Por Sandro Vaia
O
PMDB, que ia tão divertido, leve e solto para a CPI do Cachoeira, embora
achasse a sua instalação uma insensatez, ganhou alguns motivos para cair em si
e colocar alguns pés atrás.
Se
o maior partido de apoio da base aliada aparentemente só tinha a lucrar com a
sua posição de muro de arrimo de qualquer eventualidade que viesse a incomodar
o governo, viu-se de repente na condição de também ter que explicar algumas
coisas.
Se
não o partido como tal, pelo menos o governador Sérgio Cabral, como uma de suas
figuras proeminentes.
As
fotos e os vídeos da divertida e breguissima turnê
etílico-gastronômico-cultural do governador do Rio, de alguns de seus
secretários e do amigo do peito Fernando Cavendish, dono da operosa empreiteira
Delta, por luxuosos hotéis franceses, vazados pelo blog do ex-governador Antony
Garotinho, introduziram pelo menos mais um complicador no cenário de uma CPI já
atrapalhada pela própria natureza.
Além
de Demóstenes, carta fora do baralho da sobrevivência política, os grandes
vetores da CPI seriam os governadores Marconi Perillo e Agnelo Queiroz, além do
próprio Cachoeira e do dono da Delta, Fernando Cavendish.
Junte-se
a eles, agora, Sergio Cabral, que deveria explicar não o gosto duvidoso de suas
farras, mas a relação promíscua com um contratado para executar obras
públicas.
Os
primeiros passos da CPI, depois de formada, foram titubeantes. Tentou-se
circunscrever o escopo das investigações sobre a Delta às suas atividades no Centro-Oeste,
como se fosse possível isolar geograficamente as práticas duvidosas de suas
relações com o poder público.
Com
um pouco de esforço, derrubou-se essa barreira.
A
convocação dos governadores envolvidos foi tratada com luvas de pelica. Ninguém
parece querer dar o primeiro passo mais ousado, com medo de provocar o ímpeto
revanchista do lado afetado.
Todo
mundo parece pisar em ovos e preocupado em evitar um possível efeito bumerangue
que redirecione a artilharia para suas próprias tropas.
Se
a CPI avançar nesse ritmo, e as investigações forem sendo limitadas às
atividades do contraventor Carlinhos Cachoeira e às suas relações com o seu
preposto Demóstenes Torres, ela se tornará inútil, porque qualquer investigação
policial rotineira poderia dar conta dessa questão.
O
único fato novo realmente relevante da questão da CPI, é a chegada ao palco do
governador Sergio Cabral e seu séquito, que atraiu a atenção sobre as relações
promíscuas entre a empreiteira e as autoridades encarregadas de contratá-la e
de auditar os contratos.
Embora
alguns peemedebistas tenham comemorado o fato de Sergio Cabral ser obrigado a "descer de seu pedestal" para se explicar, o fato é que o partido perdeu a
inocência que lhe dava a superioridade tática de poder usar a sua força para
conseguir manipular a sua relação de garantidor dos interesses do governo no
decorrer da investigação.
Agora
está em pé de igualdade com os outros protagonistas.
Se
o empenho em blindar Cabral, Perillo, Agnelo e Cavendish continuar, a CPI
tenderá a ser uma ação entre amigos onde só perderão os dedos e os anéis
aqueles que já os perderam : Cachoeira e Demóstenes.
* Sandro Vaia
é jornalista
Fonte: "Blog do Noblat"
Nenhum comentário:
Postar um comentário