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No Domingo de Páscoa

No Domingo de Páscoa

sábado, 26 de julho de 2014

"O desabafo de uma brasileira que mora em Israel"


Sra presidente Dilma Roussef, 
Na minha carteira de identidade de número 4051182-6 expedida pelo Instituto Felix Pacheco no Rio de Janeiro, ao lado do item nacionalidade está escrito "brasileira".
Sim, sou brasileira e "carioca da gema". Filha de pais brasileiros e mãe de filhas brasileiras. Gosto de empadinha de palmito, água de coco , feijão e farofa. Ouço Marisa Monte, Cartola, Caetano e Cazuza. Visto a camisa seja qual for o placar e posso mesmo declarar que tenho sangue verde e amarelo.
Sou dos "Anos rebeldes", aqueles onde muitas vezes o máximo da rebeldia era cantar "Afasta de Mim Este Cálice" enquanto ficavamos de olho se algum colega de escola "era sumido". Aqueles anos onde Chico Buarque só podia ser Julinho da Adelaide. Sai às ruas pelas "Diretas Já" e, emocionada, vi o Gabeira e o Betinho finalmente voltarem do exilio arbitrário.
Nos anos 90, com mestrado em Psicologia e em Educação, fui honrosamente convidada a assessorar a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Cheia de entusiasmo, fazia parte de uma equipe profissional de primeira linha. À nossa frente, uma secretária de Educação indicada pelo prefeito não por suas ligações políticas mas por sua competência profissional e comprometimento por uma Escola de qualidade para as nossas crianças.
E foi aí que comecei a perceber que algo de muito errado acontecia na minha cidade e no meu país. Mesmo ocupando um cargo de onde poderia "fazer acontecer", percebi que apenas vontade política, profissionalismo e amor pelas crianças do Rio de Janeiro nao eram suficientes pra mudar a antiga engrenagem: emperrada, viciada, corrompida e perversa.
Foi depois de ter sido assaltada oito vezes, uma delas com um revólver apontado pra minha cabeça... foi aí que a ficha caiu e percebi que não poderia mais criar minhas filhas no meio da corrupção, suborno, mão armada e com medo da própria sombra. Tinha que me despedir do meu País.
Com muita dor no coração e resolvi fazer as malas. Por livre escolha, assim como tantos e tantos brasileiros. Meu País não podia me oferecer condições dignas de vida. Nao se preocupava ou não agia com eficiencia em nome do bem-estar de seus cidadãos. Fiz minhas malas e vim para o Oriente Médio.
Apesar de na minha carteira de identidade não constar o item "religião", eu posso lhe contar. Sou judia.
"Judeu" palavra que para muitos esta diretamente associada a Judas o traidor de Jesus Cristo (ele mesmo judeu) e tambem a Freud, Einstein, Bill Gates e Mark Zuckerberg e mais vários ganhadores de Prêmio Nobel.
Optei viver em Israel. Me tornei israelense. Quanta contradição, sair do Brasil por medo de assaltos e sequestros e vir para Israel...
Aqui Sra. presidente, quando estamos em perigo, soam sirenes para que entremos em abrigos antibombas. Nunca mais estive a ponto de ser pega por uma bala perdida, assim como nunca mais tive que sentir a dor no peito ao ver famílias inteiras à beira da rua mendigando. Nunca mais tive que me pegar na dúvida do que sentir diante de um pivete: medo ou pena. Por que aqui não existem pivetes. A educação e a saúde são um direito de fato de todos os cidadãos, independente de cor, raça ou credo.
Sou uma dos cerca de 10 mil brasileiros que vivem hoje em Israel e, que hoje de manhã ao acordarem, deram-se conta de que o Governo brasileiro chamou o embaixador brasileiro em Israel pra uma "consulta em protesto pela operação do Exército de Israel na Faixa de Gaza". Me pergunto se tambem foram chamados o embaixador na Síria, onde na última semana morreram mais de 700 pessoas. Ou talvez o embaixador no Iraque onde está sendo feita uma "purificação étnica". O próximo passo já bate na porta: cortar as relações diplomáticas do Brasil com Israel.
Escrevo para lhe contar Sra. presidente que tenho vergonha.
Num momento tão delicado para tantos de nós brasileiros que vivem em Israel, no momento onde Israel recebe a visita e o franco apoio da primeira-ministra da Alemanha, do ministro do Exterior da Inglaterra, do ministro do Exterior dos Estados Unidos e da ministra do Exterior da Itália... um dia depois que o secretário geral da ONU visita Israel e declara que o país tem todo o direito de se defender e a seus cidadãos do ataque de um grupo terrorista… depois disso, recebemos a notícia da chamada do Embaixador brasileiro.
A televisão anuncia a decisão brasileira e tenho vergonha.
A vergonha não é só pelo alinhamento do Brasil com os países islâmicos extremistas ao invés de se alinhar com a Democracia. Tenho vergonha também dos meios de comunicação tendenciosos do Brasil, que só enxergam ou so querem enxergar um lado da história. Mas isso já é outra conversa…
Hoje, junto com a notícia da chamada do embaixador brasileiro, vi também na televisão que o governo de Israel esta enviando vários aviões para os quatro cantos do planeta para resgatarem israelenses que por conta do embargo aéreo temporário das companias de aviação estrangeiras não conseguem voar para Israel. Uma verdadeira operação resgate. Por que? Pois aqui a vida do cidadão tem valor.
Eu vivo num país onde a vida de um soldado foi trocada pela de 1000 terroristas presos por crime de sangue.
Na minha ingenuidade, cheguei a pensar que o Brasil tentaria verificar a situação de seus cidadãos em Israel nesse momento de guerra, se e que algum cidadão brasileiro estaria com alguma necessidade que pudesse ser atendida pela representação do Brasil em Israel. Que bobinha...
Mais fácil talvez seja mesmo vir a cortar as relações diplomáticas pois não sei mais qual o valor do meu passaporte brasileiro.
Vergonha e desgosto por comprovar, que mesmo depois de tantos anos, o brasileiro ainda vale muito pouco, para não dizer quase nada, para o seu próprio país.
E o verde-amarelo do meu sangue cada vez mais vai perdendo sua cor. 
Rita Cohen Wolf
Direto do Facebook

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