Por Percival Puggina
É
provável que só com ler o título deste artigo alguém já me esteja alertando
mentalmente: "Olha que o Estado é laico!". Como se eu não soubesse!
Tal advertência, tantas vezes lida e ouvida, tem por finalidade silenciar quem
se manifeste a favor de algo que seja motivo de apreço para os cristãos. Isso
leva ao seguinte disparate: do agnóstico ao bolchevista, do iletrado ao
acadêmico, do maria-vai-com-as-outras ao ministro do STF, todos podem falar
sobre quaisquer assuntos, especialmente sobre moral e valores. Admitem-se, com
reverências, posições das mais diferentes culturas, da txucarramãe à budista.
Calem-se, contudo, os que pretendam dizer algo que guarde relação com a cultura
judaico-cristã, fundadora, com a filosofia grega e o direito romano, da
civilização ocidental.
O tema
"família" sempre foi conteúdo importante nas posições filosóficas e
ideológicas. Os principais adversários do comunismo não são o capitalismo e a
vida real, mas Deus e a família. Quando imposto pela força, o totalitarismo não
tolerou que persistisse na sociedade algo que a influenciasse mais do que o
Estado. Quando imposto pelo domínio da cultura, centra suas baterias na
instituição familiar e em Deus. É a esteira aberta por Marx e por Engels.
Num
sentido estritamente prático, sociológico, é impossível desconhecer que Deus e
a família servem à sociedade, pelo amor, a ordem e a
moral. Desconsiderados, restam apenas a lei, a força e o braço pesado de
algum inimigo real da humanidade.
***
Contudo, não apenas os coletivismos e os
totalitarismos investem contra a instituição familiar e contra a influência de
uma cultura religiosa na vida social. Também a atacam, embora por outra frente,
os defensores do individualismo exacerbado, anarco-individualistas.
Afirmam que a família, por se constituir em um "coletivo" a
influenciar fortemente os indivíduos, acaba opondo obstáculos à liberdade de
cada um. “Culpa” que muitos atribuem também a Deus. Portanto, em benefício da
liberdade de todos, é preciso reduzir a força desses vínculos.
Não é difícil perceber o que vai acontecer com a
família à medida que os ataques forem prosperando e sendo adelgaçados, por
vários modos e motivos, os vínculos entre seus membros. Combater a instituição
familiar é atentar contra a humanidade e a liberdade. A família é essência do
espaço privado, grupo humano em relação ao qual o Estado só deve agir para
proteger e onde não deve entrar sem expressa e muito bem justificada
determinação judicial. Ela é o porto seguro, escola do amor afetivo e efetivo,
do serviço mútuo, do sacrifício pelo bem do outro, do martírio e do êxtase.
Onde mais se haverá de prover tudo isso, geração após geração?
Alguém dirá que o parágrafo acima é ficcional. Que
não se pode tomar a exceção por regra. Admitamos. Admitamos que o descrito é
exceção e que a regra, agora, é outra. Tem-se, então, um diagnóstico sobre a
quantas anda nossa marcha involuntária para alguma forma de totalitarismo.
Percival Puggina (76), membro da Academia
Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site
www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de "Crônicas Contra o Totalitarismo"; "Cuba, a Tragédia da Utopia"; "Pombas e Gaviões"; "A Tomada do Brasil". Integrante do grupo Pensar+.
Fonte: https://www.puggina.org/
Nenhum comentário:
Postar um comentário