Por Mary Zaidan
Quase vinte anos depois da CPI de PC Farias, que apeou pelo
ex-Lula há duas décadas, aliados. Se depois que chegaram ao poder, perdões e
gentilezas tornaram-se freqüentes, na CPI mista de Cachoeira, PT e Collor, de
novo com o aval de Lula, confessam a mesma cartilha e inimigos em comum, a
começar pela mídia.
Em discurso eloqüente, olhos esbugalhados, que fez lembrar os
tempos irados em que, num equívoco letal, convocou os brasileiros a sair às
ruas de verde e amarelo, colhendo cidades cobertas de cidadãos vestidos de
preto, o senador Collor de Mello expôs todo o seu ódio contra CPIs,
transformadas em "tribunais de inquisição".
E, ainda com mais ênfase, contra a imprensa. Chamou
jornalistas de "rabiscadores", gente que produz "notícias falsas ou
distorcidas".
Um elo a mais a unir Lula e Collor. Um purga sua mágoa pela
Presidência perdida, outro, pelo processo do Mensalão, maior escândalo da
República, com poderes de lhe macular a majestade.
Os métodos de ambos se assemelham: flagrados, fingem que não
é com eles, atacam a imprensa e protegem comparsas.
Collor nunca falou nada sobre PC Farias, a Operação Uruguai
ou a prova menor, o Fiat Elba, gota d’água da cassação de seus direitos
políticos.
Lula falou demais, mas o intuito era o mesmo. Primeiro se
disse traído pelos seus. Depois, garantiu que o mensalão não passava de caixa
2, inventando a tese de que um crime se torna menor quando todo mundo o comete.
Algo absurdo na boca de qualquer um, quanto mais de alguém que à época era o
número um do país.
A teoria da vez é a de que o mensalão é farsa, uma armação da
direita com apoio da grande mídia. Nela, Collor é, de novo, aliado de primeira
grandeza. A ele cabe bater forte na imprensa, tentar desacreditar o carteiro
para não precisar discutir o conteúdo da carta.
Os dois ex-presidentes, que nas primeiras eleições diretas
depois da ditadura militar mobilizaram o país por suas diferenças ideológicas,
se unem na sordidez.
Collor renunciou antes de sofrer o impeachment e teve seus
direitos políticos cassados por oito anos. Atira para todos os lados, tenta
vingar-se. Aposta na hipótese pouco provável de passar para a história como
vítima de injustiça.
Lula, de olho no perdão prévio, alimenta as esperanças do
ex-inimigo.
Cada um modela suas versões de acordo com a conveniência.
A corrupção, a malversação com dinheiro público, os desvios,
a evasão de dólares para o exterior, o mensalão. Isso tudo que se dane. São
apenas fatos. Coisa de jornalista.
* Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais 'O Globo' e 'O
Estado de S. Paulo', em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario
Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos
Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência
'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa
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