Por Neil
entregando a carteira Ferreira, publicado no Diário do Comércio
da Associação Comercial de São Paulo
Antes-Scriptum: Minha admiração a
Bento XVI pela decisão que tomou de tirar o peso do catolicismo das suas
costas; descanse em paz enquanto estiver vivo.
"Ô mané, passa o carro, a cartera, o
relógio e o celular!" Não sei se já falei, continuamos perdendo a guerra embora
resistindo heroicamente. Sabem na prática a teoria do Livrinho Vermelho de Mao,
afanada do Lao Tsé: "A Grande Marcha começa com o primeiro passo".
Deram o milionésimo primeiro passo, invadiram
nosso jardim, pisaram nossas flores, chutaram nosso cachorro, aboletaram-se no
sofá da nossa sala. Distribuem a nossa "renda" para os bolsos deles.
Conhecem as artes da guerra, alguém leu Sun
Tzu pra eles. São peritos na estratégia desenvolvida pelo Engenheiro Brizola, a
de "Esse angu come-se pelas beiradas", somada à tática da guerra de desgaste,
bate-e-corre mata-e-foge, inspirada no general romano que venceu os elefantes
de Anibal . Praticam a guerrilha leve e veloz, que nos mantém em estado de
sítio e medo permanentes.
O delinquente dimenor que assassinou um
adolescente na Bolívia com o disparo de um sinalizador, matou-e-fugiu. A mídia
passa-lhe a mão na cabeça, chama-o de "menino" e "garoto", um bitelão que se
aparecer na minha frente fujo a 200 por hora.
A "Guerra Relâmpago" dos nazistas era papo
furado, levou quase quatro horas inteiras para tomar a Polônia e a eternidade
de um mês para derrotar a França e ocupar Paris.
Na velocidade em que nem percebemos os
relâmpagos, fomos cercados, ocupados, capitulamos. Pagamos pedágio pra circular
em algumas regiões; em outras, obedecemos bovinamente ao toque de recolher.
Não dá pra ir à padaria da esquina sem correr
o risco de ter seu pão expropriado, ao primeiro pé que coloca na calçada. Pode
ser fome, você tem dó e se conforma; pode não ser, aí morre-se de susto e medo.
Você se apavora com o maninho que vem na sua
direção, armado com aquela garrafa com água imunda para "limpar" o vidro do seu
carro. Você acha que ele quer é te limpar. (Quer).
Até o meu bairro em São Paulo, a Granja
Viana, com fama de sossegado, virou alvo de ataques, primeiro os da Infantaria
deles. Infantaria porque são a vanguarda; Infantaria porque são infantes mesmo,
são dimenor.
Vi a polícia prender dois moleques que
roubavam uma moto. Apanhados, não apanharam mas um atirou-se ao chão gritando
"Sô dimenor para di mi batê".
Ninguém estava "mi bateno" nele. Mas alguém
já tinha lhe ensinado o ato a ser interpretado, numa atuação digna de um Daniel
Day-Lewis.
As caixas eletrônicas do Itaú e do Bradesco,
no centrinho da Granja, foram explodidas duas vezes cada; os bancos largaram
mão desse serviço. Um supermercado sofreu uma ação violenta no estacionamento,
com sequestro relâmpago de um dos clientes.
Minha filha sofreu um
desses sequestros que de relâmpago não teve nada; na cabecinha dela durou
horas, dias, semanas, meses, anos a fio, não acabava nunca. Graças a Deus,
Jeovah e Alah U Akbar, de plantão naquele momento crucial, escapou viva e ilesa.
Não foi em nenhuma dessas periferias que a
classe média só vê em reportagens da Globo, quando tem enchente, desabamento,
incêndio, crime hediondo ou chacina. Foi no bairro de Pinheiros, repleto de
lojas e restaurantes de alta classe. O porta-malas do seu Golzinho foi estourado
no estacionamento da USP.
No front da Paulista, da praça Oswaldo Cruz à
Brigadeiro; da Brigadeiro ao Trianon em frente ao Masp; do Conjunto Nacional à
Consolação, não tem escapatória - você já foi, será ou está sendo assaltado.
Dá a impressão de que São Paulo é o pior
lugar do mundo para se viver, não é; e que há mais violência do que na Síria,
não há.
Há menos mortes violentas por cem mil
habitantes do que em qualquer outro Estado do "país dos mais de 80%". Ninguém
quer negar que haja violência nem sua escalada. Mas a segurança, ainda que
precária, é mais segura do que em todos os outros Estados. Mesmo assim, não
aceitamos a que temos; tememos e cobramos.
Vivemos sob o signo do "pelo menos"; se "pelo
menos" você chega vivo em casa, ainda que agnóstico, faz uma prece ao Deus de
serviço.
Já quase esquecemos de que uma agência do
Itaú foi assaltada, numa ação cinematográfica, jamais deslindada. Cem cofres
particulares foram arrombados. A VEJA falou que só em jóias levaram Cem Milhões
de Pilas, sem contar os dólares capturados na maior moleza.
Adesivos como "Fui assaltado na Brasil com
Rebouças" ou "Fui assaltado no Morumbi" ou "Fui pego num arrastão na Vila
Madalena", seriam sucessos de vendas.
Não quero tapar o sol com a peneira, fingindo
que não há o que há. Mas, "pelo menos" estamos vivos. (Ainda).
Poste-Scriptum: Não dava pra me
calar ao ver a grosseria com que Lula se dirigiu a FHC.
Seus áulicos e puxa-sacos deveriam
ensinar a ele que ignorância dá enfarte e se somada à inveja e à cafajestagem,
é fulminante.
Agora, fui também ignorante e
cafajeste, mas não tanto quanto queria e poderia.
Por que no te calas, Lula !
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