Se
os autores tiverem tempo e ânimo para desprezar também os coadjuvantes da Era
da Mediocridade, Márcio Thomaz Bastos, Tarso Genro e José Eduardo Cardozo não
escaparão de um punhado de parágrafos nos livros que vão contar a verdade sobre
o Brasil deste começo de século. Os três foram ministros da Justiça. Os três
subordinaram o mais antigo dos ministérios aos interesses eleitoreiros do PT e
às conveniências político-policiais do governo. Os três protagonizaram
episódios que ampliaram o capítulo brasileiro da história universal da infâmia.
Em julho de 2005, Márcio Thomaz Bastos foi escalado
por Lula para garantir a impunidade dos quadrilheiros do mensalão. Nos sete
anos seguintes, acumulou as funções de roteirista, diretor e, eventualmente,
astro convidado do espetáculo do cinismo que vai terminar com um final
exemplarmente infeliz para o elenco de canastrões bandidos. Por decisão do
Supremo Tribunal Federal, o último capítulo da farsa concebida por Márcio será
encenado na cadeia.
Em agosto de 2007, quando tentavam alcançar a
Alemanha e a liberdade depois de terem escapado do alojamento dos atletas
cubanos que participavam dos Jogos Panamericanos do Rio, os pugilistas
Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux souberam que o ministro da Justiça do
Brasil obedece a Fidel Castro. Reduzido a capitão-do-mato do ditador-de-Adidas,
Tarso Genro devolveu à ilha-presídio, a bordo de um avião militar venezuelano,
os dois fugitivos capturados pela Polícia Federal.
"Eles quiseram voltar", recitou o ministro. A
mentira foi implodida pela segunda e bem sucedida fuga dos pugilistas, que hoje
moram e lutam nos Estados Unidos. Mas Tarso Genro não tem cura. Três anos
depois da deportação dos dois cubanos, o companheiro gaúcho impediu que o
terrorista em recesso Cesare Battisti fosse extraditado para a Itália e ali
cumprisse a pena de prisão perpétua aplicada ao matador de quatro "inimigos do proletariado".
Tarso promoveu Battisti a "asilado político", rasgou o tratado subscrito pelos
dois países e luta para premiar o amigo homicida com a cidadania brasileira.
José Eduardo Cardozo está à altura dos
antecessores, vem reiterando o desempenho do porquinho de Dilma que sobrou
depois que Antonio Palocci reafirmou que é um caso sem remédio e José Eduardo
Dutra tornou-se um caso clínico. Surpreendido pelos estrondos da Operação Porto
Seguro, o ministro da Justiça foi encarregado pela chefe de provar que Lula
conhece só de vista a comandante do escritório da Presidência em São Paulo -
que não passa de uma funcionária mequetrefe.
Cardozo apareceu para o depoimento na Câmara com
cara de quem vai ensinar que um consultor-geral do planeta não tem intimidade com
gente do terceiro escalão. Acabou erguendo um monumento à tapeação. "Rosemary
não participava do núcleo central da quadrilha", afirmou no palavrório e
quarta-feira. "Ao contrário, foi escanteada pelos seus membros, como mostram
alguns diálogos interceptados".
Desmentido dois dias depois pelo indiciamento de
Rose também por formação de quadrilha, não teve tempo para organizar a
retirada. "Deixei claro que, naquele momento, não havia elementos de formação
de quadrilha", improvisou. "Mas disse que nada impedia que houvesse indicação
diferente se houvesse fatos novos no decorrer da investigação, com base em
novos materiais apreendidos". Ele é sempre o último a saber do que sabem até os
porteiros da Polícia Federal.
Levado às cordas na sexta-feira, o ministro está
grogue desde sábado, quando VEJA divulgou um e-mail enviado pela protegida de
Lula ao seu comparsa Paulo Vieira. "Tarefa cumprida", começa o recado. As
linhas seguintes informam que a remetente conseguiu agendar encontros entre a
juíza Vivian Josete Pantaleão Caminha, candidata a desembargadora do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região, com figurões da República.
Um deles era Cardozo, confessa a atropeladora da
língua portuguesa no trecho transcrito sem correções: "06.08.12.
Audiência com o Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo as 19h00 - Ministério
da Justiça - 4° andar sala 400". Em 8 de outubro, Dilma oficializou a
promoção a desembargadora a candidata apoiada pela quadrilha dos pareceres
criminosos.
A sorte de Cardozo é ser ministro aqui. No mundo
civilizado, qualquer figurão suspeito de ocultação de provas e obstrução da
Justiça está arriscado a perder o direito de ir e vir. No Brasil, não perde nem
o emprego.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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