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No Domingo de Páscoa

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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

"Paranoia político-ideológica"

Por Adilson Fônseca
Num dos inúmeros debates travados nas redes sociais, relatei que os pretos, como quaisquer outras pessoas, deveriam desenvolver a auto-estima não pela autoafirmação da cor, mas das qualidades que desenvolve ao longo da vida. A primeira reação de quem estava debatendo foi de chamar-me de preconceituoso, fascista, porque eu usava o termo "preto", como algo pejorativo, escravagista, e não "negro", que seria politicamente correto.
Não adiantaram as explicações de que o "politicamente correto", nesse caso, estava errado, pois negro é grupo étnico, que "preto" é cor, raça. Que o IBGE usa essa denominação desde o seu primeiro Censo Demográfico, em 1872 e que o grupo "negro" inclui os pardos, mulatos, caboclos, mas a cor preta é uma só. Não existe preto claro ou escuro, mas tonalidades de uma única cor.
Isso me veio à mente ao deparar-me com o relato de uma jovem, de Curitiba, Thauane Cordeiro, de 19 anos, que, segundo relatou nas redes sociais, foi constrangida a retirar o turbante, porque estaria se apropriando de uma cultura de natureza afro. Thauane sofre de leucemia mieloide aguda e um dos seus efeitos imediatos é a queda do cabelo.

No ano passado, o cantor Bell Marques teve que mudar de última hora a letra da sua música que falava de cabelo de chapinha (neologismo do alisamento)porque não se podia se referir a esse modismo que teria um cunho racista. A música continuou sendo tocada, a despeito de todo cerco "politicamente correto". Mesmo com a letra da música alterada, isso não impediu que ela fosse uma das mais tocadas no carnaval.
Nos últimos anos, desde quando o ex-presidente Lula resolveu dividir o país entre "nós" e "eles", acentuando suas origens nordestinas e, de todas as formas, procurando desqualificar os brasileiros do Sul e Sudeste, principalmente os paulistas, unicamente movido pelos seus interesses político-partidários, que se estabeleceu uma paranoia político-ideológica, com derivações étnicas, sociais e econômicas.
Pobre não tem que ser necessariamente negro (e aí incluem-se toda uma diversidade da cor preta) e branco não tem quer ser rico, "coxinha", do Sul e do Sudeste (paulista de preferência). O ex-presidente Lula chegou mesmo a diferenciar os brasileiros entre os de "olhos azuis" e os "nordestinos". Ou seja, filhos de imigrantes italianos, alemães, japoneses, americanos, britânicos, holandeses, todos de pele branca e olhos azuis, verdes, não seriam, os verdadeiros brasileiros. O Brasil, contudo, é uma diversidade étnica de brasileiros.
A "branca" Thauane Cordeiro é uma das milhares de brasileiras, branca, preta, índia, cabocla, mulata, que sofre de câncer, leucemia, que pode usar turbante, saia rodada, torso de pano da costa como as baianas, ser paulista sem ser coxinha (ela é de Curitiba) e nordestina sem ser pobre. É brasileira.
Não somos "nós", versus "eles", mas um povo de todos os traços, ocidentais, europeus, orientais, asiáticos e africanos, que hoje sofre as agruras de desgovernos. Mas que viemos sendo contaminados pelo divisionismo étnico, religioso, ideológico. Desemprego, doenças como a leucemia, acometem-nos pelas condições sociais, culturais e políticas, não pela cor. 
A nossa paranoia político- ideológica faz-nos enxergar fantasmas onde não existem e faz-nos esquecer da nossa condição de povo multiétnico, multipolítico, multicultural, em que a cor diferente nos faz adversários, quando deveriam ser motivo de luta pela igualdade dos direitos.
Deveremos ter, sim, mais turbantes usados por pretos, brancos, amarelos. Saias e torços de pano da costa usados por quem assim o quiser. Da mesma forma como negros, orientais, brancos, podem usar tênis, comer acarajé, churrasco e feijoada, sem que alguém lhes venha a advertir sobre uma suposta apropriação de cultura.
Religião e a própria cultura não se medem pela cor da pele e muito menos pelos adereços que se colocam sobre ela. São bens imateriais que pertencem não a um grupo étnico, raça, partido político. São heranças universais que ao longo da história do próprio homem vão sendo compartilhadas por todas as sociedades naquilo que têm de melhor. 
Adilson Fonsêca é jornalista.
Publicado na "Tribuna da Bahia", edição de quarta-feira, 15

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