Protagonista do primeiro dia do julgamento do
mensalão no Supremo Tribunal Federal, o procurador-geral da República, Roberto
Gurgel, disse na quarta-feira,1, que, para "ser feita a justiça", o
tribunal terá de condenar todos os réus do caso. "Creio que o Supremo fará
justiça. E na visão do Ministério Público, justiça é condenar todos",
afirmou em entrevista ao Estado. Gurgel voltou a afirmar que
as provas colhidas durante as investigações são "contundentes" e
"falam por si".
O procurador já traçou
sua estratégia para a sessão desta quinta-feira, 2. O ex-ministro José Dirceu,
o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o ex-presidente do PT José Genoino e o
publicitário Marcos Valério serão seus principais alvos.
Nas cinco horas reservadas para a acusação,
Gurgel ressaltará a participação desse "núcleo político" e lembrará
os principais fatos que comprovariam a existência da compra de votos no
Congresso Nacional, estratagema que foi classificado como "o mais atrevido
e escandaloso esquema de corrupção e de desvio de dinheiro público flagrado no
Brasil".
Assim como na denúncia, Dirceu será apontado
como o "chefe de uma quadrilha". O procurador dirá que ele, no
comando na Casa Civil a partir de janeiro de 2003, montou e gerenciou a compra
de apoio de partidos políticos, esquema tornado viável pela prática de diversos
crimes, como corrupção, lavagem de dinheiro, peculato e formação de quadrilha,
evasão de divisas e gestão fraudulenta.
Integrante do núcleo político
"original", o ex-dirigente petista Silvio Pereira não será julgado
pelo STF, pois fez um acordo com o Ministério Público e já cumpriu serviços
comunitários para se livrar da acusação do crime de formação de quadrilha.
"Como dirigentes máximos do Partido dos
Trabalhadores, tanto do ponto de vista formal quanto material, os réus estabeleceram
um engenhoso esquema de desvio de recursos de órgãos públicos e de empresas
estatais, e de concessões de benefícios diretos ou indiretos a particulares em
troca de ajuda financeira", afirmou Gurgel em suas alegações finais.
"O objetivo era negociar apoio político ao governo no Congresso Nacional,
pagar dívidas pretéritas, custear gastos de campanha e outras despesas do
PT", acrescentou.
Desafio.
O principal ponto da acusação também é o maior desafio imposto ao
procurador-geral da República. Se não conseguir demonstrar que há provas
suficientes para mostrar que Dirceu comandou a compra de apoio no Congresso, os
ministros do Supremo poderão absolvê-lo.
De acordo com um dos mais antigos ministros do
tribunal, o procurador-geral da República precisa comprovar que parlamentares
da base aliada receberam dinheiro para votar com o governo ou ao menos que
tenham recebido a promessa.
Na sua acusação, o procurador detalhará também a
atividade dos outros dois grupos citados na denúncia formal. O núcleo operacional,
encabeçado pelo empresário Marcos Valério, é acusado de tornar viável a
obtenção de recursos financeiros para garantir a compra de apoio parlamentar no
Congresso.
O terceiro grupo, chamado de núcleo financeiro,
era composto por dirigentes do Banco Rural à época dos fatos. Para obter o
dinheiro, segundo a denúncia, os dirigentes liberaram dinheiro para o esquema
por meio de empréstimos que o Ministério Público classificou como
"simulados". O dinheiro era lavado e entregue aos destinatários finais.
As cinco horas a que tem direito nesta quinta,
afirmou Gurgel, "não serão suficientes" para esmiuçar e apontar todas
as provas colhidas e que, segundo, comprovariam a prática dos crimes. "O
tempo, a rigor, não será suficiente para falar de tudo e de todos", disse.
No dia seguinte à acusação, os advogados dos
réus, a começar pelo defensor de José Dirceu, farão suas sustentações orais.
Serão cinco advogados por dia, tendo cada um o tempo de uma hora. O presidente
do STF, Carlos Ayres Britto, espera que o julgamento se encerre até o fim do
mês. Outros ministros estimam que o julgamento seja concluído até o fim de
setembro.
Suspeição. Gurgel também afirmou na quarta-feira que avalia se vai
pedir a suspeição do ministro Dias Toffoli no julgamento. Toffoli já disse a
interlocutores que vai, sim, julgar o caso, apesar de ser cobrado por suas
ligações pessoais com Dirceu e pelo fato de ter construído sua carreira de
advogado dentro do PT. "É um assunto que será visto até o início do
julgamento", disse Gurgel.
Fonte: "O Estado de S. Paulo"
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Tomara! Vamos ver.
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