André Setaro - estará em Feira de Santana para o Tributo a Olney São Paulo, nesta sexta-feira, 7 - escreveu no seu blog ("Setaro's Blog"):
A primeira vez que ouvi falar de Olney São Paulo foi quando, em 1965, assisti a O grito da terra, seu primeiro longa metragem, na tela do cinema Excelsior, situado na Praça da Sé em Salvador. Lá se vão 44 anos. Mas me ficou na memória a bela fotografia em preto e branco e a música e letra do tema principal, além do fato de se constituir num filme genuinamente baiano - e mais: feirense.
Os anos se passam. Ouvi falar da proibição de Manhã cinzenta, filme no qual Olney registra os acontecimentos do explosivo ano de 1968 através de imagens ficcionais e documentais inseridas numa fábula meio surrealista. Um casal de estudantes, militantes e combativos, é preso e torturado, tendo, como algozes, um cérebro eletrônico e um robô. A censura não gostou nada e, além de proibir o filme, o seu autor, Olney, acabou a ter o mesmo destino dos personagens de seu filme: cadeia e tortura.
Os anos se passam. Ouvi falar da proibição de Manhã cinzenta, filme no qual Olney registra os acontecimentos do explosivo ano de 1968 através de imagens ficcionais e documentais inseridas numa fábula meio surrealista. Um casal de estudantes, militantes e combativos, é preso e torturado, tendo, como algozes, um cérebro eletrônico e um robô. A censura não gostou nada e, além de proibir o filme, o seu autor, Olney, acabou a ter o mesmo destino dos personagens de seu filme: cadeia e tortura.
Em 1972, na primeira Jornada Baiana, sem a dimensão internacional que depois iria adquirir, mas apenas restrita aos filmes e mostras da soterópolis, vim a conhecer pessoalmente a figura de Olney São Paulo no jardim do Instituto Goethe, palco do evento. Olney, sobre ser um cineasta profundamente enraizado com a sua cultura e seu povo, era uma pessoa de lhano trato cuja característica principal, e poucos como ele, podia se destacar na simpatia, na afeição que tinha pelos seus semelhantes, longe da arrogância, da petulância e da pretensão de muitos de seus colegas realizadores cinematográficos. Esta simpatia singular, marca registrada de sua esfuziante personalidade, fazia-o querido por todos que dele se aproximavam.
Em 1975, com um ano de coluna na Tribuna da Bahia, eis que O forte, segundo longa, é lançado no Tamoio distribuído pela Embrafilme. Adaptação de um romance homônimo de Adonias Filho, O forte, no entanto, por problemas de produção, não alcançou um resultado satisfatório. Há lacunas e buracos que podem ser atribuídos à uma crise na produção, mas, crítico neófito, ousei criticá-lo em minha coluna da Tribuna. Na semana seguinte, recebo, na portaria deste jornal, um envelope a conter uma carta do cineasta com quatro laudas na qual rebate os meus comentários. Como na minha coluna não havia espaço para publicá-la, solicitei ao editor-chefe na época que, excepcionalmente, alargasse a coluna para conter, ipsis literis, a carta de Olney São Paulo. E assim aconteceu.
Pensei que depois dessa Olney estivesse retado comigo, mas, dois anos depois, numa outra jornada, encontro o cineasta no mesmo jardim do Goethe, sorriso largo, e, vindo em minha direção, abraçou-me. É um exemplo de sua personalidade, de sua integridade como homem e como artista. A partir de então, sempre me mandava fotografias e cartões sobre os filmes que estava a fazer até que, de repente, veio a dolorosa notícia de sua morte, a Implacável que o levou ainda jovem e disposto a muitas idéias e muitos filmes.
Pensei que depois dessa Olney estivesse retado comigo, mas, dois anos depois, numa outra jornada, encontro o cineasta no mesmo jardim do Goethe, sorriso largo, e, vindo em minha direção, abraçou-me. É um exemplo de sua personalidade, de sua integridade como homem e como artista. A partir de então, sempre me mandava fotografias e cartões sobre os filmes que estava a fazer até que, de repente, veio a dolorosa notícia de sua morte, a Implacável que o levou ainda jovem e disposto a muitas idéias e muitos filmes.
O crítico neófito que era não sabia que a concretização de O forte se constituiu por uma espécie de milagre, tamanhos os obstáculos, que tornaram a sua rodagem um verdadeiro calvário, uma via-crucis. Mas também a obra cinematográfica é o que está na tela, o resultado de um processo de elaboração.
A homenagem que a Prefeitura de Feira de Santana está a fazer a Olney São Paulo, inclusive com a inauguração (Blog Demais informa: na verdade, início da pavimentação) de uma rua com seu nome, é uma homenagem mais que justa. Apesar de nascido em Riachão de Jacuípe, Olney viveu muitos anos em Feira de Santana e se considerava um feirense. Se um dos maiores cineastas baianos, Olney Alberto São Paulo é, sem sombra de dúvida, o maior realizador cinematográfico feirense de todos os tempos.
Um comentário:
Agradeço, caro Dimas, a transcrição no seu concorrido e visitadíssimo blog.
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