Em junho de 1988, na Itália, durante a Bienal de Veneza, evento em que fiz cobertura e assessoria de comunicação do artista plástico feirense Juraci Dórea, conheci o jornalista Caio Túlio Costa (Foto: Reprodução), então editor internacional do jornal "Folha de S. Paulo" em Roma, que fez entrevista com o representante brasileiro (junto com José Resende) no evento internacional de artes plásticas. Hoje, professor, doutor em Ciências da Comunicação e executivo na área de comunicações, Caio Túlio Costa deu entrevista a Joana Duarte, do "Jornal do Brasil, edição de sábado, que tem o título "A mutação do jornalismo hoje".
O ofício do jornalista de, no bom sentido, manipular as informações com a finalidade de “criar representações das representações”, passa hoje por uma prova de fogo, observa Caio Túlio Costa em seu recém-lançado livro Ética, jornalismo e nova mídia. A chamada nova mídia, produto direto da simplificação das tecnologias digitais, têm a capacidade de fazer de qualquer um ao mesmo tempo consumidor e produtor de notícias, privando, de certo modo, o jornalista de seu monopólio sobre a informação. Em entrevista ao JB, o autor e jornalista de profissão, fala sobre como as novas tecnologias estão transformando o jornalismo, afastando o jornalista de seu status de Quarto Poder do Estado. Ainda assim, o especialista acredita que o jornalismo enquanto técnica aplicada com preceitos éticos tem vida longa. Está longe de se tornar obsoleto, pois fazer jornalismo com princípios éticos continua sendo o dever do profissional. Para produzir comunicação, observa, não basta apenas boa técnica e bom senso.
O que se entende por novas mídias?
Eu acho que o livro passa do pressuposto de que nova mídia é toda a informação transmitida do ponto de vista digital, e isso envolve não só o computador mas também os palmtops, celulares, e toda a tecnologia que permita a interatividade. O autor americano George Guilder diz que a indústria da informática está convergindo com a indústria das telecomunicações, e que está nascendo uma coisa absolutamente nova, ou seja, a convergência não é a união desses diferentes aparelhos. Eu iria um pouco mais além. Cito Henry Jenkins do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) que diz que a convergência está no indivíduo. Quem vai escolher como utilizar e em que momento utilizar cada uma dessas engenhocas é o individuo.
No livro, o senhor cita o pensador polonês Adam Schaff, que diz que assim como a História, a verdade não é absoluta, mas apenas um processo que se aprimora com o tempo. O que isso significa para o jornalismo de hoje, em tempo real?
Adam Schaff nos diz que assim como a História é um processo, a verdade também é, e dependendo de onde você está o seu olhar vai mudar. Digamos que a União Soviética tivesse promovido sua revolução socialista na maior parte do planeta, ou se Hitler tivesse vencido, a História seria outra. Mas quando se entra na complexidade desse próprio movimento, conforme o mundo vai caminhando, as perspectivas que temos em relação ao conhecimento vão mudando. Hoje temos acesso a uma série de informações que não tínhamos antes. A tecnologia disponível hoje nos proporciona acesso ilimitado e fácil às diversas fontes de conhecimento. A grande vantagem é a possibilidade de interagir com as diversas fontes. A tecnologia facilita muito o contato, permite acesso ao saber universal, joga-nos no mundo assimétrico e traz os problemas morais éticos e técnicos com ele.
O conceito “verdade relativa” se aplica ao jornalismo?
O jornalismo é o conjunto dessas representações e trabalha com fatos contraditórios. O jornalista não consegue dar conta da verdade como tal porque verdade não é algo imutável. Tem de dar conta das diversas verdades. O grande desafio é fazer isso de modo a dar conta desses relatos com objetividade. No fundo, não dá pra escapar da relatividade.
Nessa era em que todos são jornalistas em potencial porque possuem poder de mídia, o melhor relato não será sempre o da testemunha ocular?
Eu não considero o melhor relato o da testemunha ocular, mas aquele que melhor compõe os das testemunhas. Esse início de resposta já fala da importância do jornalismo e do fato de que ele enquanto técnica que leva em conta preceitos éticos tem vida longa. Não há menor dúvida. Mas mudou uma coisa fundamental. Nós jornalistas já fomos chamados de pertencentes ao Quarto Poder. Quando estávamos naquele papel de pessoas que geriam determinadas informações e praticamente distribuíam essa informação de via única para todo mundo. Nós despejávamos informações na cabeça das pessoas. Hoje, com a revolução tecnológica, a informação passou a ter dupla via, nós distribuímos mas também recebemos informações de quem esta consumindo essa informação. O jornalista perdeu seu papel de ator principal.
Qual a diferença entre indivíduo-repórter e cidadão-repórter? A internet estimula a cidadania?
O indivíduo-repórter só está preocupado consigo, o cidadão é aquele que está preocupado com sua comunidade, aquele que usa a Rede não apenas para benefício próprio. Acho que a internet estimula sim a cidadania. Já vimos casos de ditadores derrubados, por exemplo, e há também contraexemplos disso. A internet é um meio rápido de fazer ou não o bem. Veja como exemplo do quanto o instrumento das redes sociais ajudou o então candidato à Presidência americana Barack Obama a arrecadar fundos.
A preocupação moral se relativiza nas novas mídias?
Nas novas mídias é cada indivíduo consigo mesmo, fica valendo o bom senso, a ética. Mas para fazer comunicação, não basta só o bom senso. Precisa ir além, ser um comunicador. Se a pessoa não tem formação moral, do ponto de vista normativo, se não existe nem o embrião disso, então a moral se relativiza.
Acredita-se que a internet democratizou o acesso à informação, mas como menciona em seu livro, a internet é controlada pela Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann), uma entidade na Califórnia. Qual é o perigo de um país ter controle das redes?
O perigo é não conseguirmos nos comunicar livremente em rede. O sistema atual tem funcionado nos países democráticos, mas nos totalitários não funciona. A despeito de trabalharmos com total liberdade de expressão, a Rede esta sendo controlada por uma instituição dentro de um país, e esse país pode bloquear a rede. Por melhor que sejam os EUA, não queremos que um país tenha esse poder todo.
O jornal impresso tem futuro?
Não vai crescer mais como vinha crescendo. Parou de crescer da forma orgânica como estava crescendo. A previsão do jornalista Phillip Meyer é que em abril de 2013 não haverá mais compradores de jornais porque a possibilidade de obter informações de forma rápida e fácil em outras formas de mídia será tão grande que as pessoas vão deixar de comprar jornais. Mas ele também sorri dessa profecia e nada garante que isso vai acontecer porque é muito fácil de lidar com o produto impresso. Não precisa ligar e dar o boot.
O ofício do jornalista de, no bom sentido, manipular as informações com a finalidade de “criar representações das representações”, passa hoje por uma prova de fogo, observa Caio Túlio Costa em seu recém-lançado livro Ética, jornalismo e nova mídia. A chamada nova mídia, produto direto da simplificação das tecnologias digitais, têm a capacidade de fazer de qualquer um ao mesmo tempo consumidor e produtor de notícias, privando, de certo modo, o jornalista de seu monopólio sobre a informação. Em entrevista ao JB, o autor e jornalista de profissão, fala sobre como as novas tecnologias estão transformando o jornalismo, afastando o jornalista de seu status de Quarto Poder do Estado. Ainda assim, o especialista acredita que o jornalismo enquanto técnica aplicada com preceitos éticos tem vida longa. Está longe de se tornar obsoleto, pois fazer jornalismo com princípios éticos continua sendo o dever do profissional. Para produzir comunicação, observa, não basta apenas boa técnica e bom senso.
O que se entende por novas mídias?
Eu acho que o livro passa do pressuposto de que nova mídia é toda a informação transmitida do ponto de vista digital, e isso envolve não só o computador mas também os palmtops, celulares, e toda a tecnologia que permita a interatividade. O autor americano George Guilder diz que a indústria da informática está convergindo com a indústria das telecomunicações, e que está nascendo uma coisa absolutamente nova, ou seja, a convergência não é a união desses diferentes aparelhos. Eu iria um pouco mais além. Cito Henry Jenkins do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) que diz que a convergência está no indivíduo. Quem vai escolher como utilizar e em que momento utilizar cada uma dessas engenhocas é o individuo.
No livro, o senhor cita o pensador polonês Adam Schaff, que diz que assim como a História, a verdade não é absoluta, mas apenas um processo que se aprimora com o tempo. O que isso significa para o jornalismo de hoje, em tempo real?
Adam Schaff nos diz que assim como a História é um processo, a verdade também é, e dependendo de onde você está o seu olhar vai mudar. Digamos que a União Soviética tivesse promovido sua revolução socialista na maior parte do planeta, ou se Hitler tivesse vencido, a História seria outra. Mas quando se entra na complexidade desse próprio movimento, conforme o mundo vai caminhando, as perspectivas que temos em relação ao conhecimento vão mudando. Hoje temos acesso a uma série de informações que não tínhamos antes. A tecnologia disponível hoje nos proporciona acesso ilimitado e fácil às diversas fontes de conhecimento. A grande vantagem é a possibilidade de interagir com as diversas fontes. A tecnologia facilita muito o contato, permite acesso ao saber universal, joga-nos no mundo assimétrico e traz os problemas morais éticos e técnicos com ele.
O conceito “verdade relativa” se aplica ao jornalismo?
O jornalismo é o conjunto dessas representações e trabalha com fatos contraditórios. O jornalista não consegue dar conta da verdade como tal porque verdade não é algo imutável. Tem de dar conta das diversas verdades. O grande desafio é fazer isso de modo a dar conta desses relatos com objetividade. No fundo, não dá pra escapar da relatividade.
Nessa era em que todos são jornalistas em potencial porque possuem poder de mídia, o melhor relato não será sempre o da testemunha ocular?
Eu não considero o melhor relato o da testemunha ocular, mas aquele que melhor compõe os das testemunhas. Esse início de resposta já fala da importância do jornalismo e do fato de que ele enquanto técnica que leva em conta preceitos éticos tem vida longa. Não há menor dúvida. Mas mudou uma coisa fundamental. Nós jornalistas já fomos chamados de pertencentes ao Quarto Poder. Quando estávamos naquele papel de pessoas que geriam determinadas informações e praticamente distribuíam essa informação de via única para todo mundo. Nós despejávamos informações na cabeça das pessoas. Hoje, com a revolução tecnológica, a informação passou a ter dupla via, nós distribuímos mas também recebemos informações de quem esta consumindo essa informação. O jornalista perdeu seu papel de ator principal.
Qual a diferença entre indivíduo-repórter e cidadão-repórter? A internet estimula a cidadania?
O indivíduo-repórter só está preocupado consigo, o cidadão é aquele que está preocupado com sua comunidade, aquele que usa a Rede não apenas para benefício próprio. Acho que a internet estimula sim a cidadania. Já vimos casos de ditadores derrubados, por exemplo, e há também contraexemplos disso. A internet é um meio rápido de fazer ou não o bem. Veja como exemplo do quanto o instrumento das redes sociais ajudou o então candidato à Presidência americana Barack Obama a arrecadar fundos.
A preocupação moral se relativiza nas novas mídias?
Nas novas mídias é cada indivíduo consigo mesmo, fica valendo o bom senso, a ética. Mas para fazer comunicação, não basta só o bom senso. Precisa ir além, ser um comunicador. Se a pessoa não tem formação moral, do ponto de vista normativo, se não existe nem o embrião disso, então a moral se relativiza.
Acredita-se que a internet democratizou o acesso à informação, mas como menciona em seu livro, a internet é controlada pela Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann), uma entidade na Califórnia. Qual é o perigo de um país ter controle das redes?
O perigo é não conseguirmos nos comunicar livremente em rede. O sistema atual tem funcionado nos países democráticos, mas nos totalitários não funciona. A despeito de trabalharmos com total liberdade de expressão, a Rede esta sendo controlada por uma instituição dentro de um país, e esse país pode bloquear a rede. Por melhor que sejam os EUA, não queremos que um país tenha esse poder todo.
O jornal impresso tem futuro?
Não vai crescer mais como vinha crescendo. Parou de crescer da forma orgânica como estava crescendo. A previsão do jornalista Phillip Meyer é que em abril de 2013 não haverá mais compradores de jornais porque a possibilidade de obter informações de forma rápida e fácil em outras formas de mídia será tão grande que as pessoas vão deixar de comprar jornais. Mas ele também sorri dessa profecia e nada garante que isso vai acontecer porque é muito fácil de lidar com o produto impresso. Não precisa ligar e dar o boot.
4 comentários:
Tá mentindo, Dimas? Você fez assessoria de que evento na Itália? Conta outra.
Dimas ainda coloca comentário de anônimo, que só pode ser petralha, que duvida de suas andanças pelo mundo. No perfil do jornalista está todos os países que já visitou, como jornalista.
Eu também não colocaria esse comentário maldoso,invejoso e petista,com certeza, mas por outro lado, no que um comentário idiota desses vai alterar na admiração e confiança que os leitores do blog tem em seu dono? Mariana
Esse anônimo é um babaca, que devia se revelar, sair do armário.
Postar um comentário