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domingo, 3 de outubro de 2010

"O segundo turno, os futurólogos, os marqueteiros, as pesquisas e o jornalismo"

De Reinaldo Azevedo

Como digo há tempos aqui, eu não sei se vai haver segundo turno; havendo, não sei quem vai ganhar as eleições. As minhas “previsões” - e o arquivo está aí, pode ser acessado a qualquer momento - se voltam para o processo, para o sentido em que vai a carruagem, sempre lembrando que pode haver surpresas a cada curva e que o indeterminado exerce papel importante na história. Quem deu para fazer previsões nos últimos tempos foram os responsáveis pelos institutos de pesquisa. Como essa gente é loquaz!
A exemplo dos juízes, deveriam se manifestar só nos autos - no caso deles, os números que apuram. Mas não! Falam pelos cotovelos: dão os números - o que confere às suas opiniões o peso de uma ciência - e, em seguida, passam a fazer especulações, algumas as mais vexaminosas. E ai daquele que se aventurar a contestá-los! Afinal, eles são “especialistas”. Uma conclusão à margem neste parágrafo para voltar ao leito do pensamento: RESPONSÁVEIS POR PESQUISAS DEVERIAM SE IMPOR SILÊNCIO OBSEQUIOSO. Ou, então, parem de fingir que há ciência nos seus chutes.
Não sei se vai haver segundo turno; havendo, não sei quem vai ganhar. O que sei é que nenhuma outra eleição foi “decidida” com tanta antecedência na imprensa. Antes que fale desse oba-oba indecoroso, cumpre fazer uma ressalva: a imprensa, mesmo a mais xucra, não é de todo culpada. Falo um pouco a respeito nos dois parágrafos seguintes.
Reféns das pesquisas
As campanhas políticas ficaram reféns de duas categorias: as pesquisas de opinião e os marqueteiros. Elas diziam que o eleitor queria continuidade, e eles passaram a oferecer continuidade aos eleitores… O confronto se deu, então, entre a “Continuidade de Exaltação” e a “Continuidade de Superação”. Dilma elevou às alturas as conquistas que seriam obra exclusiva de Lula, e Serra afirmou que é possível avançar num ritmo mais acelerado.
É claro que isso despolitizou a disputa. Essa despolitização permitiu que um discurso incompreensível como o de Marina ganhasse relevo. Não há cristão - ateu ou agnóstico - que saiba o que, afinal de contas, ela faria se eleita; a proposta sua mais concreta de que me lembro é a criação de “novos materiais” (!?!?!?). Não importa! Ela parece falar em nome de alguns valores; é fato que ninguém entendeu direito quais são. Se seu discurso, no entanto, é bem-recebido por uma fatia razoável do eleitorado, é de se supor que exista uma demanda reprimida por política - qualquer uma… Ainda que o jornalismo político quisesse fazer uma cobertura analisando propostas, a tarefa seria dura. A VEJA traz hoje uma capa emblemática: “As grandes propostas para o Brasil feitas na campanha presidencial”: uma folha em branco.
A cobertura jornalística
Mesmo num confronto que não privilegiou propostas ou idéias, a cobertura da imprensa foi, com as exceções que sempre existem, pífia. Dilma tinha ainda 5% ou 6% dos votos, e as tais pesquisas diziam que a maioria dos eleitores brasileiros votaria ou poderia votar num candidato indicado por Lula. E essa “verdade” pautou desde sempre a cobertura. Quando Dilma finalmente ultrapassou Serra nas pesquisas - o que só aconteceu em julho, embora se esperasse por isso desde o fim do ano passado -, deu-se a eleição por encerrada. Os mais óbvios nem se constrangiam em dizer: “A menos que surja um fato novo”.
Ora, o mundo só é tão antigo e conhecido por causa dos… fatos novos, entendem? Sem as invasões de sigilo, o escândalo Erenice e a polêmica do aborto, Dilma já estaria eleita ou não? Repito: não sei se vai haver segundo turno; havendo, não sei quem vai ganhar. O que sei é que tudo o que está na história é um dado que compõe a história. Tautológico? Pode ser. Mas se torna necessário declarar o óbvio nos dias que correm. No mínimo, é preciso ter um pouco mais de cuidado. Ainda que Dilma vença as eleições logo mais, isso não elimina o fato de que esta eleição foi marcada por um péssimo comportamento dos institutos de pesquisa - e, nesse caso, refiro-me àqueles que não são comprados; os de aluguel estão praticando banditismo faz tempo - e do jornalismo político.
Quem não se apressou em cravar previsões - “Dilma já ganhou no primeiro turno” - optou pela certeza decorosa, aquela a que já me referi: “Salvo fato novo…” É evidente que nada disso é irrelevante no jogo político. A história de que pesquisas são meros termômetros é mentirosa: seus números facilitam ou dificultam alianças, acabam ditando o comportamento dos palanques regionais, têm influência estupenda na arrecadação de fundos de campanha e criam marés de notícias positivas ou negativas. Ora, Dilma comia poeira, lá atrás, mas o tom do noticiário era um só: “Vai mudar”, e é claro que isso criava facilidades para a candidata. Serra tinha folgada vantagem, e o tom do noticiário era um só: “Vai mudar”, e é claro que isso criava dificuldades para o candidato. Quando mudou, bastou para que se decretasse: “Acabou!”, e isso passou a ser considerado no texto da maioria dos analistas um “dado da realidade”, coisa conhecida.
No Datafolha, Dilma chega ao dia da eleição com a mesma porcentagem de votos válidos que Lula tinha em 2006, quando a disputa foi para o segundo turno. Há uma coisa diferente: há quatro anos, o jornalismo político não chegou tão longe na “antecipação” da história como agora. E não tentou resolver a eleição sem o concurso do eleitor.
Fonte "Blog Reinaldo Azevedo"
Por Thomas Oliveira

Um comentário:

Mariana disse...

Ainda tenho experanças de um segundo turno, mas só. Tudo muito bem trabalhado por essa gentalha expert em tramar prá se dar bem.
Thomas, só quero ver essa mesma gente que vota nessa criatura, com cara de paisagem quando passar tudo isto e a eleita deles tirar a náscara e voltar a ser AQUELA estúpida de sempre, ditadora e perseguidora da oposição!! Acredito que até a escova que abandonará até a maquiagem que a torna menos pesada(embora meio caricata) na aparência. Pode apostar.