Por Reinaldo Azevedo
Marina Silva fez um discurso de adesão a Aécio Neves mais forte e
inequívoco do que alguns poderiam apostar. Segundo o Ibope e o Datafolha, o
candidato do PSDB teria hoje 51% dos votos válidos, contra 49% de Dilma
Rousseff. A estarem certos esses números, comparando-os com o resultado das
urnas (41,59% a 33,55% dos válidos para a petista), o peessedebista ganhou
impressionantes 17,45 pontos, e a petista, apenas 7,41. Há institutos dizendo
que essa vantagem é bem maior. Isso é uma indicação de que a maioria do
eleitorado de Marina migrou para o tucano primeiro, e ela, só depois, mas o
gesto tem um simbolismo importante, embora nem tudo em sua fala esteja correto,
como deixarei claro. Tudo o mais constante e, reitero, desde que esses números
façam sentido, a eventual vitória de Aécio não terá dependido da adesão pessoal
de Marina. Mas é importante que ela tenha ocorrido. Por quê?
Porque a campanha do PT, até agora, não encontrou uma alternativa
que não seja dividir o país e investir, pela sétima vez consecutiva, no
confronto e na luta de brasileiros contra brasileiros. Deu errado três vezes
(1989, 1994 e 1998) e certo outras três (2002, 2006 e 2010). O apoio de Marina
a Aécio reforça a imagem - e o fato - de um candidato que fala em união, não em
separação.
Em seu discurso, Marina deixa claro que a carta pública de Aécio,
em que se compromete com alguns temas, serviu para definir seu apoio, embora
tenha dito que o compromisso não tenha sido firmado com ela, mas com a
população. Marina destacou alguns itens: ampliação da participação popular; fim
da reeleição e reforma política; desmatamento zero; metas socioambientais e
economia de baixo carbono; manutenção das atuais regras para demarcação de
terras indígenas etc. Algumas dessas questões dependem da vontade do Congresso.
Mas é evidente que a ação do Executivo tem sempre um peso importante.
Marina se refere claramente à forma como o PT a tratou na disputa
eleitoral. Afirmou: "É preciso, e faço um apelo enfático nesse sentido, que
saiamos do território da política destrutiva para conseguir ver com clareza os
temas estratégicos para o desenvolvimento do país e com tranquilidade para
debatê-los tendo como horizonte o bem comum. Não podemos mais continuar
apostando no ódio, na calúnia e na desconstrução de pessoas e propostas apenas
pela disputa de poder que dividem o Brasil".
A tese e os erros
Embora tenha aderido à candidatura de Aécio, Marina não abandonou o discurso da terceira via, da nova política, do fim da polarização PSDB-PT. Em seu pronunciamento, submete o raciocínio a um triplo salto carpado e transforma o Aécio Neves de 2014 no Lula de 2012, e faz do texto-compromisso do tucano a “Carta ao Povo Brasileiro do PSDB”. A síntese de sua leitura é esta: a vitória do PT em 2002 representou a alternância no poder e o acréscimo do viés social à técnica, representada pelos tucanos. Quando os petistas fizeram a sua "Carta ao Povo Brasileiro", aderiram à racionalidade econômica, mas sem abandonar seu viés social.
Embora tenha aderido à candidatura de Aécio, Marina não abandonou o discurso da terceira via, da nova política, do fim da polarização PSDB-PT. Em seu pronunciamento, submete o raciocínio a um triplo salto carpado e transforma o Aécio Neves de 2014 no Lula de 2012, e faz do texto-compromisso do tucano a “Carta ao Povo Brasileiro do PSDB”. A síntese de sua leitura é esta: a vitória do PT em 2002 representou a alternância no poder e o acréscimo do viés social à técnica, representada pelos tucanos. Quando os petistas fizeram a sua "Carta ao Povo Brasileiro", aderiram à racionalidade econômica, mas sem abandonar seu viés social.
Agora, a alternância é Aécio, e sua carta-compromisso significaria
a adesão dos tucanos ao viés social, mas sem abandonar a racionalidade
econômica: um movimento espelhado. Para Marina, tudo indica, a história tem
mesmo uma constante de teses e antíteses, que vão se desdobrando em sínteses,
e, assim, todos avançamos.
Assim seria se assim fosse, mas não é. O PT só teve de fazer a sua "carta" em 2002 porque o partido passou mais de 20 anos pregando o calote das
dívidas interna e externa e hostilizando o livre mercado. Os agentes econômicos
achavam que se tratava de gente equivocada, mas séria dentro do seu erro. E foi
necessário que o petismo comprovasse que a segunda parte, ao menos, não era
verdadeira. O PSDB nunca foi um partido hostil à agenda social — e, portanto,
não precisou nem precisa fazer carta nenhuma. O Bolsa Família é herança do
governo FHC. A política de valorização real do salário mínimo teve início no
governo tucano. O Plano Real significou a mais forte ferramenta - consistente,
duradoura e sustentável - de inclusão dos pobres na economia.
Faço esses reparos não para diminuir ou tisnar a adesão de Marina,
mas para colocá-la nos seus justos termos. Quem inventou um PSDB hostil ao povo
foi Lula, foi o PT. Era só conversa para vencer a eleição. Enquanto os que
tiraram o país da bancarrota eram tratados aos pontapés, os salvadores da
pátria estavam perpetrando aquelas sujeiras na Petrobras.
Marina fez o que seu eleitorado já havia feito. Isso não diminui o
peso da sua escolha. Mas é importante contar a história direito.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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