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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

A aula mais extensa da história de "O Pequeno Príncipe"

Por Sarah Roberta Carneiro
Para além das minhas palavras, a energia deste encontro. E, antes do depoimento de cada um, que em algum momento tomado pela emoção aqui vai se pronunciar; eis que há o sentimento, a admiração sincera e o caloroso aplauso oferecido ao Centro Educacional “O Pequeno Príncipe”. Ah, e é bom deixar dito que este é um aplauso que parte não somente das nossas mãos, que tanto escrevemos sendo alunos desta escola, mas também das mãos dos nossos pais, tios, padrinhos, avós, vizinhos e até dos nossos amigos que não estudaram no PP, pois incrivelmente quem estudou e mesmo quem não estudou neste grandioso colégio não têm dúvida: "OPequeno Príncipe" é um gigante da boa formação.
Se nossas mãos batem palmas para este gigante, nossos pés nos trouxeram para cá nesta manhã de dezembro, e assim anunciamos: "O Pequeno Príncipe" ocupa lugar especialíssimo em nossas vidas. E mais: se antes da finalização de todos os trabalhos aqui realizados, nos dispomos a compor este inesquecível acontecimento, fazermos esta bela celebração, estamos então comprovando, com imensa força e para sempre, o que é impossível negar: o Centro Educacional "O Pequeno Príncipe" deixa marcas indeléveis na vida de quem nele estudou, trabalhou, educou, viveu.
Sabemos: o PP é especialista em deixar registros na pele, é mestre em ficar na memória, morando nela com um sabor inigualável de saudade. E, se para além das palavras que fui convidada a dizer, verificamos o sentimento de todos nós que aqui estamos, digo-lhes: não só muito antes deste momento, mas depois e muito depois dele, porque serão para o resto de nossas vidas, estão e estarão o nosso abraço afetuoso, o nosso aperto de mão único e nosso beijo de imenso agradecimento na face de Tia Aurora e de Tio Florentino, por terem construído, com a ajuda de um sem número de competentes profissionais, esta poderosa escola, com a qual firmamos laços tão fortes, que ao sabermos do seu fechamento, não permitimos que ela se encerrasse silenciosamente.
Que o PP sabe ficar na memória é uma certeza partilhada por todos, tanto pelos pais, que confiaram na direção desta escola e matricularam seus filhos, quanto pelos profissionais que atuaram em suas instalações, desde os que se relacionam com os serviços gerais aos professores, cujas aulas necessariamente têm exatos 50 minutos, pois no Centro Educacional "O Pequeno Príncipe" não se cultiva a finalização antecipada da aula; a sirene precisa tocar, anunciar que a atividade foi concluída, para que a turma saia educadamente de dentro da sala.
E eis que hoje esta escola vive a sua última aula, talvez a aula mais extensa da sua história, e nela queremos passar em revisão muitas das nossas vivências. Afinal, são 43 anos de vida, de suor derramado, de cadernetas preenchidas, planos de aula, merenda, linguagem infantil, com os pequenos, termos jovens, com os mais crescidos; sapiência para não deixar vendedores de doce ficarem no passeio da escola, pois há de se evitar dispersão. São 43 anos reunindo em torno de si os melhores significados que um espaço educacional pode abarcar: troca, partilha, semente, adubo, plantio, semeadura, colheita, seriedade, compromisso. Sim, são inúmeras as boas palavras que nos chegam, quando o nome Centro Educacional "O Pequeno Príncipe" é pronunciado mundo afora.
Quem teve a chance de passar por esta escola pôde experimentar de forma irrepetível o sentido profundo da educação, e mais: quem aqui estudou aprendeu acessar, em dose bastante acertada, o significado e a importância da palavra disciplina, esta dimensão tão necessária aos que fazem da vida uma caminhada de buscas e sabem que para alcançarem seus espaços e realizarem seus sonhos precisam se doar ao projeto de fazê-los. Afinal, muito cedo aprendemos a seguinte lição: n"O Pequeno Príncipe", professor não reprova aluno, este é que se aprova ou se reprova, a partir do seu empenho. Conclusão: na vida, colhemos o que plantamos, e este é um aprendizado, que uma vez apreendido com a própria carne, tem um valor inestimável.
E ao mesmo tempo em que carregamos este valor tão caro ao nosso amadurecimento, posso falar também em muitos outros valores disseminados nas salas e nos corredores desta escola. Ouçam esta pequena lista do que aqui colhemos: amizade construída, uso acertado do dicionário, respeito aos mais velhos, atenção cuidadosa na hora de fazer uma prova ou um teste, pois devemos nos concentrar em seus enunciados e buscar respondê-los com total atenção; conjugação correta dos verbos, aprendizado cuidadoso das operações matemáticas, poderosas narrativas promovidas pela história das Américas, o dever do boletim bem apresentável, o diário de classe que merecia ser bem preenchido.
O sentido das noções cívicas, a obrigação do cabeçalho nos cadernos, a indicação de que não se inicia uma carta com a saudação de "bom dia" ou "boa tarde", pois não se sabe a que hora seu destinatário vai lê-la, o imperativo de que a educação física não é algo figurativo, os bons efeitos da consciência desportiva, o amor à Língua Portuguesa, a necessidade de observarmos as datas históricas, o sabor dos jograis, o respeito à farda usada, seja ela uma calça marrom e uma blusa bege ou a farda mais atual; o zelo com a limpeza da sala, com os materiais pessoais, com as carteiras, as mesas dos professores, os ventiladores, enfim, são muitas as lições que nós, que aqui crescemos, que aqui aprendemos a ler e a escrever, que aqui recebemos régua e compasso, levamos conosco permanentemente. É muito saboroso ter começado aqui a caminhada que, por exemplo, me transformou em jornalista. É uma delícia ter aqui o meu alicerce.
E é bonito ver que toda esta história de boa e rica colheita estará mantida em nossa memória, que esta história não corre o risco de se desfazer nas mãos de quem, por ventura, viesse a dar prosseguimento à sua existência, após a saída de Tia Autora e Tio Florentino, que são, sem dúvida, junto com toda equipe de coordenadores, professores e funcionários desta escola, os principais responsáveis pela síntese de disciplina, inteligência e respeito que aqui se concentra.
Sim, admiramos a decisão pelo fechamento do ciclo, quando o ciclo apontou seus sinais de cansaço. Sim, há admiração pelo encerramento do ciclo, com o ciclo ainda vivo, visto que este gesto revela sabedoria. Por quê? Porque é bonito ver que, nestes tempos em que se nota uma educação altamente privatizada, que, por exemplo, na ambiência das faculdades particulares, verifica-se até a venda de alunos, a compra de cursos, de vagas etc., esta escola não se rendeu ao capital, não se aventurou a uma continuidade pela continuidade; deixou, sim, sua essência falar mais alto, mesmo num período em que a aparência parece encher mais os olhos.
A cidade de Feira de Santana registra, hoje, um ato corajoso: os proprietários do Centro Educacional "O Pequeno Príncipe" optam por deixarem a imagem e o significado do PP vivíssimos em cada um de nós. É verdade que se esta escola fosse posta à venda atrairia rapidamente diferentes compradores interessados em seu patrimônio, mas, companheiros de viagem escolar, o caminho da negociação rápida, vazia e mediada pelas cifras não foi o escolhido pelos que permitiram o abençoado nascimento do Centro Educacional "O Pequeno Príncipe". A causa aqui é a educação e, não, o lucro. E isso é bastante raro.
Não é nada fácil deixar para outros o desafio de continuar uma escola, que como nenhuma outra, sabe localizar na vida dos seus alunos o inestimável valor da regra, ao passo que, de um modo geral, a maioria dos contextos sociais parece requerer o não respeito à regra. E se os que aqui passaram são, hoje, professores, engenheiros, médicos, jornalistas, fisioterapeutas, psicólogos, arquitetos e tantos outros profissionais, onde quer que estejamos, estamos fazendo valer esta lição, e, se é dito que conhecimento é um dos poucos bens que ninguém toma do outro, aqui estamos confirmando mais uma vez esta máxima.
Afinal, em nossos corações, em nossos gestos e em nossos atos, o conhecimento construído a partir das experiências vividas no Centro Educacional "O Pequeno Príncipe" não morre, não para, não cessa. O que aqui aprendemos segue conosco, reverbera em todos os espaços por onde transitamos; é narrativa firme virando história contada, é caminhada plena se tornando memória. Seguramente todos temos uma frase para lembrarmos, um sorriso para chamarmos, uma reclamação que não esquecemos, um professor querido.
O fechamento do PP é condizente com um dos maiores legados deixados pelo fabuloso e tão lido livro "O Pequeno Príncipe", que diz: “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Esta escola cativou nosso amor e, a partir de hoje, começamos a guardar de modo diferente tudo que aqui vivemos. Obrigada por não colocarem em ameaça o tesouro edificado em 43 anos de muita caminhada; obrigada pela coragem ao optarem pelo seu fechamento. Este gesto é mais digno com o que aqui dentro foi cultivado.
Sem dúvida, este endereço marca nossas vidas. Todos nós, ao passarmos na avenida Senhor dos Passos, nº 197, vamos nos referir a este lindo prédio - que espero, venha a ser mantido intacto pelos seus responsáveis - como um lugar de muitas boas descobertas. É possível que digamos: "Aqui funcionou a escola que hoje bate em meu coração com o mesmo vigor e a mesma essência de quando fui sua aluna". Não corremos o risco de dizermos: "aqui funcionava uma escola que era muito boa, mas depois decaiu". Não, esta frase não existirá.
Então, sigamos, sigamos sendo parte desta escola e agradecidos à professora Aurora, a Seu Florentino, aos professores e ao pessoal da secretaria, da cantina, dos serviços gerais, da portaria. Obrigada por tudo e muito obrigada por nos permitirem estarmos certos de que o valioso "O Pequeno Príncipe" continuará muito valioso.
* Sarah Roberta Carneiro é jornalista e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia (PPGCS/Ufba). Sarah estudou no Centro Educacional "O Pequeno Príncipe", no período de 1981 a 1991.
Obs.: Texto lido pela autora na cerimônia de encerramento das atividades de "O Pequeno Príncipe", na manhã de domingo, 26

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