Por Jeff
Jacoby
Houve
agitação e revolta quando a nova vice-ministra do Exterior de Israel fez seu
discurso de posse[1] para o corpo diplomático do Estado judeu.
"Precisamos
voltar à verdade básica de nosso direito a esta terra", disse Tzipi
Hotovely, que está dirigindo as operações do dia-a-dia do Ministério do
Exterior, enquanto o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu detém o título de
ministro do Exterior. "A terra de Israel pertence ao povo judeu",
declarou ela, "e a reivindicação que ele faz dessa terra é tão antiga
quanto a Bíblia".[2] "É importante dizer isto e não enfocar somente
os interesses da segurança de Israel. Logicamente que a segurança é uma
preocupação profunda", observou Hotovely, "mas os argumentos baseados
na justiça, na moralidade e nos direitos históricos profundos são mais
fortes". Ela até mesmo citou o sábio judeu medieval Rashi, que escreveu
que o Gênesis tem início com a criação do mundo por Deus para impedir
subseqüentes acusações de que a reivindicação dos judeus à terra seja sem
mérito.
Desnecessário
dizer que a mensagem de Hotovely foi desdenhada pela esquerda como sendo de
fanatismo primitivo. "As observações feitas por ela levantaram sobrancelhas
entre muitos da platéia", relatou o jornal israelense Haaretz. Um
diplomata disse que seus colegas "estavam em estado de choque" pela
sugestão de que deveriam recitar a Torá quando defendessem Israel no exterior.
A
diplomacia não é aula de Bíblia. Entretanto, por que Israel e seus enviados
deveriam deixar de fazer uma defesa completa dos direitos judeus ao que sempre
foi a pátria judaica? Embora o sionismo moderno não tenha surgido como um
movimento político até os anos 1800, a terra de Israel sempre esteve no âmago
da consciência nacional dos judeus. Mesmo durante os 19 séculos de exílio, a
vida dos judeus em Israel (chamada de "Palestina" pelos romanos)
jamais cessou. Em todos esses anos, nenhum outro povo reivindicou a terra como
seu país, ou edificou-a para ser sua Nação-Estado.
A
soberania judaica não foi recuperada por subestimar os laços históricos e
religiosos que ligam os judeus àquela terra. Líderes mundiais e formadores de
opinião não consideraram aquelas ligações com desdém paternalista; pelo
contrário: muitos acharam-nas intensamente significativas.
Em 1891,
alarmados por relatos de judeus sendo massacrados na Rússia, centenas de
proeminentes americanos assinaram uma petição,[3] pressionando pelo
restabelecimento do governo judeu na [então] Palestina. "De acordo com a
distribuição das nações feita por Deus, é a terra deles, uma posse inalienável
da qual foram expulsos à força", declarava a petição, dentre cujas
assinaturas estavam a do ministro da Justiça dos Estados Unidos, do presidente
da Câmara dos Representantes, do futuro presidente William McKinley, de
inúmeros influentes industriais, banqueiros, educadores e jornalistas. (Um dos
que a assinaram foi Charles H. Taylor, o primeiro editor do Boston
Globe).
Vinte e
cinco anos mais tarde, quando a Grã-Bretanha notavelmente se comprometeu
"ao estabelecimento de uma nação para o povo judeu na Palestina",
seus motivos não foram somente estratégicos e pragmáticos, mas religiosos. O
primeiro-ministro, David Lloyd George, e o secretário de Política Estrangeira,
Arthur Balfour, falaram emocionadamente sobre a história judaica.[4] "Eu
seria capaz de falar-lhes sobre todos os reis de Israel", disse Lloyd
George, relembrando seus anos de escola, "mas duvido que conseguisse
dar-lhes o nome de meia dúzia dos reis da Inglaterra".
O
presidente Woodrow Wilson, cujo pai era pastor presbiteriano, também endossou a
causa sionista. "Pensar que eu", exclamou ele mais tarde, "o
filho do pastor, seria capaz de ajudar a restaurar a Terra Santa ao seu
povo!". Ainda mais encantado com o reavivamento do governo judeu na pátria
judaica estava Harry Truman, cujo estudo da Bíblia durante toda a sua vida
fortaleceu suas convicções de que os judeus tinham direito histórico legítimo à
Palestina.[5]
Os laços
judeus imemoriais com a terra estão até mesmo enraizados na lei internacional.
Quando a Liga das Nações estabeleceu os termos do Mandato da Palestina[6] em
1922, ela reconheceu unanimemente "a conexão histórica do povo judeu com a
Palestina" e a justiça de "reconstituir sua terra natal naquele
país". Era essencial, escreveu Winston Churchill naquela época,[7]
enfatizar que os judeus estavam "na Palestina por direito e não por
concessão", e que a pátria judaica ali "fosse formalmente reconhecida
por estar baseada em antiga conexão histórica".
Israel
não tem ganhado nada com sua indisposição de afirmar vigorosamente a
reivindicação dos judeus à terra como questão de justiça histórica e de
legitimidade bíblica. Esse posicionamento só tem tornado mais fácil para seus
inimigos promoverem uma narrativa falsa da "agressão sionista" e da
"ocupação ilegal". As palavras de Hotovely podem ter "levantado
sobrancelhas" ao exortar os diplomatas de Israel a enfocarem os direitos e
a história judaicos sem pedirem desculpas, mas o histórico é claro: estes são
os argumentos que têm sempre produzido maior impacto.
Repetindo:
A diplomacia não é aula de Bíblia. Mas a defesa mais forte em favor de Israel
tem raízes que vão além da segurança. Mesmo hoje em dia, de acordo com o Pew
Research Center,[8] 44% dos adultos americanos - e 55% dos cristãos americanos
- acreditam que os judeus têm o direito à terra de Israel porque ela lhes foi
dada por Deus. Uma superstição retrógrada? Pelo contrário. Os laços da nação
judaica com sua pátria são um elemento contínuo e estável da história humana, e
um bem que Israel subestima, levando a nação a correr riscos. (Jeff Jacoby -www.bostonglobe.com)
Notas:
Jeff
Jacoby é pós-graduado com destaque pela Universidade George
Washington e pela Escola de Direito da Universidade de Boston. Seu pai, um
sobrevivente do Holocausto, nasceu na atual Eslováquia em 1925, e veio para os
Estados Unidos em 1948. A coluna de opinião de Jacoby tem sido publicada
no Boston Globe desde 1994.
Publicado na revista Notícias de Israel - www.beth-shalom.com.br.
Fonte:
"Mídia Sem Máscara"
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