Por Augusto Nunes
A arrogância do chefe da seita e a docilidade
do rebanho reafirmam que a mais notável diferença entre um Napoleão de hospício
e um líder político portador da síndrome de Deus está na reação das testemunhas
confrontadas com surtos de grosso calibre. Enquanto os enfermeiros providenciam
a camisa-de-força e um sossega-leão, os devotos batem palmas e berram amém. A
história informa que foi sempre assim. Assim tem sido com Lula e seus
seguidores.
Depois da vitória de Dilma Rousseff em 2010,
o maior dos governantes desde Tomé de Souza botou na cabeça que é mesmo
onipresente, onisciente e onipotente. Quem transforma um neurônio solitário em
presidente do Brasil pode fazer o que quiser, deduziu o mestre e concordaram os
discípulos. Poderia, por exemplo, tornar-se o primeiro secretário-geral da ONU
que não sabe falar sequer a língua do país onde nasceu. Ou ganhar o Prêmio
Nobel da Paz com o apoio militante dos aiatolás atômicos e dos genocidas
africanos.
Mas primeiro deveria livrar São Paulo do jugo
dos tucanos, decidiu o intuitivo incomparável ao deixar a Presidência. Para
pavimentar o caminho que levaria Antonio Palocci ao Palácio dos Bandeirantes,
ordenou à sucessora que garantisse ao estuprador de sigilo bancário uma escala
na Casa Civil. O plano infalível não durou seis meses. A descoberta do milagre
da multiplicação do patrimônio escancarou as patifarias do consultor de araque,
o reincidente acabou despejado do Planalto e hoje usa o direito de ir e vir
para driblar camburões na planície.
O fiasco aconselhou o articulador genial a
esquecer por uns tempos o governo paulista, mas não lhe reduziu a
autoconfiança, nem a ansiedade pela anexação do território paulista aos seus
domínios. Convencido de que quem elegeu um poste de terninho nem precisa suar
em palanques para eleger um poste com topete, comunicou ao PT que o prefeito de
São Paulo seria Fernando Haddad. Ele cuidaria pessoalmente de domar os
recalcitrantes, silenciar os descontentes, alegrar os amuados, renovar o
contrato com a base alugada e, de quebra, consolidar uma surpreendente parceria
com o PSD de Gilberto Kassab.
Deu tudo errado. Prematuramente aposentada
pelo dono do partido, Marta Suplicy continua fora da campanha de Haddad. O PMDB
lançou a candidatura de Gabriel Chalita. O PR e o PP avisaram que o acerto
nacional não se estende aos municípios e se juntaram à coligação liderada pelo
PSDB de José Serra. Kassab fechou exemplarmente a procissão de adversidades.
Antes de reatar o noivado com Serra, apareceu numa festa do PT como convidado
de honra e caprichou na piscadela para Dilma Rousseff. O SuperMacunaíma que
passa a perna em todo mundo foi ostensivamente tapeado por Gilberto Kassab.
Lula achou que decidiria a disputa em São
Paulo com meia dúzia de comícios. Neste junho, enquanto tenta submeter os
interesses do PT à vontade do governador pernambucano Eduardo Campos, para
celebrar um acordo com o PSB que amplie o espaço de Haddad no horário
eleitoral, o campeão das urnas anda pedindo votos para o afilhado até em festa
de batizado. Mergulhados na mudez dos nascidos para obedecer, os devotos
contabilizam sem queixas os estragos causados por outros dois surtos do homem
que mesmo depois do câncer insiste em confundir-se com Deus.
Um deles resultou na primeira CPI da história
parida pelo próprio governo. Concebida para decretar a morte política de
inimigos goianos, a CPI da Vingança também atrairia atenções até então
monopolizadas pelo julgamento dos mensaleiros. Mais um fiasco. Sem a CPI do
Cachoeira, Demóstenes Torres e Marconi Perillo dificilmente sobreviveriam às
bandalheiras reveladas pela Polícia Federal. Graças ao que se transformou na
CPI da Delta, ambos deverão afundar abraçados a Sérgio Cabral, a Agnelo Queiroz
e ao resto do bando enlaçado pelo polvo administrado por Fernando Cavendish. O
segundo surto fez Lula acreditar que quem nomeia oito ministros vira presidente
de honra do Supremo Tribunal Federal, com direito a antecipar ou adiar
julgamentos e, em casos de alta periculosidade, fixar o resultado da votação.
Para não atrapalhar a campanha do PT,
entendeu que o julgamento do mensalão deveria ocorrer só em 2013. Ordenou ao
revisor Ricardo Lewandowski que retardasse a conclusão do relatório. Ordenou a
Dias Toffoli que ignorasse os muitos motivos para declarar-se sob suspeição e
votasse a favor dos culpados. Já começava a comemorar o sucesso da sequência de
achaques quando o país ficou sabendo do que houve no desastroso encontro com
Gilmar Mendes. Graças ao lobista trapalhão, o STF recuperou a agilidade.
Lewandowski foi informado de que precisa terminar o serviço ainda neste mês. O
julgamento vai começar em 1° de agosto. Até o fim de setembro, uma cadeia
nacional de rádio e TV transmitirá ao vivo esse Big Brother Brasil da Bandidagem.
Lula merecia ser convidado para apresentá-lo.
Em 2010, colérico com as críticas formuladas
por Fernando Henrique Cardoso, o cacique incapaz de aceitar o convívio dos
contrários avisou que, assim que deixasse o cargo, ensinaria ao antecessor como
deve comportar-se um ex-presidente da República. De lá para cá, FHC manteve a
postura digna de sempre. Lula está cada vez mais parecido com José Sarney e
Fernando Collor.
Fonte:
"Direto ao Ponto"
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