Por Marco Antônio
Villa
O auge do jogo sujo será
justamente na breve campanha do segundo turno, onde calúnia tem muito mais
efeito eleitoral.
Estamos a menos de dois
meses das eleições. Mas não parece. Há um clima de desânimo, de desinteresse,
de enfado. Acreditava-se que, após o fim da Copa do Mundo, as atenções
estivessem concentradas no processo eleitoral. Ledo engano. A pasmaceira
continua a mesma. Agora, o divisor de águas é o horário gratuito que começa dia
19. Para o PT, este é o clima ideal para a eleição presidencial. Quanto menor o
interesse popular, maior a chance de permanecer mais um quadriênio no poder. O
partido tem, inclusive, estimulado discretamente campanha pelo voto nulo ou
branco. Sabe que muitos eleitores estão desanimados com a política, justamente
com as mazelas produzidas pelo próprio petismo.
A desmoralização das
instituições foi sistematicamente praticada pelo partido. A compra de maioria
na Câmara dos Deputados, que deu origem ao processo do mensalão, foi apenas o
primeiro passo. Tivemos a transformação do STF em um puxadinho do Palácio do
Planalto. O Executivo virou um grande balcão de negócios e passou a ter
controle dos outros dois poderes. Tudo isso foi realizado às claras, sem nenhum
pudor.
Não há área do governo que
nos últimos anos tenha permanecido ilesa frente à sanha petista. Todos os
setores da administração pública foram tomados e aparelhados pelo partido. Os
bancos, as empresas estatais e até as agências reguladoras se transformaram em
correrias de transmissão dos seus interesses partidários.
Imaginava-se que, após a
condenação dos mensaleiros, o ímpeto petista de usar a coisa pública ao seu
bel-prazer pudesse, ao menos, diminuir. Nada disso. Os episódios envolvendo a
Petrobras demonstram justamente o contrário. E mais: neste caso levaram ao
descrédito total os trabalhos de uma Comissão Parlamentar de Inquérito e
desmoralizaram mais uma vez o Legislativo.
As ações seguem um plano de
que o partido é o elemento central da política, nada pode ocorrer sem a sua
anuência. Esta estrutura tentacular tem enorme dificuldade de conviver com a
democracia, a alternância no governo e com o equilíbrio entre os poderes. A
insistência em impor o projeto dos conselhos populares - uma espécie de
sovietes dos trópicos - faz parte desta visão de mundo autoritária.
O maior obstáculo para o PT
é a existência do Estado Democrático de Direito. O partido tem como objetivo
estratégico miná-lo diuturnamente. Suas ações chocam-se com a "institucionalidade burguesa".
O PT usará de todos os
meios para se manter no poder. Manteve até aqui a campanha em banho-maria, como
era do seu interesse. Mas com a permanência de Dilma em um patamar que vai
levar a eleição para o segundo turno - isto hoje é líquido e certo -, o partido
vai abrir a sua caixa de ferramentas, como o fez em 2006 e 2010.
O uso da internet para
desqualificar seus opositores é realizado há um bom tempo. O PT tem um
verdadeiro exército de jihadistas prontos para o ataque. O recente episódio de
mudanças no perfil de jornalistas na Wikipedia é café pequeno frente ao que vem
por aí. O auge do jogo sujo será justamente durante a breve campanha do segundo
turno, onde uma calúnia tem muito mais efeito eleitoral, principalmente se
divulgada às vésperas da eleição.
As modificações ocorridas
no Tribunal Superior Eleitoral passaram em branco. É bom que a oposição fique
atenta, pois quem vai presidir a eleição é um ex-funcionário do Partido dos
Trabalhadores e ex-advogado de um sentenciado no processo do mensalão, José
Dirceu. O presidente do TSE é o ministro Dias Toffolli.
Neste processo chama a
atenção a ação de Lula, seu líder máximo - e único, na verdade. Tem se mantido - até o momento - discreto na campanha eleitoral. Visitou alguns estados e
mesmo em São Paulo tem participado pouco das atividades. Pode ser que tenha
sentido um cheiro de derrota no ar e está buscando preservar sua figura. No
caso da eleição paulista, isto já é definitivo. Seu candidato já está
derrotado. Esperto como é, pode já estar iniciando a campanha de 2018. E com o
figurino de salvador da pátria.
Frente a este quadro é que
a oposição precisa exercer o seu papel. Nesta eleição tem agido com mais
consistência, buscando alianças regionais e um discurso mais simples e
compreensível para o eleitor. Tem atuado melhor, mas distante do que se espera
de uma oposição no grave momento histórico que vivemos.
Eduardo Campos tenta - mas
tem muita dificuldade - de encarnar o figurino oposicionista. Afinal,
permaneceu mais de um decênio apoiando o governo, inclusive exercendo função
ministerial. Mas teve ousadia em se lançar candidato.
É Aécio Neves que tem de
exercer o papel de opositor do petismo. Tem se esforçado, é verdade, porém a
campanha ainda não empolgou. Conseguiu habilmente construir bons palanques
estaduais. Diversamente de 2010 rachou o apoio petista no trio de ferro da
política brasileira. Em Minas Gerais deve ter uma grande vitória. Em São Paulo,
se conseguir colar a sua candidatura à de Geraldo Alckmin, pode ter a maior
vitória do partido no estado desde o restabelecimento das eleições diretas.
Conseguiu um raro feito no Rio de Janeiro, rachando o bloco de apoio à petista
que foi importante em 2010. Deve surpreender no Nordeste tendo uma boa votação,
rompendo com o domínio petista, como na Bahia. Mas ainda é pouco.
A máquina autoritária
petista pode ser derrotada. Os dois próximos meses são decisivos. O PT vai usar
todas as suas armas. Sabe que é uma batalha de vida ou morte, pois longe do
aparelho de Estado não consegue mais sobreviver.
Fonte: "O Globo"
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