Por Percival Puggina
Milicianos petistas desfilam em
grandes centros aos gritos de "Fora Temer!". Aparentam grande
descontentamento, como se lhes houvessem tomado algo muito valioso, tipo assim,
digamos, uma presidente como Dilma Rousseff. Naquelas mentes, o Brasil, sem
Dilma, sem o PT e com Lula dando explicação para delegado, será tomado pelo
caos. Sob o novo governo, supõem, irromperão escândalos na Petrobrás, nas obras
federais, nos programas sociais. Os fundos de pensão dos trabalhadores serão
dilapidados. A inflação alcançará dois dígitos, o país entrará em recessão e
cairá em descrédito, o desemprego se abaterá sobre milhões de famílias. Cairá a
renda do trabalhador. Receiam que, com Temer, negocistas reunidos em torno do
poder farão transações danosas ao Brasil, comprarão sucatas no exterior e
entregarão patrimônio nacional a países de direita. Então, diante desse cenário
desolador, as milícias se impacientam e, vez por outra, partem para a ofensiva.
Vivesse entre nós, Miguel de
Cervantes não faria o indômito D. Quixote de la Mancha direcionar suas
investidas a inocentes moinhos de vento, mas o faria arremeter contra as novas
lixeiras. Só um conservador ordinário como Sancho Pança não percebe nelas o
potencial reacionário a exigir destruição total. Eu sempre soube que as lixeiras
seriam as primeiras vítimas de uma reação esquerdista no Brasil. É muito
simbolismo para passarem incólumes. Logo a seguir, pelo estardalhaço que causam
e pela transparência que sugerem, viriam as vidraças. Fogo nas lixeiras! Abaixo
as vidraças! E, claro, "Fora Temer!".
Tenho encontrado pessoas que depois
de desfilarem entre milhões, nas ruas e praças do Brasil, se deixam
impressionar pela gritaria dos esparsos grupelhos esquerdistas. Ora, meus
caros, nos últimos 30 anos, não houve nem há governo, municipal, estadual ou
federal que, tendo o PT como oposicionista, cumpra mandato sem escutar alarido
semelhante. O "Fora quem não seja nosso!" faz parte do pujante e rico
arsenal retórico do partido. E quando o grito sai de um peito com estrela nada
há nele de golpista. É simples manifestação de justificada "repulsa
cívica".
Então, o que estamos assistindo não
pode causar surpresa. O sentimento que essas manifestações me inspiram é de
perplexidade pela contradição formal entre os milicianos de rostos expostos e
os de rostos encobertos. Como entender condutas tão diferentes num mesmo
evento? Enquanto estes últimos têm consciência da própria incivilidade e falta
de compostura, os primeiros parecem orgulhar-se do que são e do que fazem. Pois
prefiro os que tapam a cara. Parecem-se mais com seres humanos. Em algum lugar
pulsa uma consciência. Os outros, ou deixaram a vergonha de lado em ressaca
ideológica, ou, o que é bem pior, seja a soldo, seja como voluntários, querem
restaurar o caos que o petismo produziu. E que o país se exploda.
Fonte: “Mídia Sem Máscara”
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