Por Ivan de Carvalho
Sobre as eleições deste ano para a sucessão municipal em
Salvador, vale voltar ao assunto para assinalar, com alguns novos matizes,
certos aspectos:
1. O democrata ACM Neto lançou a candidatura e, apesar dos
panos quentes subsequentes, o fez após uma avaliação de conjuntura que o levou
a conclusão quase certamente definitiva. E deverá ter o apoio do PSDB, por
causa de considerações de aliança de âmbito nacional entre os dois principais
partidos de oposição.
E, mais especificamente, porque em São Paulo o candidato
tucano José Serra precisa do tempo de TV e rádio que o Democratas pode lhe dar e esta
legenda quer uma contrapartida, o apoio tucano em Salvador, a disputa municipal
prioritária para o DEM este ano em todo o país. Para fechar o ciclo: o PSDB tem
um bom pré-candidato, o deputado, ex-governador e ex-prefeito Antonio
Imbassahy. Mas quem tem o controle na seção estadual do partido é o deputado
Jutahy Júnior, aliado inseparável de José Serra.
Em, síntese: o PSDB vai coligar com o Democratas, apoiando
ACM Neto. A Imbassahy será dado o melhor tratamento possível dentro do cenário
descrito. Possibilidade de mudança: a hoje impensável decisão de ACM Neto de
não concorrer e apoiar Imbassahy ou Kertész.
2. O ponto seguinte é como fica o PMDB. Vai ficar complicado.
Porque, sendo da base do Governo Federal, tendo o vice-presidente da República
e estando com o seu principal líder na Bahia, o ex-ministro Geddel Vieira Lima,
participando da administração federal, tem praticamente bloqueada a
possibilidade de apoiar um candidato do Democratas ou do PSDB na maior capital
do país.
Poderia lançar candidato próprio, sem problemas, mas para
receber o apoio do Democratas e, por gravidade talvez, do PSDB, teria de se
comprometer desde já a apoiar ACM Neto para governador em 2014. Aí o PT pularia
na garganta de Geddel e de Temer.
3. PMDB com candidato próprio sem apoio do Democratas e do PSDB
depende de uma solitária decisão de Mário Kertész. Ele seria entusiasmadamente
candidato de uma coalizão das oposições ao governo estadual (PMDB, Democratas, PSDB,
talvez PR).
Mas sair sozinho é outro departamento, é bem possível que não
se disponha. O PMDB teria Alan Sanches, bom desempenho como vereador, presidente
da Câmara Municipal, hoje deputado estadual eleito com bela votação - teria, se
ele não houvesse migrado para o PSD de Otto Alencar. Sem Kertész, sem ninguém,
o PMDB teria somente um capital a oferecer: o tempo amplo na TV e rádio para a
propaganda eleitoral. PMDB como apoiador, numa aliança envolvendo Alice
Portugal (PC do B) e talvez puxando, com auxílio dos estímulos do governador de
Pernambuco, Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, a ex-prefeita Lídice da
Mata.
4. O candidato petista, Nelson Pelegrino, disse ontem que "tá
todo mundo atrás" da adesão do prefeito João Henrique. Certamente projetou nos
outros aspirantes à Prefeitura uma atitude sua e do PT. De ACM Neto, também,
mas aí para o segundo turno. Não de Imbassahy, nem de Kertész, nem de Alice,
nem de Lídice.
5. O prefeito João Henrique está na dele. Bom ter outro João,
o Leão, candidato de seu atual partido, o PP. Isso garante ao prefeito tempo no
rádio e TV para defender sua administração, mostrar suas obras. E quanto a João
Leão, nada tem a perder, só a ganhar, mesmo perdendo.
Fonte: "Tribuna da Bahia"
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