Por Reinaldo Azevedo
Pois é… Eu já estava aqui a esfregar os dedos para
escrever um texto em que apontaria um caminho para a presidente Dilma. No
programa "Os Pingos nos Is", que ancoro na Jovem Pan - entre 18h
e 19h -, até brinquei com aquela musiquinha de Leandro e Leonardo: "Dilma, liga
pra mim, não liga pra ele". Eu me referia precisamente a Lula. Hoje, ele é uma
das peças que, nos bastidores, concorrem para solapar a credibilidade da
presidente. Não custa lembrar: ele já autorizou que seu nome seja lançado para
a disputa presidencial de 2018. Isso transforma Dilma, como afirmei ontem na
VEJA.com numa pata manca.
E qual era a minha sugestão para Dilma, dado o
desastre de opinião pública que já é o seu governo, sempre lembrando que há
motivos para crer que a crise que ela enfrenta está só no começo e na sua fase
mais amena? Simples: que ela pedisse a desfiliação do PT e se declarasse uma
sem-partido. De tal sorte a crise que se avizinha é grave que a suprema
mandatária, com os poderes quase imperiais de que dispõe um presidente no
Brasil, deveria dizer, como Cazuza: "O meu partido, agora, é um coração
partido". E tentaria estabelecer uma agenda mínima para o país. Hoje, o PT é um
armário muito difícil de carregar, com aquela pilha gigantesca de esqueletos. E
muito mais coisa pode vir - e virá - por aí.
É inútil fazer de conta que Dilma está imune a uma
denúncia por crime de responsabilidade. Sabem o que vai determinar a
viabilidade disso? O tamanho e o ritmo da crise. Em vez de participar de
convescotes petistas, em companhia de João Vaccari Neto, ela deveria se
guardar. Deveria assumir o lugar que cabe aos magistrados em momentos como
esse. Até aqui, as elites políticas do país, gostem dela ou não, podem até considerá-la
omissa "no que se refere", como ela diria, ao submundo petista. Mas poucos a
veem como desonesta. A percepção do povo brasileiro, no entanto, começa a ser
outra: 47% dos que responderam a pesquisa Datafolha lhe pespegaram essa pecha
também.
Muito bem! Dilma deveria, então, se afastar de Lula
e da marquetagem vigarista que garantiu a sua reeleição. Ninguém mais suporta
aqueles truques. Está na cara que eles eram mentirosos. Desta feita, não terá
farrinha de consumo para mitigar a roubalheira. Mas Dilma, a estar certa
reportagem da Folha, vai fazer justamente o contrário: segundo
informam Natuza Nery e Mariana Haubert, ela decidiu pedir socorro a Lula e ao
marqueteiro João Santana.
Os lulistas espalham a lorota de que parte das
dificuldades enfrentadas pela soberana se deve ao fato de que ela e Lula andam
meio afastados, o que estaria deixando o Babalorixá de Banânia irritado. Sabem
como é… O homem acredita que dar um truque no povo brasileiro é fácil. Ele vem
fazendo isso há muitos anos, com sucesso. Vejam o esquema vigente na Petrobras,
envolvendo empreiteiras - e por que seria diferente nos demais setores do
governo? Tudo isso estava em curso enquanto Lula discursava contra as elites,
contra o capital, contra o empresariado, contra os ricos… Se há pessoa "nestepaiz" que nunca perdeu nem poder nem dinheiro apostando na ignorância e
na credencie alheias, essa pessoa é Luiz Inácio Lula da Silva.
Dilma sabe que é refém daquela máquina e ensaiou
alguns passos de independência. Parece que se julga fraca para enfrentá-la e
decide, agora, se render. Lula lançou a sua candidatura para 2018 porque quer
assustar Dilma e tomar de volta o governo já em 2015, no berro.
Se Dilma ligasse pra mim, ela dava a volta por
cima; declarava a sua independência; enfrentaria a máquina; passaria por
turbulências, mas teria alguma chance de ver robustecer a sua biografia. A se
confirmar a notícia da Folha - e ela me parece, em princípio, verossímil -, a
presidente vai se conformar com o papel de boneco de mamulengo. Eis o PT: essa
gente não dá a menor bola para o país. Hoje, a companheirada está empenhada em
garantir o poder da máquina e resolveu engolfar a presidente em sua sanha.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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