O jornal morreu dez anos atrás, mas só hoje será sepultado definitivamente.
Durante esse tempo, ele agonizou, mentiu, desprezou, subestimou o leitor. E o leitor não o perdoou. Foi à redação e disse:
— Quero ler a notícia...
— Tudo o que noticiamos é verdadeiro.
— Menos a previsão do tempo, não é mesmo?.
— Ah, o tempo é instável.
— Chove.
O redator vira a página:
— A Venezuela é uma democracia...
O leitor altera a voz:
— Democracia é a arte de mentir para o leitor? — pergunta abespinhado. — Então, Cuba é um oásis; a Nicarágua, um balneário...
O jornal solta a tinta:
— Mas, mas...
— Era um país rico, promissor. Foi destruído. O povo foge.
— É, pelo menos lá não tem um 'genocida' — diz numa notinha de rodapé.
O leitor responde com enfado:
— É, pelo menos lá não resta um jornal para ser morto. Todos já foram devidamente desacreditados.
O editor ainda tenta última cartada:
— O que importa é a nossa credibilidade!...
O leitor finaliza:
— A que horas está marcada a cerimônia de cremação deste "Correio Popular"? — dá as costas e sai, batendo a porta atrás de si.
A falta de credibilidade fecha o jornal.
O leitor, às vezes, enxerga.
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