Por Augusto Nunes
Mais que o destino dos 38 réus, o julgamento
do processo do mensalão vai decidir qual será a fisionomia moral do Brasil do
século 21. Se for indulgente com réus comprovadamente culpados, constata o
comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o Supremo Tribunal Federal estará
chancelando a institucionalização da corrupção impune. Só haverá esperança de
salvação se os ministros deixarem claro que todos são iguais perante a lei - e
que ninguém é mais igual que os outros. Não há uma terceira opção. Nunca
existem mais de duas quando se trata de escolher entre o certo e o errado, a
verdade e a mentira.
Os jornalistas que se fantasiam de apóstolos
da imparcialidade para criticar o que qualificam de "clima de Fla-Flu" são
apenas pusilânimes. Fingem enxergar uma encruzilhada no que é bifurcação. Sete
anos depois da descoberta do pântano, a pergunta essencial - existem crimes a
punir? - só comporta duas respostas. Quem vê as coisas como as coisas são
afirma que sim. Os muito espertos e os dóceis demais fazem de conta que não. A
turma do olhar neutro murmura um talvez.
Quem tateia esse inexistente caminho do meio
deve admitir que pode ter ocorrido uma conspiração, concebida para derrubar o
governo, de tal forma abrangente que acabou juntando no mesmo balaio golpista
partidos de oposição, a imprensa independente, dois chefes da Procuradoria
Geral da República, ministros do Supremo, dirigentes do PT (que andaram punindo
pecadores sem pecados a purgar) e até o presidente Lula, que fez um
pronunciamento em rede nacional para pedir desculpas por nada. Haja cinismo.
Nas próximas semanas, a plateia colossal verá
o suficiente para descobrir quem é quem, quem fez o quê, quem merece castigo,
quem merece o benefício da dúvida, quem foi alvo de suspeitas impertinentes, o
que faz ou pensa cada ministro e para que serve o Supremo. O desfecho da
história dirá o que foi exatamente esse programa transmitido ao vivo que
monopolizou durante quase dois meses a atenção de milhões de brasileiros.
Também aqui as hipóteses são duas. Na
primeira, a nação testemunhará seu reencontro com valores morais hoje em
frangalhos. Na segunda, vai assistir ao primeiro Big Brother Brasil da
Bandidagem. É um reality show sem heróis que zomba de gente honesta e premia
quem tem culpa no cartório.
Fonte: Direto no Ponto
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