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quinta-feira, 19 de julho de 2007

A tragédia brasileira

Do companheiro de Rotary Clube, Thomas Otto Pracuch, cinemeiro como este jornalista, recebi e posto este texto, assinado por Adriana Santos:
Lamentável. Lamentável.
Com muito pesar assisti aos noticiários de hoje (18) e vejo a dimensão da tragédia do vôo 3054 da TAM. Mesmo sem conhecer qualquer das vítimas, corrí os olhos na lista de passageiros do vôo e entristecí. Sim. Acostumamo-nos a contar pessoas como se fossem números e, embora esse acidente esteja tendo uma enorme repercussão, contamos as vítimas como unidades numéricas. Para mim, o mais chocante foi perceber isso. Ví aqueles nomes meramente desconhecidos e chorei por eles e por suas famílias. Imaginei quantas crianças tornaram-se órfãs e quantos tios, vizinhos ou amigos assumirão responsabilidades eternas com essas crianças. Imaginei quantos pais estão e para sempre sangrarão a perda de seus filhos e quantos irmãos ficaram à espera dos seus. Triste. Muito triste!
Talvéz tenha havido um erro na máquina, ou talvéz uma falha humana, talvez aquele piloto tenha sido ou, pelo menos, tentado ser um grande herói, mas isso não vem ao caso. Não interessa agora. Nunca saberemos os detalhes do que aconteceu alí dentro, naquele momento. Mas tente imaginar como se faz para convencer uma mãe de que ela perdeu seu filho! Duzentos mortos! Duzentos nomes! Duzentas histórias! Duzentas vidas! Dezenas de pais! Dezenas de filhos! Dezenas de patrões e empregados! Duas centenas de pessoas que significavam a vida para alguém!
E agora, ilustríssimos senhores dirigentes do Brasil? Bandeira a meio mastro? Visita de ministro aos familiares? Fita de luto nos atletas do PAN? Aquaplanagem? Grooving? Cindacta? Torre? Caixa preta? Nenhuma diferença faz a verdadeira causa desse acidente porque o que realmente apavora é o estado de letargia da nossa administração pública. É bem verdade que os aeroportos estão mais bonitos. Para que priorizar a segurança? O deputado Júlio Redecker foi uma das vítimas. Mas a que partido ele pertencia mesmo? Será que foi com pesar ou com alívio que a notícia de sua morte chegou a Brasília? Alguém duvida? Penso que não e eis o mega problema: Deixamos de acreditar na nossa Pátria. Mãe de quem? Minha? Deus me proteja! Deixamos de levar a sério o que ela tem a nos dizer. Imagine o alívio do presidente do Senado, esta mudança de foco da mídia. Uma manobra que, literalmente, caiu do céu. Mas o céu está realmente desabando sobre as nossas cabeças: minha, sua, dos familiares e já caiu na, dos mortos. A crise aérea continua! A luta pelo poder, pelo militarismo, pela supremacia, pela arrogância, pela “quebra de braço”. Enquanto isso? Qual o problema se uma criança de dois anos, operada de coluna, dorme, com sua mãe, no chão da humilhação de um aeroporto e aguarda por mais de 18 lentas horas? “Relaxa e goza”, povo estressado! Reclamar de quê? “Passear” de avião já não representa um grande acontecimento? Ainda acham que estamos aquecendo nossa economia e que nunca tantos brasileiros puderam comprar passagens de avião, antes do meu mandato. Esse poderia ser o discurso de qualquer um deles. E os velórios? Quem está enterrando seus mortos? Mas o que o governo tem a ver com esse acidente? Tudo. Omissão, letargia, abuso, conversa demais e pouca fala restou aos mortos carbonizados, mas com medalhas de ouro no peito do RIO 2007!
Oremos pelas vítimas desse acidente e por nós mesmos porque o Brasil que eu quero e preciso acreditar é o Brasil da solidariedade, é o de cidadãos que se comovem com a tragédia alheia e que se movimentam, e que choram, e que não se acostumam! É o Brasil dos cidadãos que ainda acreditam nas crianças e que ainda acordam cedo para trabalhar mesmo com tanto exemplo de que roubar é tão mais fácil e tão mais rentável. Esses sim, representam o meu povo brasileiro!

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