Por Reinaldo Azevedo
A agonia da Petrobras parece não ter fim. E não terá até que a
presidente Dilma Rousseff tome uma providência drástica, que acene com alguma
seriedade no trato da cadeia de descalabros que tomou a empresa. Toda a
diretoria - toda, sem exceção - tem de ser demitida. É preciso também
substituir, com as desculpas antecipadas aos que nada têm a ver com a
bandalheira, os cargos executivos de gerência. Não custa lembrar que Pedro
Barusco, o homem que fez, até agora, o maior acordo para a devolução de
dinheiro, era um mero gerente. Ah, sim: estamos falando de US$ 97 milhões.E por
que se cobra aqui essa atitude?
O escritório americano de advocacia Wolf Popper, em parceria com o
Almeida Law, no Brasil, entrou na Justiça americana contra a petroleira brasileira.
Eles representam um grupo de investidores - já falo a respeito deles - que
compraram ações na Bolsa de Nova York (as chamadas ADRs) entre maio de 2010 e
novembro de 2014. Pois bem: a alegação é a de que a estatal brasileira mentiu
aos acionistas e omitiu dados importantes, ferindo cláusulas da "Securities Exchange Act", legislação que
regula as empresas de capital aberto dos EUA.
E quais fatos são relacionados para caracterizar a mentira e a
omissão? As evidências de corrupção. E os escritórios estão com um trunfo nas
mãos, dado por Graça Foster, presidente da Petrobras - e podem apresentar
outro, dado por Dilma Rousseff, que preside nada menos do que a República.
Vamos ver. No dia 11 de novembro deste ano, escrevi aqui um texto apontando um absurdo dito
por Graça naquela terça-feira, numa conferência com investidores, quando
anunciou, então, que adiaria a divulgação do balanço trimestral. E o que
afirmou a mulher que preside a estatal?
Antes de reproduzir a sua fala, tenho de lembrar alguns fatos. Em
fevereiro, reportagem de VEJA informou que a empresa holandesa SBM havia pagado
propina a funcionários da Petrobras em operação envolvendo plataformas de
petróleo. No fim de março, Graça concedeu uma entrevista em que negou
solenemente que houvesse alguma irregularidade. No mês passado, eis que esta
senhora diz o seguinte (reproduzo entre aspas):
"Passadas algumas semanas, alguns meses [da investigação interna da Petrobras], eu fui informada de que havia, sim, pagamentos de propina para empregado ou ex-empregado de Petrobras. Imediatamente, e imediatamente é 'imediatamente', informamos a SBM que ela não participaria de licitação conosco enquanto não fosse identificada a origem, o nome de pessoas que estão se deixando subornar na Petrobras. E é isso que aconteceu, tivemos uma licitação recente, para plataformas nos campos de Libra e Tartaruga Verde, e a SBM não participou."
"Passadas algumas semanas, alguns meses [da investigação interna da Petrobras], eu fui informada de que havia, sim, pagamentos de propina para empregado ou ex-empregado de Petrobras. Imediatamente, e imediatamente é 'imediatamente', informamos a SBM que ela não participaria de licitação conosco enquanto não fosse identificada a origem, o nome de pessoas que estão se deixando subornar na Petrobras. E é isso que aconteceu, tivemos uma licitação recente, para plataformas nos campos de Libra e Tartaruga Verde, e a SBM não participou."
Escrevi naquele dia 11: "É pouco e errado, minha senhora! Quem
estava informado sobre tudo isso? A Petrobras não é patrimônio seu, mas do povo
brasileiro." Mas as coisas não param por aí. Graça se esqueceu de que a
Petrobras é uma empresa de economia mista, com ações negociadas em bolsas de
valores, inclusive nos EUA, onde esse negócio é levado a sério.
Atenção! Os dois escritórios, por enquanto, representam
investidores institucionais, como fundos de pensão, por exemplo. E isso quer
dizer que se pode estar a falar de uma montanha de dinheiro. Mas fica claro que
qualquer investidor pode aderir ao processo. Só para que vocês tenham em mente:
os preços das ADRs da companhia caíram de US$ 19,38 em 5 de setembro deste
ano para US$ 10,50 em 24 de novembro, uma queda de 46%.
Os escritórios estão com uma penca de evidências nas mãos. Uma das
maiores foi fornecida pela própria Dilma, quando afirmou que, na condição de
presidente do Conselho, fora enganada pela diretoria da Petrobras na operação
que resultou, por exemplo, na compra da refinaria de Pasadena. Pergunta óbvia:
os acionistas foram advertidos? É claro que não!
Nesta segunda, com queda de mais de 6% na Bolsa, as ações
preferenciais da Petrobras tiveram sua menor cotação em quase dez anos: R$
11,50, pouco acima do piso de R$ 11,39 de janeiro de 2005, antes das
descobertas supostamente fabulosas do pré-sal. A queda do petróleo no mercado
internacional - o que começa a tornar antieconômica a exploração do óleo em
águas profundas - foi o principal fator do dia. Ocorre que essa má notícia para
a Petrobras colhe a empresa quando ela está no fundo do poço moral. É claro que
o processo dos acionistas, nos EUA, não ajuda.
Num mundo de decisões puramente racionais, Dilma anunciaria a
privatização da Petrobras, as ações disparariam, a empresa recuperaria boa
parte do seu valor de mercado, e o país sairia ganhando, podendo cobrar os
tubos pela exploração do petróleo, sem ter de arcar com essa estrovenga.
Afinal, por determinação constitucional, tudo o que está no subsolo pertence à
União. Ninguém vai roubar o nosso petróleo de canudinho.
Mas nem Dilma nem presidente nenhum farão isso. Pior para a
Petrobras. Pior para o Brasil. Pior para os brasileiros. Seguiremos sendo
roubados, mas cantando o Hino Nacional, cheios de orgulho.
Fonte: "Blog
Reinaldo Azevedo"
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