Editorial
A presidente Dilma não demorou a agir diante de evidências de "malfeitos" e tratou de se desfazer de quatro ministros - sem incluir Palocci, caso de autoimolação.
Foi assim que Alfredo Nascimento (PR), Pedro Novais (PMDB), Wagner Rossi (PMDB) e Orlando Silva (PCdoB) saíram das pastas de Transportes, Turismo, Agricultura e Esporte, numa reforma ministerial antecipada.
Surgiu, de forma quase instantânea, a imagem da "faxineira ética". A presidente começou a crescer em popularidade nas classes médias do Sul e Sudeste, trincheira da oposição, e a faceta de intolerância com a corrupção chegou à imprensa estrangeira.
Mas surgiu Carlos Lupi (PDT), ministro do Trabalho, para colocar sob suspeição as convicções presidenciais.
Não bastasse a demora em afastar um ministro que mentira a ela e ao Congresso, no caso da utilização indevida de um avião de empresário com interesses no ministério, e ainda ser ele alvo de várias denúncias consistentes sob investigação de órgãos públicos, a presidente decidiu manter Lupi e desconsiderar a indicação da Comissão de Ética Pública da Presidência para a demissão dele.
Dilma, antes de embarcar ontem para visita à Venezuela, pediu mais informações à comissão. Porém, o mal à imagem do governo já estava feito. Mesmo que, ao voltar de Caracas, a presidente afaste Lupi, ficará registrado o momento em que Dilma aceitou manter um ministro em decomposição e desautorizar a Comissão de Ética.
Deu razão ao comentário de Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), da Força Sindical, muito próximo de Lupi na administração clientelista do ministério: "Não sei para que existe esta Comissão de Ética." Faz sentido.
Se tudo continuar da mesma maneira, será a segunda vitória de Lupi sobre a comissão, que, a julgar pela primeira reação de Dilma, deveria ser extinta. Ao assumir em 2007, Lupi quis acumular o cargo com a presidência do PDT. Para a comissão, postos inconciliáveis, conclusão indiscutível. Lupi resistiu.
Lula se omitiu e, assim, apoiou o aliado. Só muito depois, o ministro saiu da presidência do partido, mas apenas pro forma, pois continuou a dirigi-lo do gabinete ministerial.
Depois, começaram a surgir histórias de ONGs usadas para transferir dinheiro público para filiados do PDT, o mesmo modelo de falcatrua adotado nos ministérios do Turismo e do Esporte, sob o comando do PMDB e do PCdoB, antes da intervenção de Dilma.
Investigação da Controladoria-Geral da União (CGU) identificou evidências de fraudes em 26 ONGs beneficiadas por Lupi.
A comissão lhe encaminhou perguntas sobre convênios suspeitos feitos pelo ministério com ONGs. A resposta de Lupi foi "inconveniente e insatisfatória", e por isso a comissão recomendou a exoneração do ministro.
Casos desabonadores em torno de Lupi vão além. Há de acusações de cobrança de propina por funcionários do ministério para interessados em fundar sindicatos - negócio promissor na banda podre da vida sindical — a denúncias não desmentidas de acumulação ilegal de cargo de assessor na Câmara e na Assembleia Legislativa fluminense.
A presidente pode achar demasiada a sucessão de afastamentos de ministros, preocupada com a base parlamentar. Se for isso, parou a "faxina" na pessoa errada. O ônus superará o bônus.
Pode, ainda, ter sido convencida que a "mídia" quer induzi-la a demissões. Engano. A não ser que tudo o que tem sido publicado seja uma farsa. E, por óbvio, não é.
Fonte: Jornal "O Globo"
A presidente Dilma não demorou a agir diante de evidências de "malfeitos" e tratou de se desfazer de quatro ministros - sem incluir Palocci, caso de autoimolação.
Foi assim que Alfredo Nascimento (PR), Pedro Novais (PMDB), Wagner Rossi (PMDB) e Orlando Silva (PCdoB) saíram das pastas de Transportes, Turismo, Agricultura e Esporte, numa reforma ministerial antecipada.
Surgiu, de forma quase instantânea, a imagem da "faxineira ética". A presidente começou a crescer em popularidade nas classes médias do Sul e Sudeste, trincheira da oposição, e a faceta de intolerância com a corrupção chegou à imprensa estrangeira.
Mas surgiu Carlos Lupi (PDT), ministro do Trabalho, para colocar sob suspeição as convicções presidenciais.
Não bastasse a demora em afastar um ministro que mentira a ela e ao Congresso, no caso da utilização indevida de um avião de empresário com interesses no ministério, e ainda ser ele alvo de várias denúncias consistentes sob investigação de órgãos públicos, a presidente decidiu manter Lupi e desconsiderar a indicação da Comissão de Ética Pública da Presidência para a demissão dele.
Dilma, antes de embarcar ontem para visita à Venezuela, pediu mais informações à comissão. Porém, o mal à imagem do governo já estava feito. Mesmo que, ao voltar de Caracas, a presidente afaste Lupi, ficará registrado o momento em que Dilma aceitou manter um ministro em decomposição e desautorizar a Comissão de Ética.
Deu razão ao comentário de Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), da Força Sindical, muito próximo de Lupi na administração clientelista do ministério: "Não sei para que existe esta Comissão de Ética." Faz sentido.
Se tudo continuar da mesma maneira, será a segunda vitória de Lupi sobre a comissão, que, a julgar pela primeira reação de Dilma, deveria ser extinta. Ao assumir em 2007, Lupi quis acumular o cargo com a presidência do PDT. Para a comissão, postos inconciliáveis, conclusão indiscutível. Lupi resistiu.
Lula se omitiu e, assim, apoiou o aliado. Só muito depois, o ministro saiu da presidência do partido, mas apenas pro forma, pois continuou a dirigi-lo do gabinete ministerial.
Depois, começaram a surgir histórias de ONGs usadas para transferir dinheiro público para filiados do PDT, o mesmo modelo de falcatrua adotado nos ministérios do Turismo e do Esporte, sob o comando do PMDB e do PCdoB, antes da intervenção de Dilma.
Investigação da Controladoria-Geral da União (CGU) identificou evidências de fraudes em 26 ONGs beneficiadas por Lupi.
A comissão lhe encaminhou perguntas sobre convênios suspeitos feitos pelo ministério com ONGs. A resposta de Lupi foi "inconveniente e insatisfatória", e por isso a comissão recomendou a exoneração do ministro.
Casos desabonadores em torno de Lupi vão além. Há de acusações de cobrança de propina por funcionários do ministério para interessados em fundar sindicatos - negócio promissor na banda podre da vida sindical — a denúncias não desmentidas de acumulação ilegal de cargo de assessor na Câmara e na Assembleia Legislativa fluminense.
A presidente pode achar demasiada a sucessão de afastamentos de ministros, preocupada com a base parlamentar. Se for isso, parou a "faxina" na pessoa errada. O ônus superará o bônus.
Pode, ainda, ter sido convencida que a "mídia" quer induzi-la a demissões. Engano. A não ser que tudo o que tem sido publicado seja uma farsa. E, por óbvio, não é.
Fonte: Jornal "O Globo"
Um comentário:
Seria justo, se algum parlamentar "ficha suja" sugerissem acabar com êsse negócio de "ficha limpa". Se depender de quem seja o ficha suja, libera prá todos, então!
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