Por Ricardo Noblat
Qual Lula é o verdadeiro?
O bem educado que aparece
no programa de propaganda eleitoral de Dilma na televisão, defende os 12 anos
de governos do PT e, ao cabo, sorridente, pede votos para reeleger sua
sucessora?
Ou o moleque de rua que
pontifica em comícios país a fora, sugerindo, sem ter coragem de afirmar
diretamente, que Aécio é capaz, sim, de dirigir embriagado, agredir mulheres e
se drogar?
O segundo é o mais próximo
do verdadeiro Lula. Digo por que o conheço desde quando era líder sindical.
Lula é uma metamorfose ambulante. Não foi ninguém quem o disse, foi ele quem se
rotulou assim.
A esquerda tudo perdoaria a
Lula desde que chegasse ao poder. Chegou, cavalgando-o. Uma vez lá, se
corrompeu. Quanto a ele... Não sabia de nada. Nunca soube.
Justiça seja feita a Lula:
por desconhecimento de causa e preguiça, ele jamais compartilhou as ideias da
esquerda. Assim como ela se aproveitou dele, Lula se aproveitou dela. Um
casamento não por amor, mas por interesse.
Na primeira reunião
ministerial do seu governo em 2003, Lula se irritou com um ministro e
desabafou: "Toda vez que me guiei pela esquerda me dei mal".
Retifico: ele não disse que
se deu mal. Usou um palavrão. Nada demais para o sujeito desbocado que nunca
pesou o que diz. Grossura nada tem a ver com infância pobre.
Lula é um sucesso do jeito
que é. Mudar, por quê? Todos admiram sua astúcia. Muitos se curvam à sua
sabedoria. E outros tantos temem ser apontados como desafetos do retirante
nordestino que se deu bem.
Uma das chaves do sucesso
de Lula é a coragem de dizer o que lhe apetece - às favas a verdade.
No último sábado, em
comício em Belo Horizonte, Lula disse que nunca foi grosseiro com adversários.
Textualmente: "Não tive
coragem de ser grosseiro contra Collor, Serra, Alckmin, Fernando Henrique. Pega
uma palavra minha chamando candidato de mentiroso e leviano". É fácil.
Lula chamou Sarney de
ladrão. E Itamar Franco de filho da puta.
Resposta de Itamar em maio
de 2003: "Gostaria de saber o que aconteceria se a situação fosse inversa, ou
seja, se esse indivíduo arrogante e elitista fosse o presidente da República e
alguém lhe chamasse disso. (...) Minha mãe se chamava Itália Franco. Mas fosse
um filho da p., certamente teria por ela o mesmo amor filial".
Você pensa que Lula ficou
constrangido com a resposta de Itamar? Foi ao velório dele. Assim como foi ao
velório de Ruth Cardoso, mulher de Fernando Henrique. Chorando, lançou-se aos
braços do ex-presidente.
Pouco antes da morte de
Ruth, a Casa Civil da então ministra Dilma montara um dossiê sobre despesas com
cartão de crédito do casal FH. Depois, a ministra se desculpou.
Lula não é homem de se
desculpar. Nem mesmo quando trata um assessor a pontapés. Como governador de
Minas Gerais, no auge do escândalo do mensalão, Aécio lutou para que o PSDB não
pedisse o impeachment de Lula. Conseguiu.
Mais tarde, Lula tentou
convencê-lo a aderir ao PMDB para disputar a presidência com o seu apoio. Aécio
não quis.
De volta ao comício de Belo
Horizonte.
Antes de Lula falar, foi
lida a carta de uma psicóloga acusando Aécio de espancar mulheres e de ser
megalomaníaco. Ele ainda foi chamado de "coisa ruim",
"cafajeste" e "playboy mimado".
Por fim, a plateia foi ao
delírio ao ouvir Lula dizer sobre o comportamento de Aécio em debates: "A
tática dele é a seguinte: vou partir para a agressão. Meu negócio com mulher é
partir para cima agredindo".
Fonte: "O Globo"
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