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No Domingo de Páscoa

No Domingo de Páscoa

quarta-feira, 13 de abril de 2016

"Uma reflexão para o pós-domingo"


Por Reinaldo Azevedo
Os leitores sabem que não sou do tipo que fica criando onda na expectativa de que esferas de opinião, de sentimentos ou de esperança possam mudar a realidade. Ao contrário até. Conservo certo pessimismo prudente sobre todas as coisas, deixando meu otimismo sempre para o longuíssimo prazo. A marquetagem me incomoda. É uma forma vulgar e inferior de pensamento.
Nunca fui um Doutor Pangloss. Prefiro "cultivar nosso jardim". Ou por outra: construo o meu otimismo de pessimismos intermediários. Sou cético demais para entrar em êxtase com causas coletivas. Até porque, meus caros, nós sabemos que, para as pessoas moralmente saudáveis, só as questões realmente pessoais, que dizem respeito ao mundo dos afetos, são importantes. Olho com suspeição para pessoas obcecadas por mudar o mundo. "Você não quer mudar o mundo, Reinaldo?" Quero. Mas sou mais obcecado por advérbios.
Por que isso? Recebo relatos, de diversas fontes, segundo os quais a fatura está liquidada na Câmara. Tanto as minhas fontes que atuam, digamos assim, na ponta do embate como as que se resguardam, servindo mais como oráculos, me dizem que, a esta altura, o resultado negativo para Dilma é inevitável.
A decisão do PP, que vinha se mostrando um dos bastiões da resistência, soou para o governo como o sinal de alerta, o que explica o discurso da presidente Dilma, completamente fora do tom, como quem estivesse prestes a cair, mais uma vez, na clandestinidade. Com a diferença nada irrelevante de que, desta feita, ela seria uma clandestina da democracia.
Embora tenha cargos no primeiro e no segundo escalões - Ministério das Cidades (Gilberto Occhi) e presidência da Codevasf (Felipe Mendes) -, o partido decidiu anunciar oficialmente a sua adesão ao impeachment. Vale dizer: está desembarcando da base. É a vontade da maioria.
Nas últimas horas, o Planalto assiste a uma debandada de deputados aliados. A fuga se explica porque ninguém mais confia que Dilma tenha futuro, ainda que venha a sobreviver à votação de domingo. Insisto neste ponto: nem tanto é a certeza de que o resultado será negativo que está a provocar a debandada, mas a evidência de que a sobrevivência implicaria dias ainda mais difíceis. Não! Esse não é um daqueles casos cantados por Camões em "Os Lusíadas", em que o temor pode ser maior do que o perigo. Ao contrário: o perigo é mesmo maior do que o temor.
E, mesmo diante da mais desavergonhada compra de votos de que se tem notícia no país; mesmo diante do maior leilão jamais realizado na política; mesmo diante da maior queima de cargos estocados da República, ainda assim, tudo caminha para que o governo obtenha um resultado negativo.
"E depois disso, Reinaldo, vem o quê?" Ora, depois disso vêm mais luta, mais disputas, mais confrontos de ideias, mais choque de posições… É assim que caminhamos para o melhor mundo… possível. O melhor mundo "impossível" é o pai de todas as ditaduras.
Assim, meus queridos, eu espero, com vivo entusiasmo, que Dilma seja apeada do poder. Todas as informações que tenho me dizem que caminhamos para isso. E sabem o que terei de fazer na segunda? De trabalhar. E se o resultado for o que não quero? Também terei de trabalhar. Em qualquer caso, vou "cultivar o meu jardim".
Digo isso porque noto aqui e ali certas paixões finalistas, independentemente do horizonte de cada um, que parecem vislumbrar na votação de domingo o fim de um mundo e o nascer de outro. Não! Teremos apenas a vida e seu ofício seguindo, segundo as regras do estado de direito.
Se Dilma perder, vou vibrar porque acho que se estará fazendo justiça. Se ela vencer na derrota - isto é, se os pró-impeachment não obtiverem ao menos 342 votos -, vou lamentar pelas dificuldades adicionais que isso trará aos brasileiros, especialmente aos mais pobres.
Mas a minha teia de afetos e as coisas que realmente me são muito caras estão blindadas contra essas circunstâncias todas. Baudelaire tem um poema, procurem, sobre o rei de um país chuvoso. Não vale por sua melancolia. Vale por sua crença de que somos um pouco mais do que cadáveres adiados que procriam e, de vez em quando, brigam.
Que Dilma se vá! E acho que se vai. E se não se for?
Ainda saberei de cor um monte de poemas que justificam uma vida.
Fonte: http://veja.abril.com.br/

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