Editorial
Os escândalos do mensalão e da máfia dos
pareceres, formada, segundo investigações da PF, sob a influência traficada
pela chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, podem ser entendidos de
várias maneiras.
Na aparência, de naturezas diferentes, os
casos marcam um dos momentos de maior degradação ética da vida pública
nacional.
Um, o mensalão, transcorreu no submundo da
política e seguiu um enredo digno de ficção política, com operações engenhosas
de lavagem de dinheiro público, para sustentar um projeto de poder do grupo
hegemônico no PT.
O outro, em que aparece como protagonista
Rosemary Noronha, próxima a Lula desde os tempos do sindicalismo no ABC, coloca
à vista de todos um dos aspectos mais daninhos deste projeto de poder, a
possibilidade do uso delinquente do Estado, para fins de enriquecimento pessoal
privado. Roubo.
Os chefes do mensalão podiam estar
pensando na "causa", enquanto Rose, os irmãos Vieira (Paulo e Rubens) e os demais
do esquema de corrupção montado em agências reguladoras visavam exclusivamente
a se "dar bem".
Os dois núcleos cometem crimes graves. O
dos mensaleiros já tem penas definidas. Aguarda-se a vez de a turma da venda de
pareceres comparecer ao tribunal.
Este grupo se aproveitou do projeto
autoritário de controle do Estado por uma facção petista. Cassar a
independência das agências reguladoras, decidir aparelhá-las com apaniguados,
fazer o mesmo na administração direta e empresas estatais é tudo de que necessitam
esquemas como o de Rosemary e irmãos Vieira para também assaltar os cofres
públicos.
Eles são arrombados para literalmente
comprar boa parte da base parlamentar do governo Lula e também para realizar
sonhos de consumo da poderosa secretária Rose - cirurgia plástica, cruzeiro
marítimo com dupla sertaneja...
A enorme capacidade de gastar dinheiro do
Erário demonstrada por Rose é até mesmo comentada em e-mail de Paulo Vieira,
infiltrado por ela, com a ajuda do Planalto, na agência de águas.
Esclarecedora do caráter e implicação de
todos estes escândalos é a pressão de Rosemary para seus protegidos destinarem
obras públicas à New Talent, construtora ligada ao marido, João Batista de
Oliveira.
Revela a PF que Paulo Vieira e o irmão
Rubens, escalado para agir na agência de aviação civil, tentavam conseguir
contratos para a New Talent nos aeroportos de Viracopos e Guarulhos.
Eis uma das razões da enorme resistência a
privatizações em geral e contra a retirada da Infraero, em especial, da
administração de aeroportos. Em terminais concedidos a grupos privados, o
marido de Rose terá grandes dificuldades de faturar algum projeto.
Bem como, sem estatais, haveria
dificuldades na aplicação da fórmula de Marcos Valério de desviar dinheiro
público por meio de contratos de publicidade fajutos (foi assim no Banco do
Brasil/Visanet).
Mensaleiros e traficantes de pareceres se
beneficiaram do mesmo projeto de um "Estado forte".
Fonte: "O Globo"
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