só fazem desperdiçar o dinheiro público. Sua última “obra”, “O Maior Amor do Mundo”, orçado em R$ 10 milhões, não levou mais de 217 mil espectadores às salas - o que significa, além de consumado fracasso, uma demonstração sobeja da miséria moral em que vegeta a “cultura brasileira”).
Vamos aos fatos: em reportagem do Segundo Caderno de "O Globo" (02/07/2007), intitulada “Sufocado por Hollywood”, temos a perfeita amostra de como se processa o compadrio vergonhoso entre cineasta e mídia cultural, claro, com o objetivo de se criar um bode expiatório para justificar o fracasso da produção nacional. Em essência, a matéria diz que a soma de 41 filmes nativos lançados nos últimos seis meses não ultrapassou a casa dos 4,7 milhões de espectadores - número pífio que, vale lembrar, é derrubado por duas pornochanchadas produzidas nos anos de 1970: “Ainda Agarro Essa Vizinha” e “A Viúva Virgem” - cada uma com 2,5 milhões de ingressos vendidos.
Na reportagem, como não poderia deixar de ser, uma cineasta tupiniquim diz ao repórter que o seu filme foi prejudicado pelo lançamento do “Homem-Aranha 3”, o arrasa-quarteirão de Hollywood, recorde de público no Brasil e nos Estados Unidos. Como os demais membros da fauna, repetindo a decoreba que serve de álibi para a própria incompetência mercadológica, ela sugere que a presença predominante do filme estrangeiro (americano) é responsável pelo desempenho medíocre do seu filme.
Neste rondó de culpas, previamente entendido e afinadamente concertado, se estabelece entre cineastas e editorias culturais “engajadas” uma parceria fundada no engodo ideológico que visa, em primeiro lugar, a demonização de Hollywood (símbolo do capitalismo) e a necessária “conscientização” do público para a “transformação” da sociedade. A partir daí, desde o apelo à ampliação de cotas de exibição até o aumento de verbas para a produção de mais filmes “empenhados” (via bolso contribuinte) - o que vier é lucro.
O elo desta facciosa corrente se quebra, no entanto, quando os seus integrantes sonegam três pontos auto-evidentes: 1) Que o público não é imbecil e vai ao cinema para se divertir ou, no mínimo, usufruir a verdade criativa isenta de primarismos ideológicos; 2) que Hollywood foi (e é) a fábrica que consolidou no mundo, com filmes bem-feitos, o hábito de ir ao cinema - mesmo quando os irmãos Lumière afirmaram que o cinematógrafo jamais daria certo como diversão; 3) que não se desenvolve uma verdadeira indústria de cinema com leis impositivas para beneficiar corporações que não interagem com o gosto da platéia.
Mas as editorias culturais, empenhadas também na lavagem cerebral dos leitores, desprezam tais verdades. E os donos dos jornais, por sua vez, ignoram que as editorias culturais são mais importantes para a preservação da democracia do que os espaços destinados à política e à economia. Daí, permanecerem cegos para a propaganda enganosa que deixam correr solta.
(Talvez eles venham a se dar conta do fenômeno quando os leitores baterem às portas do Procon. Ou o Estado tomar tudo).
Se o amigo tem alguma dúvida a respeito, leia a crítica de filme ou a entrevista de algum cineasta caboclo. Salvo quixotesca exceção, o comentário crítico ou a entrevista tresandam o mais deslavado puxa-saquismo, cujo tom de conivência pouco serve ao leitor, ao jornalismo e ao próprio cinema.
Desde logo, é preciso esclarecer que o jornalismo cultural é hoje peça de suma importância na engrenagem que movimenta a produção cinematográfica do país. Pelo seguinte: não tendo o cinema nacional uma platéia que o sustente como produto de lazer ou cultura; melhor ainda, não contando o filme caboclo com a adesão de um mercado capaz de manter suas piruetas formais ou o seu proselitismo “politicamente correto”, resta ao cineasta o aval dispensado pelos cadernos culturais, no qual se fia o burocrata para conceder as milionárias verbas despojadas do bolso do contribuinte. Quem desconhece a expressão “cineasta de prestígio”?
De fato, tendo pouco valor mercadológico, fica valendo no conjunto da produção, para fins de financiamento, a entrevista concedida pelo cineasta ao caderno cultural ou o aplauso do bonequinho ao filme em cartaz assentado pela crítica.
Com efeito, não fora o tratamento subserviente dispensado pela mídia aos tropeços fílmicos cometidos pelo já mítico Cacá Diegues, por exemplo, dificilmente ele encontraria abrigo para colocar em evidência, profissionalmente, a sua ostensiva falta de talento cinematográfico. Por isso, manobrando como ninguém os espaços concedidos pelos “companheiros” da mídia, Diegues, arauto da “vitimização” do cinema, não só sacrifica projeto atrás de projeto, como deita e rola em cima de uma retórica de ocasião, retorcendo conceitos, dados e fatos que circundam a vida do insolvente cinema nacional.
(A soma de tudo, que não é pouco, permite que CD, o “Sinhozinho do cinema”, se aposse anualmente de fortunas, doadas pelas estatais, para cometer filmes pretensiosos que só fazem desperdiçar o dinheiro público. Sua última “obra”, “O Maior Amor do Mundo”, orçado em R$ 10 milhões, não levou mais de 217 mil espectadores às salas - o que significa, além de consumado fracasso, uma demonstração sobeja da miséria moral em que vegeta a “cultura brasileira”).
Vamos aos fatos: em reportagem do Segundo Caderno de "O Globo" (02/07/2007), intitulada “Sufocado por Hollywood”, temos a perfeita amostra de como se processa o compadrio vergonhoso entre cineasta e mídia cultural, claro, com o objetivo de se criar um bode expiatório para justificar o fracasso da produção nacional. Em essência, a matéria diz que a soma de 41 filmes nativos lançados nos últimos seis meses não ultrapassou a casa dos 4,7 milhões de espectadores - número pífio que, vale lembrar, é derrubado por duas pornochanchadas produzidas nos anos de 1970: “Ainda Agarro Essa Vizinha” e “A Viúva Virgem” - cada uma com 2,5 milhões de ingressos vendidos.
Na reportagem, como não poderia deixar de ser, uma cineasta tupiniquim diz ao repórter que o seu filme foi prejudicado pelo lançamento do “Homem-Aranha 3”, o arrasa-quarteirão de Hollywood, recorde de público no Brasil e nos Estados Unidos. Como os demais membros da fauna, repetindo a decoreba que serve de álibi para a própria incompetência mercadológica, ela sugere que a presença predominante do filme estrangeiro (americano) é responsável pelo desempenho medíocre do seu filme.
Neste rondó de culpas, previamente entendido e afinadamente concertado, se estabelece entre cineastas e editorias culturais “engajadas” uma parceria fundada no engodo ideológico que visa, em primeiro lugar, a demonização de Hollywood (símbolo do capitalismo) e a necessária “conscientização” do público para a “transformação” da sociedade. A partir daí, desde o apelo à ampliação de cotas de exibição até o aumento de verbas para a produção de mais filmes “empenhados” (via bolso contribuinte) - o que vier é lucro.
O elo desta facciosa corrente se quebra, no entanto, quando os seus integrantes sonegam três pontos auto-evidentes: 1) Que o público não é imbecil e vai ao cinema para se divertir ou, no mínimo, usufruir a verdade criativa isenta de primarismos ideológicos; 2) que Hollywood foi (e é) a fábrica que consolidou no mundo, com filmes bem-feitos, o hábito de ir ao cinema - mesmo quando os irmãos Lumière afirmaram que o cinematógrafo jamais daria certo como diversão; 3) que não se desenvolve uma verdadeira indústria de cinema com leis impositivas para beneficiar corporações que não interagem com o gosto da platéia.
Mas as editorias culturais, empenhadas também na lavagem cerebral dos leitores, desprezam tais verdades. E os donos dos jornais, por sua vez, ignoram que as editorias culturais são mais importantes para a preservação da democracia do que os espaços destinados à política e à economia. Daí, permanecerem cegos para a propaganda enganosa que deixam correr solta.
(Talvez eles venham a se dar conta do fenômeno quando os leitores baterem às portas do Procon. Ou o Estado tomar tudo).
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