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No Domingo de Páscoa

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domingo, 8 de abril de 2012

"Só eu e minha família sabemos o que eu sofri"

À revista Raça Brasil, o jornalista Heraldo Pereira diz que buscava retratação de Paulo Henrique Amorim e conseguiu: "Não vou permitir que um indivíduo que faz propaganda do que é ser negro em suas rodinhas de convertidos tardios ao esquerdismo venha me dizer o que é ser negro".
Foto: Divulgação
O jornalista Heraldo Pereira enfim falou publicamente sobre a pendenga jurírica que travava com o blogueiro Paulo Henrique Amorim desde que passou a ser desqualificado pelo colega por termos como "negro de alma branca" no blog 'Conversa Afiada'. Em entrevista sobre a carreira no jornalismo à revista Raça Brasil, Heraldo diz que ficou satisfeito com a decisão judicial que obrigou PHA a se retratar, apesar de alguns "sobressaltos" - "meu ofensor fez outros comentários junto à retratação no blog em vez de publicá-la pura e simplesmente como mandou a decisão judicial".
"O que eu buscava com uma condenação, consegui. Ele teve que se retratar", disse Heraldo à revista, em entrevista que pode ser lida na íntegra clicando aqui. Abaixo, segue o trecho mais contundente do relato de Heraldo Pereira sobre o caso:
Raça Brasil - Como recebeu a notícia sobre a condenação do jornalista Paulo Henrique Amorim, que teve que se retratar e pagar uma indenização de R$ 30 mil. O que esse episódio representou para você?
Heraldo Pereira - Para ser exato, antes que o juiz civil julgasse a ação indenizatória, por danos moral e à imagem, o réu aceitou tudo aquilo que eu exigia como forma de reparação pela grande injúria que sofri: pagamento de R$ 30 mil reais para uma instituição de caridade, retratação cabal feita no próprio blog dele, que vai permanecer em arquivo por mais de dois anos, e a publicação da mesma retratação, cujos termos falam por si só, nos jornais 'Folha de S. Paulo' e 'Correio Braziliense'. Tudo pago por ele.
Raça Brasil - Você ficou satisfeito com a condenação?
Heraldo Pereira - O que eu buscava com uma condenação, consegui. Ele teve que se retratar. É uma sentença definitiva. Claro, houve sobressaltos. Apesar de assinar o acordo em que nega tudo o que afirmara por longos três anos, meu ofensor fez outros comentários junto à retratação no blog em vez de publicá-la pura e simplesmente como mandou a decisão judicial. Meu advogado, Dr. Paulo Roque Khouri, imediatamente, deu ciência ao juiz Daniel Felipe Machado, da 5ª Vara Civil do TJDFT, que mandou retirar os comentários. No 'Correio Braziliense', isso não aconteceu. E, na 'Folha de S. Paulo', a retratação só foi publicada com atraso e na edição paulista. Tudo isso ainda voltou para que o juiz examinasse se o acordo foi honrado. De todo modo, creio que a Justiça que eu esperava na área cível foi feita em boa parte. E, agora, aguardo a definição do processo criminal, movido pelo Núcleo de Enfrentamento à Discriminação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. Tenho para mim que na esfera criminal a ofensa será dupla e qualificadamente punida por crimes de racismo e injúria racial.
Raça Brasil - O que o racismo do Paulo Henrique Amorim representou para você?
Heraldo Pereira - No mundo de hoje, ninguém pode ser ofendido, como fui, pelo fato de ser negro. O agressor não faz uma análise profissional, política ou comportamental da minha pessoa. Ele faz uma leitura intolerante a partir da racialidade. Destaca sempre como fato a ser distinguido a cor da minha pele e desmerece a minha pessoa num gesto de crueldade. Nós negros sabemos bem qual foi a intenção do réu ao dizer que eu, com mais de 30 anos de carreira jornalística e um título de mestre em direito constitucional, não tenho "nenhum atributo para fazer tanto sucesso, além de ser negro e de origem humilde". São expressões racistas que foram seguidas de um jargão máximo da intolerância: "é um negro de alma branca". É algo abjeto, que não posso admitir, sobretudo, partindo de quem deve fazer da comunicação um ofício ético e democrático e não uma ferramenta da intolerância. Fora as outras agressões raciais que ele fez diretamente e admitiu em forma de comentários em seu blog no papel de moderador. Sou negro, sempre me empenhei em todas as lutas contra os preconceitos e as intolerâncias desde garoto. Sou de uma família de operárias, empregadas domésticas, pessoas residentes em conjunto habitacional de Cohab e que sempre sofreram o racismo na carne. Não vou permitir que um indivíduo que faz propaganda do que é ser negro em suas rodinhas de convertidos tardios ao esquerdismo, todos criados em berço de ouro, venha me dizer o que é ser negro. Nas minhas veias corre, com muito orgulho, sangue de quem foi escravo e ajudou a fazer deste o nosso país. Exigimos respeito com a história de quem construiu o Brasil. Por isso, não poderia deixar essa campanha imunda, com contornos de inveja, passar como se nada tivesse acontecido. Não honraria o meu passado e nem a luta de negros e brancos que combatem o racismo. O meu agressor chegou a dizer, em sua defesa judicial, que se considera um expoente da luta pela igualdade racial, num gesto de arrogância desmedida. E recebeu uma firme reprimenda do juiz criminal do TJDFT, Márcio Evangelista Ferreira da Silva, para quem, só adere à Lula pela igualdade racial, os que veem diferença entre raças, fato já rechaçado pela genética. Numa das peças de sua defesa, o réu chegou a dizer que ao usar a expressão "negro de alma branca", o fez para me elogiar. Pode isso? Só eu e a minha família sabemos a dor que sofri ao ler todo aquele lixo em formato de texto. É algo indescritível e que, no fundo, jamais será reparado, eu bem sei. O próprio juiz Daniel Felipe no julgamento da ação civil disse isso. Entretanto, eu sempre acreditei na Justiça e continuo acreditando.
Raça Brasil - O que você acha das cotas e dos movimentos negros?
Heraldo Pereira - Sou francamente favorável às cotas, porém, respeito os que pensam em outro sentido. O aumento da participação do negro na esfera pública é um desafio que está colocado àqueles que pensam num projeto de nação para o Brasil. Sempre defendi este ponto de vista. Não sou propagandista de ocasião. Quem me convenceu sobre a necessidade de uma ferramenta para aumentar a representação de negros nos postos-chave da nossa sociedade foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No intervalo de uma das viagens com o ex-presidente, quando eu cobria a rotina presidencial, falamos sobre o tema. Ele, em tom professoral, discorreu longamente sobre as políticas de inclusão que deveriam ter sido implementadas desde o Primeiro Império. Agora o Brasil mostrou amadurecimento para tal ação e fez das cotas uma realidade, com aprovação da sociedade. Precisamos, daqui para a frente, implementar práticas daí decorrentes. Penso sempre que é positiva uma medida que pode levar mais educação aos negros, e educação é tudo. É preciso, entretanto, fazer uma separação entre a defesa de cotas, que é ampla hoje em dia, e a necessidade de se incentivar todo movimento que tenha por objetivo acabar com o racismo.
Também neste aspecto devemos estar unidos, todos nós, cidadãos brancos e negros. Sou contra radicalismos, coisa que, sejamos justos, não vejo em certas organizações que se travestem de movimentos negros no rótulo e que não poderiam agir livremente para propagar ainda mais formas de intolerância revestidas em ódio. O nosso desafio é instituir os direitos humanos como pano de fundo para a construção de uma cidadania adulta que, ao refutar todas as formas de racismo e de intolerância, possam admitir práticas de inclusão participativas cada vez mais significativas numa esfera pública com a qual todos nós sonhamos. Gostaria, para encerrar este episódio de discriminação que me envolveu, de lembrar figuras de expressão da intelectualidade brasileira como Sueli Carneiro. Ela diz que "um negro pode ser corrupto, se posicionar contra os interesses de sua gente. O que podemos fazer, diante disso, é lamentar e combatê-lo politicamente, jamais atribuir essa característica à sua condição racial. Aí mora o racismo, ao tentar encontrar a razão da "falha" na negritude da pessoa ou na suposta ausência dessa negritude em uma regra como propõe a frase, "negro de alma branca." Ana Maria Gonçalves quando se referiu a este episódio sintetizou: "Paulo Henrique Amorim usou a cor de Heraldo Pereira para atacá-lo. É racismo e ponto. Tá na lei. Quem não concorda deve brigar para mudar a lei, e não para que Paulo Henrique Amorim esteja acima dela. Que o defendam porque o acham bom amigo, bom jornalista, bom ser humano; mas que entendam que pessoas assim também podem ter atitudes racistas." Estou com as duas!

Um comentário:

Mariana disse...

O Brasil inteiro conhece os dois. Não resta a menor dúvida sôbre o carater e a competência de cada um e aposto que ninguém se lembrava da cor da pele de Heraldo, se PH Amorim não nos lembrasse. Um petralha racista! Essa gentalha tem que se decidir, afinal, qual é a sua bandeira.