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domingo, 21 de fevereiro de 2021

O sonho de uma cidade do futuro


O ano era 1970. O tempo era cinza, mais um ano de chumbo. Vigorava o regime militar. O período era de autoritarismo. No Colégio Estadual de Feira de Santana foi programada uma Feira de Ciências. Uma equipe foi formada por sete alunos do 3º ano colegial (Científico), turno vespertino. A proposta era apresentar um projeto futurista. Os jovens eram sonhadores, imaginavam um mundo sem conflitos, sem desigualdades. Ouviam Os Mutantes, Gilberto Gil, Caetano Veloso, The Beatles, Rolling Stones, por aí.
Wesley, Naldinho, Lino, Roberto, Dimas, Gracinha e Lomanto (Foto) eram eles. A equipe levou o nome de 2001 - e estava a 30 anos do terceiro milênio. "Cidade do Futuro", o nome do trabalho, uma maquete onde era apresentada a cidade idealizada pelos sete, feita com materiais como até casca de ovo, foi montado na residência de Gracinha, Maria das Graças Azevedo, na Kalilândia. O grupo se reunia inclusive na parte da noite para discutir e executar o projeto. Levaram dias. Roberto, Pedro Roberto Oliveira, que na época trabalhava em escritório de arquitetura com desenho, liderava a equipe. Além da maquete, cartazes explicavam como funcionava a "Cidade do Futuro", os serviços de transporte, a alimentação. O trabalho foi montado em local nobre. Enquanto os demais foram instalados nas salas de aula em todos os pavilhões, a "Cidade do Futuro" foi destacada na sala dos professores.
Na cidade futurista dos jovens - a ideia era uma cidade universal - não havia quartéis, não tinha sistema de defesa, de segurança. Eles acreditavam que isso não seria problema no futuro. Esse detalhe incomodou e causou reboliço no Colégio Estadual e nas forças que estavam do lado do regime e trouxe sérias consequências para o professor de Biologia, José Coutinho Estrela (já falecido). Por ter incentivado o projeto dos jovens sonhadores, ele prestou depoimento e foi preso. As explicações simples e sinceras sobre a intenção do projeto não tinham vez. A turma ficou atônita em ver sua criação ser considerada como subversiva. O medo tomou conta de todos, apreensivos com o quadro que se criou, tendo o trabalho sido impedido de ser mostrado em Salvador, como programado anteriormente. A diretora do colégio, professora Laura Folly, constrangida, teve que atender "ordens superiores".
Onde estão os projetistas da "Cidade do Futuro"? Wesley Rangel criou em Salvador a Gravadora WR, de fundamental importância no surgimento da chamada axé music, que faleceu em 2016, como conta o jornalista José Carlos Teixeira. Gracinha Azevedo mora em Salvador. Naldinho é Ednaldo Alves de Souza, ex-gerente da Caixa Econômica Federal. Lino é o empresário José Lino Carneiro, da Linu's Moda, que tem loja no Boulevard Shopping. Manoel Lomanto é representante comercial. Pedro Roberto, artista plástico, que chegou a gerente de Cenografia do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), faleceu há 15 anos, em 1º de janeiro de 2006. E Dimas Oliveira é jornalista, que escreveu esta matéria baseado em suas lembranças e na de outros integrantes da Equipe 2001, que tinha até camisa, criada por Pedro Roberto, vestida no dia do lançamento da Feira de Ciências.
Esta matéria foi publicada originalmente em edição especial do jornal "Folha do Estado", em 16 de dezembro de 2000. Foi revista e ampliada.
Detalhe: ninguém da equipe se considerou perseguido político ou é beneficiário de indenização deferida pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.

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