Em entrevista ao ex-secretário do Planejamento Armando Avena para o "Blog Bahia Econômica", o senador César Borges avalia a economia baiana e faz uma crítica veemente à política social e economica do governo Wagner. Afirma também que pensou em se candidatar a governador do Estado, mas que vai preferir sair para reeleição ao Senado, além de, referindo-se a Otto Alencar, atestar que não é aceitável um conselheiro do Tribunal de Contas ficar fazendo política. Sobre seu futuro, avalia que tanto pode compor a chapa do ministro Geddel Vieira Lima quanto a do ex-governador Paulo Souto.
Leia a entrevista na íntegra:
Leia a entrevista na íntegra:
Bahia Econômica - No seu período de governo, de 1999 a 2002, o crescimento acumulado do PIB foi expressivo. A partir de 2006, no entanto, o PIB baiano reduziu seu nível de crescimento e hoje cresce menos que à média nacional. Como o senhor vê a economia baiana hoje e como compara estes dois momentos?
César Borges – Nos últimos anos, vários atores surgiram na cena econômica do país com mais competitividade. São estados que antes tinham administrações não tão ligados na questão econômica e na procura de oportunidades. Vou citar o caso de Pernambuco, que deu um salto na economia e na capacidade de atração de novos investimentos. Pernambuco montou uma estrutura administrativa determinada a planejar e colocar em execução e instrumentos eficazes de apoio – seja fiscal, financeiro ou de infra-estrutura – para disputar com os outros estados novos investimentos. Os estados que não fizeram assim estão em desvantagem competitiva. É este momento que eu acho que a Bahia está passando. Nós tínhamos um planejamento do desenvolvimento, com as linhas de atuação e atraímos indústrias, e vou dar o exemplo do setor calçadista em meu governo. Nós estávamos construindo um pólo, era o momento de verticalizar para ter todos os segmentos da atividade industrial aqui na Bahia. Fizemos esse trabalho e trouxemos dezenas de indústrias calçadistas; Acho que este trabalho foi descontinuado. Por outro lado, tínhamos visão de que a Bahia tinha que caminhar para ser economia moderna e cada vez mais produzir bens de consumo duráveis. Após, a implantação da Refinaria (Landulfo Alves), na década de 50, e depois do Polo (de Camaçari) nos anos 60 e teve um novo momento. E na década de 90, o Estado da Bahia começou a ser agressivo na atração de novos investimentos. Aí tivemos o setor calçadista, metalúrgico e a Ford, que representou talvez o momento mais alto, assim como a Monsanto e as empresas de pneus, como Firestone, Pirelli. E eu acho que essa continuidade se perdeu exatamente na implantação do novo governo. Ele ficou procurando entender, recriar a roda e não teve a disposição de enfrentar e planejar. Porque se perde um dia, perde dois, perde um mês, um semestre, ano, e o tempo vai passando.
Qual a sua avaliação da atual política de atração de investimentos no Estado ?
Outro dia, li uma reportagem que dizia que a Bahia está batendo recordes de aumento de empresas captadas. Oitocentas empresas, investimentos de R$ 1 bilhão. Eu vou ao interior e não existe isso. Propaganda é uma coisa, realidade é outra. Uma das marcas do meu mandato no Senado é receber empresários de áreas importantes para a Bahia para dizer que os seus pedidos e pleitos, especialmente a parte fiscal, quando levados ao governo, não tem seguimento. Não há uma interlocução que dê resultado junto ao governo. Não vejo o estado avançando. Outros, sim, mas não a Bahia. Semana passada, li que a Vale anunciou quatro novas siderúrgicas no Brasil: Ceará, Pará, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Por que não tem uma na Bahia já que nós temos uma província mineral? Estamos tratando de fazer uma ferrovia que está ainda na fase de projeto para escoar o nosso minério. Mas por que não conseguimos ter uma siderúrgica? O Ceará já tem, Pernambuco também. Tem também o problema dos têxteis. Pernambuco terminou levando o pólo têxtil para (o porto de) Suape. Eu acho que o governo do estado, talvez por ter muita ligação com o presidente Lula, tenha deitado em berço esplêndido achando que ele iria trazer tudo para cá por causa dessa ligação. Contudo, eu já vi o presidente Lula dizer que se o governador não o procura e não briga pelas suas coisas, há outros 27 governadores lutando pelas oportunidades e todos devem ser atendidos. Então quem não se preparar, não tiver projetos, provavelmente o presidente não vai tomar a frente. Ele é um catalisador, mas não é ele que vai implementar projetos. Muitas vezes vejo também o governador dizer que ele pensa o Brasil como um todo e a Bahia dentro do Nordeste. Acho correto, também penso assim, mas, independente disso, a estratégia baiana e a luta pela coisa baiana é sagrada, está em primeiro lugar. Sergipe, recentemente, levou parte da Azaléia para lá. É claro que Sergipe respeita a Bahia, mas se ele tiver chance, ele vai levar. Estamos praticamente caminhando para o final do governo e se falou de (montadoras como) Toyota, Chevy e uma série de indústrias e não consigo ver estas indústrias. Vejo a Bahia perdendo investimentos e temo que em breve Santa Catarina possa nos superar.
Muitos empresários dizem que a Bahia não tem infra-estrutura, especialmente portuária, para virar esse jogo. Mas o governo atual afirma que o problema vem dos governos anteriores não viabilizaram essa infra-estrutura para o estado.
Acho que a Bahia tem uma deficiência em ferrovias e em porto. Há problema com a Ferrovia Centro-Atlântica, que faz a ligação com o Sudeste, Sul e também do trecho Juazeiro-Aratu. E fala-se hoje na Leste-Oeste – que acho importante, estruturante -, mas continuamos com um grave déficit na Centro-Atlântica. Porque sequer o gargalo ferroviário de São Félix-Cahoeira foi ainda realizado. Temos que trabalhar para superar isso. Na área portuária, no ano 2000, foi feita aqui a concessão do Tecon. E o terminal começou a operar, sendo suficiente para a operação de contêineres do porto naquela época. Mas a economia, conforme nós esperávamos após a vinda da Ford, deu um salto. Praticamente dobrou o seu PIB. Então apareceu esta carência do porto, que chegou depois de 2005 ou 2006. O que se precisa agora é uma solução rápida, porque não tem saída. Acho que tem que se fazer um novo porto, ampliar o atual porto e retirar esse gargalo. O que fizemos na época foi o porto da Ford.
Sem ele seria milhares de carros saindo pelo porto de Salvador. A situação estaria pior...
Só no meu governo, em termos de porto, fizemos dois: o da Ford, construído pelo Estado e com compromisso com a empresa, e o chamado Dias Branco, que não foi feito com o estado, mas foi o estado que atraiu para cá. Conseguiu o terreno para a empresa e ela se implantou no meu governo. Hoje ele exporta, inclusive soja. Então a Codeba sempre foi uma área federal, difícil de tratar com ela e, neste sentido, precisávamos de uma solução. Eu sentia que existia esse problema da Codeba desde o ano de 2002, eu já saindo do governo. Era um problema que, não fosse o porto da Ford, ficaria mais agudo. Mas infelizmente o problema continua até hoje apesar dos dois portos novos, que já desoneraram bastante o porto de Salvador. Mas cada governo enfrenta seu desafio. Essa história de olhar para trás e querer projetar o futuro sempre no espelho retrovisor vai fazer com que se bata a cara no poste. Não adianta querer ficar culpando o governo passado. Tudo bem. Eles fizeram muita coisa, mas o atual tem que fazer sua parte, senão fica passivo para o futuro.
E em relação à malha rodoviária, como você vê o problema?
Nós tivemos um aumento considerável na qualidade das estradas federais na Bahia. Com exceção talvez da BR-324, porque ela estava há alguns anos para passar por um processo de privatização. Primeiro era uma Parceria Público-Privada (PPP), depois virou uma concessão, e isso fez com que este processo se delongasse, mas acho que agora está no processo final. Aí olho para isto e me lembro de uma coisa: A única rodovia concessionada no Norte-Nordeste do Brasil é a Linha Verde. Ela foi feita por César Borges, que sofreu críticas terríveis de tantas pessoas que não vou nem citar o nome. Houve protestos, fechamentos de estrada e tudo. Mas é a melhor rodovia do Norte-Nordeste. Criticaram a concessão. Pois bem. Hoje, toda saída, quando se procura para as rodovias, é através da concessão. Então o PT, que tanto criticava, hoje propõe. E está aí a concessão da BR-324 e da BR116. A modelagem, para resolver o problema do Polo, da BA-093, Via Parafuso, Cia/Aeroporto, é via concessão. E nem assim sai do papel. No meu tempo, com a reação contrária a Linha Verde, o que eu fiz? Peguei na época aproximadamente R$ 30 milhões, fiz a Via Cascalheira, melhorei a Via Parafuso, recuperei todo o canal de tráfego, para dar melhores condições ao Polo Petroquímico. Atualmente, não se recupera e fica esperando a modelagem pelo BNDES e até hoje não sabemos quando vai ser licitada, e o que vai acontecer a esse pólo industrial. Com a vinda da Ford, houve um aumento de demanda pela infra-estrutura e cada governo tem que acompanhar.
No seu governo, foi marcado por ações sociais, como o Sertão Forte e o Faz Cidadão. Essa forma de intervenção foi modificada. Qual a sua avaliação das políticas sociais do atual governo?
É possível trabalhar socialmente de várias formas. As que nós escolhemos foi trabalhar com as instituições formais, a exemplo das prefeituras, com a comunidade e buscando organizá-las. O Faz Cidadão, por exemplo, foi um programa em que pegávamos os 100 municípios baianos com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e aí íamos para a comunidade discutir e a comunidade dizia o que precisava ser feito, sem imposição da nossa parte. A estratégia do governo era ouvir e corresponder às demandas. Cada uma contava qual era o seu maior problema e ali nós fazíamos um “tour-de-force” com todas as secretarias para resolver aqueles problemas. E não tenho dúvida que isso elevou o IDH desses municípios e terminou melhorando a média do IDH Estado. Acho que ele foi um programa interessantíssimo e lamento que ainda não esteja em vigor. Mas eu dizia que você escolhe uma forma de atuar e ter um rebate no âmbito social. Então escola, saúde pública, segurança, para mim tudo isso rebate no social. No Faz Cidadão, o Sebrae ia para dento da cidade para também organizar os comerciantes e a produção. Foi um grande parceiro. Outra maneira é atuar num viés político e estruturado em cima de organizações político-sociais. Pode trabalhar com a Fetag, MST, com associações criadas para fortalecer politicamente deputado A ou B, ou controle político, e o atual governo priorizou por aí. Em lugar de trabalhar institucionalmente, preferiu fortalecer os movimentos. A meu ver, se dispersa muito esforço e recurso ao longo desse processo. Tem-se um controle político maior, mas não acho que tenha a eficácia que desejamos para um programa social efetivo do Estado.
Qual a sua avaliação da atual política de Segurança Pública na Bahia, Saúde e Educação?
Eu nem preciso dizer muita coisa porque os jornais já dizem tudo. Li até na Tribuna do Senado os jornais falando da insegurança. Primeiro tem a taxa de homicídios, segundo tem os bairros, que hoje são passíveis de toque de recolher. Hoje os traficantes dizem quem é que pode ou não pode passar nas escolas estaduais. O governo perdeu a força, que hoje é do crime. A secretaria de Segurança Pública bate cabeça, troca o secretário, comandante da PM e as coisas não melhoram. Vejam agora nomeação de 40 delegados. Ô, meu Deus, esses 40 delegados já estão concursados há 3 ou 4 anos e só agora nomeou 40, quando faltam 140. Precisou a PM fazer um movimento para se comprar coletes à prova de balas. Essa é a realidade da segurança. Se tinha problemas na Região Metropolitana e no entorno, hoje eles estão extensivos a todo o estado. Mesmo nas pequenas cidades você tem tráfico de drogas, assalto a bancos, ônibus. Se formos para a Educação, me lembro que no meu governo construí uma rede de colégios-modelos chamados Luis Eduardo Magalhães. Foram 5 colégios nas principais cidades da Bahia. Acontece que esse trabalho foi descontinuado, se vê muito destes colégios sucateados. Trocaram a filosofia dos colégios. Não é mais para ser um colégio-modelo, mas sim para o ensino técnico. Mas o ensino técnico não tem professores qualificados. O ensino técnico é muito bom, mas se não tiver um tecnólogo ali para ensinar, aplicar, fica tudo só na palavra. Então vejo que a rede não foi ampliada, muito pelo contrário, a evasão chegará este ano a 325 mil alunos. E nos comportamos como se tudo estivesse resolvido do ponto de vista educacional, mas não está. E aí parte-se para a tal “enturmação”, que é inacreditável. Colocar uma quantidade de alunos grande dentro de uma sala, com um aproveitamento pedagógico mínimo.
E o ensino universitário?
Se olharmos pára o ensino universitário, diria que as instituições federais na Bahia avançaram. A UFBA, a do Vale do São Francisco e do Recôncavo avançaram. Mas as quatro estaduais, que foram conquistas do povo baiano, hoje o governo trata como sendo algo não-prioritário. Faltam recursos, professores, condições físicas. Onde eu vou no interior vejo alunos da Uneb, Uesc, Uesb e Uefs protestando por falta de condições de funcionamento. E já ouvi o governador dizendo que educação de terceiro nível não é responsabilidade dele, mas do governo federal. E não é. Acho que a Bahia sofreu muitos anos com uma única universidade federal. Os governos antes de Lula ficaram com este débito na Bahia. Era inaceitável um estado como a Bahia ter apenas uma universidade federal. O governo Lula acertou muito ao inaugurar duas novas federais na Bahia, mas isto não quer dizer que o governo estadual vá deixar de ampliar, melhorar ou prestigiar as nossas universidades estaduais por causa disso.
E a gestão estadual da saúde?
Em relação à Saúde, tentam desmerecer tudo o que foi feito no passado. E aí há que se fazer justiça, por exemplo, ao governo Paulo Souto. Eu participei da inauguração do Hospital do Oeste, em Barreiras, da Maternidade Zezito Magalhães, em Salvador, de hospital em Alagoinhas, vi a retomada no Hospital de Irecê. E o governo atual diz que nada foi feito, paralisa as obras que estavam em andamento, leva dois anos para concluir e reinaugura a obra que já estava com o seu início bastante atrasado. E por outro lado eu vejo uma dificuldade em se fazer internamentos. Não se consegue internar porque há uma burocracia través da locação dos leitos em diversos hospitais que cria uma dificuldade imensa. E aí acontece tanto no setor público quanto no privado. Há centrais de regulação que terminam sendo problemáticas e não atendem a população. Recentemente tivemos um surto de dengue, em 2002, que foi combatido e, a partir dos anos seguintes, não houve mais nenhum outro. No início do atual governo, no ano de 2007, não houve dengue porque estava tudo combatido. Quando chega 2009, estoura um recorde histórico de casos de dengue, enquanto em outros estados caiu muito. E quando o Ministério da Saúde já havia alertado o estado quanto ao risco de surto de dengue. Então eu acho que a Saúde também é um setor muito fragilizado no atual governo. E isso reflete tudo no social. Você não vê a população bem assistida. Vê muita propaganda, mas ela não resolve tudo, principalmente se ela não for baseada em fatos reais.
Vamos falar um pouco de política. Ano que vem é tempo de eleições estaduais e municipais e o seu partido (PR) faz parte da base do presidente Lula. O PR vai apoiar a chapa do presidente?
Tenho conversado muito com a direção nacional do partido. Ela está na base do governo e nós temos procurado apoiar o governo Lula porque acho que ele tem méritos. Quando vim ao PR, eu disse que fui crítico da política econômica dele nos primeiros três anos de governo. Teve ano em que o Brasil cresceu 0,8%. Mas eu tinha de dar o crédito, porque ele fez o aperto do cinto na hora certa e eu tinha que reconhecer o mérito da sua política econômica, apesar dos fatos que aconteceram extra-ação econômica, mas com Palocci como um grande Ministro da Fazenda, segurando com metas de inflação e superávit primário a economia naquele momento foi controlada. Com Palocci, ela continuou o ajuste herdado do governo Fernando Henrique. Inclusive aquele impacto negativo da expectativa Lula-PT, que causou sérios problemas em 2002 as vésperas da eleição. Ele teve esse bom-senso de manter as linhas macroeconômicas de sustentabilidade e os resultados foram sendo colhidos no seu segundo mandato, com um crescimento de PIB que não é o desejável ainda para um país emergente como o Brasil, porque nós queríamos um crescimento do nível da China, mas também temos que considerar que não tínhamos um patamar tão baixo quanto a Índia e China. O Brasil não estava tão baixo. Quando se está de médio para elevado, fica mais difícil crescer. Por isto mesmo, nós damos apoio. Eu acho que o enfrentamento da crise, que não foi uma marolinha, mas também não foi um tsunami, e isso porque o governo soube atuar. Mas o nosso acordo é para o governo Lula. Não há nenhum acordo para o que vai acontecer no futuro, nas eleições de 2010. E não é a situação do PR apenas, mas também de vários partidos que ainda não se definiram sobre as próximas eleições. O quadro ainda é bastante nebuloso para você dizer o que vai fazer em 2010. O PR não tem nenhum compromisso automático para nenhuma candidatura em 2010. Isso será motivo de conversas que só se darão a partir do ano que vem.
Como senhor vê a crise do Senado? A crise já acabou, os trabalhos serão retomados?
Eu espero que a crise tenha diminuído e que agora sejam retomados os trabalhos que, diga-se de passagem, não foram paralisados. Há pouco tempo, o próprio Senado divulgava que o primeiro semestre foi um período de altíssima produtividade comparado com outros anos. A crise não veio a atrapalhar tanto a produtividade do Senado, mas atingiu a credibilidade dele. Eu acho que o Senado é necessário ao país, é a casa representativa dos estados. Então acabar com o Senado é um grande desserviço aos estados menores. Porque só quem vai mandar são os estados mais desenvolvidos e que têm maioria na Câmara dos Deputados pela proporcionalidade. Se há equívocos no Senado, vamos corrigir. Acho que há graves erros lá ou houve. Tinha uma burocracia muito forte lá dentro, onde tinha um diretor-geral que estava há 14 anos sendo reconduzido. Eu não gosto de nada que demore 14 anos na mesma posição. A melhor forma é que também se dê um mandato de dois anos a um diretor-geral, renovável por outros dois. Mas não. O diretor era escolhido pelos presidentes e eles os mantinham lá porque, ao chegar ali, encontravam uma estrutura forte e difícil de desmontar. Cheguei ao senado em 2003 e lá encontrei toda uma estrutura e um senador só tentar mudar isso fica até quixotesco. É uma coisa tão pesada que você prefere cuidar da coisa política, que são as comissões, apresentar projeto de lei, apresentar projetos em plenário. Mas nós tínhamos problemas no âmbito administrativo e ele também contamina os próprios senadores. Para que eles concedam determinadas benesses, eles terminam fazendo determinadas concessões para envolver a todos. Isso é o que foi, de certa forma, exposto. Agora o cuidado é, sem matar o paciente, extirpar o mal e fazer uma estrutura enxuta e digna para o Senado, que tenha toda a legitimidade e economicidade e se faça da melhor forma. A crise, no fundo, foi salutar. Se aproveitarmos tudo isso e tomarmos todas as medidas para sanear o Senado.
Nas atuais pesquisas, o seu nome está bem colocado em intenções de voto para o Senado. O Senado é uma opção natural, mas você nunca pensou em colocar o seu nome para o Governo do Estado?
Pensei, sim. Inclusive algumas pesquisas me colocaram muito bem. Mas senti que as candidaturas se consolidavam através de partidos grandes. Você tem o DEM, que fez uma aliança com o PSDB e lançaram o nome de Paulo Souto. O PMDB lança o ministro Geddel Vieira Lima, e é um partido forte, que tem uma estrutura administrativa pesada. E o PT e vários outros partidos com um trabalho de cooptação. Então são estruturas fortes que o PR, sozinho, não tem condições de ter algum desses partidos ao lado, porque dificilmente algum desses partidos grandes vai abrir mão em nome de outra pessoa de fora. Então eu vi que naquele momento era melhor em me colocar como candidato a reeleição e é nessa condição em que eu me encontro.
Entre as chapas que já estão postas, em qual delas abrigará sua candidatura ao Senado?
Primeiro ponto: estou em oposição ao governo Wagner. Então quero construir um novo projeto para a Bahia. Temos duas propostas: uma do ex-governador Paulo Souto, que é um pessoa respeitada e séria e tem estrutura partidária com ele, e também temos o ministro Geddel Vieira Lima. Um homem ainda relativamente novo, chegou a ministro de Estado e fez um belo trabalho com atração de obras para Salvador e diversos municípios do interior. E ele também teve a coragem de romper com uma estrutura onde ele tinha cargos e comprometimento por ter ajudado a eleger ao governador, mas chegou determinado momento em que ele disseque o governo é incompetente e não era o que ele desejava para a Bahia. Acho que ele tem todo o direito de fazer isso. Então tenho conversado com as duas correntes e já disse que se considerar o ponto de visto de amizade, conhecimento pessoal e direcionamento natural, a escolha seria Paulo Souto. Mas isso não afeta de forma nenhuma meu diálogo com o ministro Geddel Vieira Lima. Porque política se faz em vários momentos. Construir isso é importante para construir a vitória para 2010.
Otto Alencar, ex-vice-governador e conselheiro do Tribunal de Contas sempre foi aliado democrata, mas agora, ao que parece, vai apoiar o governo. Como o senhor vê essa atitude?
Eu acho que ele tem liberdade para definir sua posição política. Fiz uma carreira política muito paralela à de Otto Alencar. Fizemos juntos uma caminhada. Ele sempre foi do grupo ligado a Antônio Carlos Magalhães e foi alçado a secretário de Estado quando eu também fui. Então eu lamento que a posição dele seja com nossos ex-adversários. Tenho a lamentar mas respeito. Agora quando ele vai para o Tribunal de Contas, ser conselheiro, o nome diz que é isso o que você vai ser: conselheiro. E não fazer política partidária. Mas se ele vai mesmo sair do Tribunal para fazer política partidária, ele estará aí num campo aberto como todos os outros. Conselheiro, a meu ver, é para aconselhar e julgar e dificilmente seria aceitável ficar fazendo política.
No Senado, você apresentou projetos sobre o FGTS e sobre as trabalhadoras domésticas. Quais são os benefícios que estes projetos trarão para a Bahia e o Brasil?
Para minha satisfação, eu sou o senador do Nordeste que tem mais projetos aprovados. Porque se pode ter muitos projetos e eles ou não tramitam ou ficam presos em comissões. Mas eu tenho cinco projetos já sancionados pela presidência da República. O último, inclusive, é aquele que dá prioridade de tramitação de projetos judiciais e administrativos para pessoas acima de 60 anos e portadoras de doença grave. Estas pessoas não podem esperar muito tempo e estas pessoas terão seus processos carimbados como prioritários. Os outros dois que você falou estão tramitando, mas já foram aprovados por comissões. Um deles é transformar as empregadas domésticas em uma pessoa que pode ter um plano de saúde privado e quem emprega poderá deduzir isso do seu imposto de renda. O do FGTS propõe que nas contas dos cotistas – o dono do dinheiro do trabalhador – haja uma correção de Taxa Referencial (TR) mais 1,5%, totalizando 4,5%. Nos últimos anos, houve uma perda de 13%. Ora, mas quando se aplica o dinheiro do FGTS seja emprestando a prefeituras ou estados ou governos através de títulos públicos, tem correção em Selic. Isso dá lucro, mas esse lucro vai para onde? Ele fica capitalizado no fundo, mas não vai para a conta do trabalhador. Esse dinheiro é do cotista. Então a proposta é que pelo menos metade desse lucro vá para a conta do trabalhador. E isso não vai descapitalizar o fundo porque ele continua com o mesmo capital. Vamos apenas redistribuir entre todas as contas., Não vai atrapalhar a capacidade de emprestar para o governo, construção civil, habitação popular em nada disso, porque o saque só se dará nos casos efetivos em que se puder fazê-los e então nem se cria nenhuma dificuldade para o fundo e ao mesmo tempo melhora a condição do trabalhador.
Suas considerações finais.
Eu, como elemento político baiano que desempenhou tantos cargos, inclusive o de governador e senador, acho que a obrigação de todos nós é tentar fazer o melhor possível. Acho que pelo menos é o que os políticos tentam fazer. Não acho que seja uma boa linha você trabalhar ou propor desmoralização do mundo político, é um desserviço à democracia brasileira. Acho que temos, ao contrário, valorizar os políticos e cobrar deles atuação. Apesar das críticas que eu faço ao governo, não é para desmerecê-lo. É para que ele se corrija. Normalmente faço discursos fazendo apelos. Apelo para que o governo da Bahia possa olhar mais para a segurança, municípios e assim por diante. Acho que a crítica tem que ser construtiva. E é assim que tenho baseado a minha atuação parlamentar, conquistando o respeito de meus pares e também do povo da Bahia. Porque quem vê televisão e ouve rádio, vê a minha atuação, conhece os meus projetos. Eu tenho relatado projetos, como o relacionado a renegociação do contrato de fornecimento de energia da Chesf para indústrias baianas e conseguimos uma pactuação com o governo para prorrogar até 2015. Relatei o estatuto do desarmamento, o marco regulatório do setor de saneamento e muitos outros. Então vou continuar no Senado até o final do meu mandato e, se merecer a confiança do povo da Bahia, claro que vou lutar para continuar trabalhando pelo Estado. Afinal de contas, eu estou muito novo para sair da política.
(Com informações da Assessoria de Imprensa do senador César Borges)
César Borges – Nos últimos anos, vários atores surgiram na cena econômica do país com mais competitividade. São estados que antes tinham administrações não tão ligados na questão econômica e na procura de oportunidades. Vou citar o caso de Pernambuco, que deu um salto na economia e na capacidade de atração de novos investimentos. Pernambuco montou uma estrutura administrativa determinada a planejar e colocar em execução e instrumentos eficazes de apoio – seja fiscal, financeiro ou de infra-estrutura – para disputar com os outros estados novos investimentos. Os estados que não fizeram assim estão em desvantagem competitiva. É este momento que eu acho que a Bahia está passando. Nós tínhamos um planejamento do desenvolvimento, com as linhas de atuação e atraímos indústrias, e vou dar o exemplo do setor calçadista em meu governo. Nós estávamos construindo um pólo, era o momento de verticalizar para ter todos os segmentos da atividade industrial aqui na Bahia. Fizemos esse trabalho e trouxemos dezenas de indústrias calçadistas; Acho que este trabalho foi descontinuado. Por outro lado, tínhamos visão de que a Bahia tinha que caminhar para ser economia moderna e cada vez mais produzir bens de consumo duráveis. Após, a implantação da Refinaria (Landulfo Alves), na década de 50, e depois do Polo (de Camaçari) nos anos 60 e teve um novo momento. E na década de 90, o Estado da Bahia começou a ser agressivo na atração de novos investimentos. Aí tivemos o setor calçadista, metalúrgico e a Ford, que representou talvez o momento mais alto, assim como a Monsanto e as empresas de pneus, como Firestone, Pirelli. E eu acho que essa continuidade se perdeu exatamente na implantação do novo governo. Ele ficou procurando entender, recriar a roda e não teve a disposição de enfrentar e planejar. Porque se perde um dia, perde dois, perde um mês, um semestre, ano, e o tempo vai passando.
Qual a sua avaliação da atual política de atração de investimentos no Estado ?
Outro dia, li uma reportagem que dizia que a Bahia está batendo recordes de aumento de empresas captadas. Oitocentas empresas, investimentos de R$ 1 bilhão. Eu vou ao interior e não existe isso. Propaganda é uma coisa, realidade é outra. Uma das marcas do meu mandato no Senado é receber empresários de áreas importantes para a Bahia para dizer que os seus pedidos e pleitos, especialmente a parte fiscal, quando levados ao governo, não tem seguimento. Não há uma interlocução que dê resultado junto ao governo. Não vejo o estado avançando. Outros, sim, mas não a Bahia. Semana passada, li que a Vale anunciou quatro novas siderúrgicas no Brasil: Ceará, Pará, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Por que não tem uma na Bahia já que nós temos uma província mineral? Estamos tratando de fazer uma ferrovia que está ainda na fase de projeto para escoar o nosso minério. Mas por que não conseguimos ter uma siderúrgica? O Ceará já tem, Pernambuco também. Tem também o problema dos têxteis. Pernambuco terminou levando o pólo têxtil para (o porto de) Suape. Eu acho que o governo do estado, talvez por ter muita ligação com o presidente Lula, tenha deitado em berço esplêndido achando que ele iria trazer tudo para cá por causa dessa ligação. Contudo, eu já vi o presidente Lula dizer que se o governador não o procura e não briga pelas suas coisas, há outros 27 governadores lutando pelas oportunidades e todos devem ser atendidos. Então quem não se preparar, não tiver projetos, provavelmente o presidente não vai tomar a frente. Ele é um catalisador, mas não é ele que vai implementar projetos. Muitas vezes vejo também o governador dizer que ele pensa o Brasil como um todo e a Bahia dentro do Nordeste. Acho correto, também penso assim, mas, independente disso, a estratégia baiana e a luta pela coisa baiana é sagrada, está em primeiro lugar. Sergipe, recentemente, levou parte da Azaléia para lá. É claro que Sergipe respeita a Bahia, mas se ele tiver chance, ele vai levar. Estamos praticamente caminhando para o final do governo e se falou de (montadoras como) Toyota, Chevy e uma série de indústrias e não consigo ver estas indústrias. Vejo a Bahia perdendo investimentos e temo que em breve Santa Catarina possa nos superar.
Muitos empresários dizem que a Bahia não tem infra-estrutura, especialmente portuária, para virar esse jogo. Mas o governo atual afirma que o problema vem dos governos anteriores não viabilizaram essa infra-estrutura para o estado.
Acho que a Bahia tem uma deficiência em ferrovias e em porto. Há problema com a Ferrovia Centro-Atlântica, que faz a ligação com o Sudeste, Sul e também do trecho Juazeiro-Aratu. E fala-se hoje na Leste-Oeste – que acho importante, estruturante -, mas continuamos com um grave déficit na Centro-Atlântica. Porque sequer o gargalo ferroviário de São Félix-Cahoeira foi ainda realizado. Temos que trabalhar para superar isso. Na área portuária, no ano 2000, foi feita aqui a concessão do Tecon. E o terminal começou a operar, sendo suficiente para a operação de contêineres do porto naquela época. Mas a economia, conforme nós esperávamos após a vinda da Ford, deu um salto. Praticamente dobrou o seu PIB. Então apareceu esta carência do porto, que chegou depois de 2005 ou 2006. O que se precisa agora é uma solução rápida, porque não tem saída. Acho que tem que se fazer um novo porto, ampliar o atual porto e retirar esse gargalo. O que fizemos na época foi o porto da Ford.
Sem ele seria milhares de carros saindo pelo porto de Salvador. A situação estaria pior...
Só no meu governo, em termos de porto, fizemos dois: o da Ford, construído pelo Estado e com compromisso com a empresa, e o chamado Dias Branco, que não foi feito com o estado, mas foi o estado que atraiu para cá. Conseguiu o terreno para a empresa e ela se implantou no meu governo. Hoje ele exporta, inclusive soja. Então a Codeba sempre foi uma área federal, difícil de tratar com ela e, neste sentido, precisávamos de uma solução. Eu sentia que existia esse problema da Codeba desde o ano de 2002, eu já saindo do governo. Era um problema que, não fosse o porto da Ford, ficaria mais agudo. Mas infelizmente o problema continua até hoje apesar dos dois portos novos, que já desoneraram bastante o porto de Salvador. Mas cada governo enfrenta seu desafio. Essa história de olhar para trás e querer projetar o futuro sempre no espelho retrovisor vai fazer com que se bata a cara no poste. Não adianta querer ficar culpando o governo passado. Tudo bem. Eles fizeram muita coisa, mas o atual tem que fazer sua parte, senão fica passivo para o futuro.
E em relação à malha rodoviária, como você vê o problema?
Nós tivemos um aumento considerável na qualidade das estradas federais na Bahia. Com exceção talvez da BR-324, porque ela estava há alguns anos para passar por um processo de privatização. Primeiro era uma Parceria Público-Privada (PPP), depois virou uma concessão, e isso fez com que este processo se delongasse, mas acho que agora está no processo final. Aí olho para isto e me lembro de uma coisa: A única rodovia concessionada no Norte-Nordeste do Brasil é a Linha Verde. Ela foi feita por César Borges, que sofreu críticas terríveis de tantas pessoas que não vou nem citar o nome. Houve protestos, fechamentos de estrada e tudo. Mas é a melhor rodovia do Norte-Nordeste. Criticaram a concessão. Pois bem. Hoje, toda saída, quando se procura para as rodovias, é através da concessão. Então o PT, que tanto criticava, hoje propõe. E está aí a concessão da BR-324 e da BR116. A modelagem, para resolver o problema do Polo, da BA-093, Via Parafuso, Cia/Aeroporto, é via concessão. E nem assim sai do papel. No meu tempo, com a reação contrária a Linha Verde, o que eu fiz? Peguei na época aproximadamente R$ 30 milhões, fiz a Via Cascalheira, melhorei a Via Parafuso, recuperei todo o canal de tráfego, para dar melhores condições ao Polo Petroquímico. Atualmente, não se recupera e fica esperando a modelagem pelo BNDES e até hoje não sabemos quando vai ser licitada, e o que vai acontecer a esse pólo industrial. Com a vinda da Ford, houve um aumento de demanda pela infra-estrutura e cada governo tem que acompanhar.
No seu governo, foi marcado por ações sociais, como o Sertão Forte e o Faz Cidadão. Essa forma de intervenção foi modificada. Qual a sua avaliação das políticas sociais do atual governo?
É possível trabalhar socialmente de várias formas. As que nós escolhemos foi trabalhar com as instituições formais, a exemplo das prefeituras, com a comunidade e buscando organizá-las. O Faz Cidadão, por exemplo, foi um programa em que pegávamos os 100 municípios baianos com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e aí íamos para a comunidade discutir e a comunidade dizia o que precisava ser feito, sem imposição da nossa parte. A estratégia do governo era ouvir e corresponder às demandas. Cada uma contava qual era o seu maior problema e ali nós fazíamos um “tour-de-force” com todas as secretarias para resolver aqueles problemas. E não tenho dúvida que isso elevou o IDH desses municípios e terminou melhorando a média do IDH Estado. Acho que ele foi um programa interessantíssimo e lamento que ainda não esteja em vigor. Mas eu dizia que você escolhe uma forma de atuar e ter um rebate no âmbito social. Então escola, saúde pública, segurança, para mim tudo isso rebate no social. No Faz Cidadão, o Sebrae ia para dento da cidade para também organizar os comerciantes e a produção. Foi um grande parceiro. Outra maneira é atuar num viés político e estruturado em cima de organizações político-sociais. Pode trabalhar com a Fetag, MST, com associações criadas para fortalecer politicamente deputado A ou B, ou controle político, e o atual governo priorizou por aí. Em lugar de trabalhar institucionalmente, preferiu fortalecer os movimentos. A meu ver, se dispersa muito esforço e recurso ao longo desse processo. Tem-se um controle político maior, mas não acho que tenha a eficácia que desejamos para um programa social efetivo do Estado.
Qual a sua avaliação da atual política de Segurança Pública na Bahia, Saúde e Educação?
Eu nem preciso dizer muita coisa porque os jornais já dizem tudo. Li até na Tribuna do Senado os jornais falando da insegurança. Primeiro tem a taxa de homicídios, segundo tem os bairros, que hoje são passíveis de toque de recolher. Hoje os traficantes dizem quem é que pode ou não pode passar nas escolas estaduais. O governo perdeu a força, que hoje é do crime. A secretaria de Segurança Pública bate cabeça, troca o secretário, comandante da PM e as coisas não melhoram. Vejam agora nomeação de 40 delegados. Ô, meu Deus, esses 40 delegados já estão concursados há 3 ou 4 anos e só agora nomeou 40, quando faltam 140. Precisou a PM fazer um movimento para se comprar coletes à prova de balas. Essa é a realidade da segurança. Se tinha problemas na Região Metropolitana e no entorno, hoje eles estão extensivos a todo o estado. Mesmo nas pequenas cidades você tem tráfico de drogas, assalto a bancos, ônibus. Se formos para a Educação, me lembro que no meu governo construí uma rede de colégios-modelos chamados Luis Eduardo Magalhães. Foram 5 colégios nas principais cidades da Bahia. Acontece que esse trabalho foi descontinuado, se vê muito destes colégios sucateados. Trocaram a filosofia dos colégios. Não é mais para ser um colégio-modelo, mas sim para o ensino técnico. Mas o ensino técnico não tem professores qualificados. O ensino técnico é muito bom, mas se não tiver um tecnólogo ali para ensinar, aplicar, fica tudo só na palavra. Então vejo que a rede não foi ampliada, muito pelo contrário, a evasão chegará este ano a 325 mil alunos. E nos comportamos como se tudo estivesse resolvido do ponto de vista educacional, mas não está. E aí parte-se para a tal “enturmação”, que é inacreditável. Colocar uma quantidade de alunos grande dentro de uma sala, com um aproveitamento pedagógico mínimo.
E o ensino universitário?
Se olharmos pára o ensino universitário, diria que as instituições federais na Bahia avançaram. A UFBA, a do Vale do São Francisco e do Recôncavo avançaram. Mas as quatro estaduais, que foram conquistas do povo baiano, hoje o governo trata como sendo algo não-prioritário. Faltam recursos, professores, condições físicas. Onde eu vou no interior vejo alunos da Uneb, Uesc, Uesb e Uefs protestando por falta de condições de funcionamento. E já ouvi o governador dizendo que educação de terceiro nível não é responsabilidade dele, mas do governo federal. E não é. Acho que a Bahia sofreu muitos anos com uma única universidade federal. Os governos antes de Lula ficaram com este débito na Bahia. Era inaceitável um estado como a Bahia ter apenas uma universidade federal. O governo Lula acertou muito ao inaugurar duas novas federais na Bahia, mas isto não quer dizer que o governo estadual vá deixar de ampliar, melhorar ou prestigiar as nossas universidades estaduais por causa disso.
E a gestão estadual da saúde?
Em relação à Saúde, tentam desmerecer tudo o que foi feito no passado. E aí há que se fazer justiça, por exemplo, ao governo Paulo Souto. Eu participei da inauguração do Hospital do Oeste, em Barreiras, da Maternidade Zezito Magalhães, em Salvador, de hospital em Alagoinhas, vi a retomada no Hospital de Irecê. E o governo atual diz que nada foi feito, paralisa as obras que estavam em andamento, leva dois anos para concluir e reinaugura a obra que já estava com o seu início bastante atrasado. E por outro lado eu vejo uma dificuldade em se fazer internamentos. Não se consegue internar porque há uma burocracia través da locação dos leitos em diversos hospitais que cria uma dificuldade imensa. E aí acontece tanto no setor público quanto no privado. Há centrais de regulação que terminam sendo problemáticas e não atendem a população. Recentemente tivemos um surto de dengue, em 2002, que foi combatido e, a partir dos anos seguintes, não houve mais nenhum outro. No início do atual governo, no ano de 2007, não houve dengue porque estava tudo combatido. Quando chega 2009, estoura um recorde histórico de casos de dengue, enquanto em outros estados caiu muito. E quando o Ministério da Saúde já havia alertado o estado quanto ao risco de surto de dengue. Então eu acho que a Saúde também é um setor muito fragilizado no atual governo. E isso reflete tudo no social. Você não vê a população bem assistida. Vê muita propaganda, mas ela não resolve tudo, principalmente se ela não for baseada em fatos reais.
Vamos falar um pouco de política. Ano que vem é tempo de eleições estaduais e municipais e o seu partido (PR) faz parte da base do presidente Lula. O PR vai apoiar a chapa do presidente?
Tenho conversado muito com a direção nacional do partido. Ela está na base do governo e nós temos procurado apoiar o governo Lula porque acho que ele tem méritos. Quando vim ao PR, eu disse que fui crítico da política econômica dele nos primeiros três anos de governo. Teve ano em que o Brasil cresceu 0,8%. Mas eu tinha de dar o crédito, porque ele fez o aperto do cinto na hora certa e eu tinha que reconhecer o mérito da sua política econômica, apesar dos fatos que aconteceram extra-ação econômica, mas com Palocci como um grande Ministro da Fazenda, segurando com metas de inflação e superávit primário a economia naquele momento foi controlada. Com Palocci, ela continuou o ajuste herdado do governo Fernando Henrique. Inclusive aquele impacto negativo da expectativa Lula-PT, que causou sérios problemas em 2002 as vésperas da eleição. Ele teve esse bom-senso de manter as linhas macroeconômicas de sustentabilidade e os resultados foram sendo colhidos no seu segundo mandato, com um crescimento de PIB que não é o desejável ainda para um país emergente como o Brasil, porque nós queríamos um crescimento do nível da China, mas também temos que considerar que não tínhamos um patamar tão baixo quanto a Índia e China. O Brasil não estava tão baixo. Quando se está de médio para elevado, fica mais difícil crescer. Por isto mesmo, nós damos apoio. Eu acho que o enfrentamento da crise, que não foi uma marolinha, mas também não foi um tsunami, e isso porque o governo soube atuar. Mas o nosso acordo é para o governo Lula. Não há nenhum acordo para o que vai acontecer no futuro, nas eleições de 2010. E não é a situação do PR apenas, mas também de vários partidos que ainda não se definiram sobre as próximas eleições. O quadro ainda é bastante nebuloso para você dizer o que vai fazer em 2010. O PR não tem nenhum compromisso automático para nenhuma candidatura em 2010. Isso será motivo de conversas que só se darão a partir do ano que vem.
Como senhor vê a crise do Senado? A crise já acabou, os trabalhos serão retomados?
Eu espero que a crise tenha diminuído e que agora sejam retomados os trabalhos que, diga-se de passagem, não foram paralisados. Há pouco tempo, o próprio Senado divulgava que o primeiro semestre foi um período de altíssima produtividade comparado com outros anos. A crise não veio a atrapalhar tanto a produtividade do Senado, mas atingiu a credibilidade dele. Eu acho que o Senado é necessário ao país, é a casa representativa dos estados. Então acabar com o Senado é um grande desserviço aos estados menores. Porque só quem vai mandar são os estados mais desenvolvidos e que têm maioria na Câmara dos Deputados pela proporcionalidade. Se há equívocos no Senado, vamos corrigir. Acho que há graves erros lá ou houve. Tinha uma burocracia muito forte lá dentro, onde tinha um diretor-geral que estava há 14 anos sendo reconduzido. Eu não gosto de nada que demore 14 anos na mesma posição. A melhor forma é que também se dê um mandato de dois anos a um diretor-geral, renovável por outros dois. Mas não. O diretor era escolhido pelos presidentes e eles os mantinham lá porque, ao chegar ali, encontravam uma estrutura forte e difícil de desmontar. Cheguei ao senado em 2003 e lá encontrei toda uma estrutura e um senador só tentar mudar isso fica até quixotesco. É uma coisa tão pesada que você prefere cuidar da coisa política, que são as comissões, apresentar projeto de lei, apresentar projetos em plenário. Mas nós tínhamos problemas no âmbito administrativo e ele também contamina os próprios senadores. Para que eles concedam determinadas benesses, eles terminam fazendo determinadas concessões para envolver a todos. Isso é o que foi, de certa forma, exposto. Agora o cuidado é, sem matar o paciente, extirpar o mal e fazer uma estrutura enxuta e digna para o Senado, que tenha toda a legitimidade e economicidade e se faça da melhor forma. A crise, no fundo, foi salutar. Se aproveitarmos tudo isso e tomarmos todas as medidas para sanear o Senado.
Nas atuais pesquisas, o seu nome está bem colocado em intenções de voto para o Senado. O Senado é uma opção natural, mas você nunca pensou em colocar o seu nome para o Governo do Estado?
Pensei, sim. Inclusive algumas pesquisas me colocaram muito bem. Mas senti que as candidaturas se consolidavam através de partidos grandes. Você tem o DEM, que fez uma aliança com o PSDB e lançaram o nome de Paulo Souto. O PMDB lança o ministro Geddel Vieira Lima, e é um partido forte, que tem uma estrutura administrativa pesada. E o PT e vários outros partidos com um trabalho de cooptação. Então são estruturas fortes que o PR, sozinho, não tem condições de ter algum desses partidos ao lado, porque dificilmente algum desses partidos grandes vai abrir mão em nome de outra pessoa de fora. Então eu vi que naquele momento era melhor em me colocar como candidato a reeleição e é nessa condição em que eu me encontro.
Entre as chapas que já estão postas, em qual delas abrigará sua candidatura ao Senado?
Primeiro ponto: estou em oposição ao governo Wagner. Então quero construir um novo projeto para a Bahia. Temos duas propostas: uma do ex-governador Paulo Souto, que é um pessoa respeitada e séria e tem estrutura partidária com ele, e também temos o ministro Geddel Vieira Lima. Um homem ainda relativamente novo, chegou a ministro de Estado e fez um belo trabalho com atração de obras para Salvador e diversos municípios do interior. E ele também teve a coragem de romper com uma estrutura onde ele tinha cargos e comprometimento por ter ajudado a eleger ao governador, mas chegou determinado momento em que ele disseque o governo é incompetente e não era o que ele desejava para a Bahia. Acho que ele tem todo o direito de fazer isso. Então tenho conversado com as duas correntes e já disse que se considerar o ponto de visto de amizade, conhecimento pessoal e direcionamento natural, a escolha seria Paulo Souto. Mas isso não afeta de forma nenhuma meu diálogo com o ministro Geddel Vieira Lima. Porque política se faz em vários momentos. Construir isso é importante para construir a vitória para 2010.
Otto Alencar, ex-vice-governador e conselheiro do Tribunal de Contas sempre foi aliado democrata, mas agora, ao que parece, vai apoiar o governo. Como o senhor vê essa atitude?
Eu acho que ele tem liberdade para definir sua posição política. Fiz uma carreira política muito paralela à de Otto Alencar. Fizemos juntos uma caminhada. Ele sempre foi do grupo ligado a Antônio Carlos Magalhães e foi alçado a secretário de Estado quando eu também fui. Então eu lamento que a posição dele seja com nossos ex-adversários. Tenho a lamentar mas respeito. Agora quando ele vai para o Tribunal de Contas, ser conselheiro, o nome diz que é isso o que você vai ser: conselheiro. E não fazer política partidária. Mas se ele vai mesmo sair do Tribunal para fazer política partidária, ele estará aí num campo aberto como todos os outros. Conselheiro, a meu ver, é para aconselhar e julgar e dificilmente seria aceitável ficar fazendo política.
No Senado, você apresentou projetos sobre o FGTS e sobre as trabalhadoras domésticas. Quais são os benefícios que estes projetos trarão para a Bahia e o Brasil?
Para minha satisfação, eu sou o senador do Nordeste que tem mais projetos aprovados. Porque se pode ter muitos projetos e eles ou não tramitam ou ficam presos em comissões. Mas eu tenho cinco projetos já sancionados pela presidência da República. O último, inclusive, é aquele que dá prioridade de tramitação de projetos judiciais e administrativos para pessoas acima de 60 anos e portadoras de doença grave. Estas pessoas não podem esperar muito tempo e estas pessoas terão seus processos carimbados como prioritários. Os outros dois que você falou estão tramitando, mas já foram aprovados por comissões. Um deles é transformar as empregadas domésticas em uma pessoa que pode ter um plano de saúde privado e quem emprega poderá deduzir isso do seu imposto de renda. O do FGTS propõe que nas contas dos cotistas – o dono do dinheiro do trabalhador – haja uma correção de Taxa Referencial (TR) mais 1,5%, totalizando 4,5%. Nos últimos anos, houve uma perda de 13%. Ora, mas quando se aplica o dinheiro do FGTS seja emprestando a prefeituras ou estados ou governos através de títulos públicos, tem correção em Selic. Isso dá lucro, mas esse lucro vai para onde? Ele fica capitalizado no fundo, mas não vai para a conta do trabalhador. Esse dinheiro é do cotista. Então a proposta é que pelo menos metade desse lucro vá para a conta do trabalhador. E isso não vai descapitalizar o fundo porque ele continua com o mesmo capital. Vamos apenas redistribuir entre todas as contas., Não vai atrapalhar a capacidade de emprestar para o governo, construção civil, habitação popular em nada disso, porque o saque só se dará nos casos efetivos em que se puder fazê-los e então nem se cria nenhuma dificuldade para o fundo e ao mesmo tempo melhora a condição do trabalhador.
Suas considerações finais.
Eu, como elemento político baiano que desempenhou tantos cargos, inclusive o de governador e senador, acho que a obrigação de todos nós é tentar fazer o melhor possível. Acho que pelo menos é o que os políticos tentam fazer. Não acho que seja uma boa linha você trabalhar ou propor desmoralização do mundo político, é um desserviço à democracia brasileira. Acho que temos, ao contrário, valorizar os políticos e cobrar deles atuação. Apesar das críticas que eu faço ao governo, não é para desmerecê-lo. É para que ele se corrija. Normalmente faço discursos fazendo apelos. Apelo para que o governo da Bahia possa olhar mais para a segurança, municípios e assim por diante. Acho que a crítica tem que ser construtiva. E é assim que tenho baseado a minha atuação parlamentar, conquistando o respeito de meus pares e também do povo da Bahia. Porque quem vê televisão e ouve rádio, vê a minha atuação, conhece os meus projetos. Eu tenho relatado projetos, como o relacionado a renegociação do contrato de fornecimento de energia da Chesf para indústrias baianas e conseguimos uma pactuação com o governo para prorrogar até 2015. Relatei o estatuto do desarmamento, o marco regulatório do setor de saneamento e muitos outros. Então vou continuar no Senado até o final do meu mandato e, se merecer a confiança do povo da Bahia, claro que vou lutar para continuar trabalhando pelo Estado. Afinal de contas, eu estou muito novo para sair da política.
3 comentários:
Tudo bem, mas não me esqueço de seus comentários sôbre Lula e o PT, inclusive com sarcasmo. Não acho legal vê-lo elogiando Lula, sério mesmo!
pedro viana
eu acho que o senado deve ser renovado 100% na bahia. cezar borges podemos dizer é um bom senador mas nao voto nele pela simples razão de renovação. dar mais 8 anos a ele no senado não me parece adequado nesse momento pela sua incoerencia politica, criticava muito lula, depois vai pro lado do lula, fica contra wagner enfim fazendo seu joguinho oportunista. minha candidata ao senado é lidice da mata e a outra vaga voto contra cezar borges
Se é prá renovar, o povo deveria votar em quem só deixou boas obras, além de seriedade com a coisa pública, como o ex prefeito José Ronaldo e não alguém que, segundo opinião dos soteropolitanos, foi uma péssima prefeita! E depois, pelo fato de estar "bailando" entre os oportunistas de plantão, já não merece ser considerada melhor que Cesar Borges. Estamos falando de renovação ou de outra coisa?
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