Por Igor Miguel
Estive em Israel algumas vezes, em 2007, ganhei uma bolsa
acadêmica para um curso no Museu do Holocausto (Yad Vashem) e na Universidade
Hebraica de Jerusalém, na ocasião pude ver de mais perto a complexidade da
relação palestino-israelense. E depois, de algum tempo, adoto os
seguintes princípios, que espero, ajudem algumas pessoas a se posicionarem a
respeito desta complexa relação:
1) Antissemitismo (inimizade em relação aos judeus por
razões étnicas ou religiosas) é anticristão, por alguns motivos:
- O povo judeu é um testemunho histórico da
veracidade das Escrituras;
- O povo judeu é de onde emergiu Jesus Cristo;
- Fere o princípio cristão básico de amor ao
próximo.
2) O povo judeu,diferente de muitas comunidades do ocidente,
tem uma prática cultural baseada na memória. Se para nós, em geral, o passado é
algo facilmente esquecido, para os judeus, o passado é ritualizado e sua
memória transmitida pelas gerações. Logo, eventos como o holocausto, a expulsão
romana, e até mesmo o Êxodo Bíblico, são eventos sempre presentes na memória
judaica. Isso é parte de sua cosmovisão, seja para bem ou para mal.
3) O holocausto é um evento com marcas ainda presentes na
cultura judaica em geral. Assim, diante de inúmeras ameças da diáspora, que
teve seu clímax nos campos de extermínio, não há outra opção para o povo judeu
se não uma terra (nação) com autonomia política e militar. E não há outra opção
em relação à civilização ocidental: não permitir que um novo holocausto
aconteça, seja a que preço for.
4) Os judeus foram expulsos pelo imperador Adriano (por
volta do II século d.C.) de seu território depois de um longo esforço militar
fracassado para se libertarem da tirania do império romano. Então, considere
este evento como algo com consequências históricas muito sérias. Não olhe para
os problemas políticos relacionados aos judeus como um fenômeno apenas da
modernidade, este é um erro crasso. Como disse,grande parte da mentalidade e
expectativas judaicas têm raízes profundas em eventos pré-modernos.
5) Um cristão não pode ser considerado antissemita pelo
simples fato de sustentar a teologia bíblica e cristã de que o título "povo de
Deus" é uma exclusividade daqueles que se ligam a Deus por meio de Jesus
Cristo. Por inúmeras razões teológicas, obviamente descartadas por judeus,
cristãos insistem que não há eleição fora de Jesus. E, por esta razão, Deus não
tem dois povos, mas apenas um: aquele que se liga a seu Messias Jesus (seja
judeu ou gentio). Claro, que isto não implica em rejeição a tudo que Deus fez
outrora com os profetas e patriarcas, ao contrário, em Jesus, Israel encontra
toda sua plenitude. Considere ler o texto "Israel de Deus" de minha autoria, em
que trato sobre o assunto.
6) Há marcas indeléveis nas práticas culturais e étnicas dos
judeus que remetem a revelação de Deus na Bíblia Hebraica (Antigo Testamento).
Isto não pode ser ignorado por cristãos quando pensam em um posicionamento em
relação aos judeus e ao moderno estado judaico.
7) Um cristão pode discordar dos métodos militares e
políticos como o estado moderno de Israel se organiza ou foi estabelecido, e
isto não implicaria necessariamente em antissemitismo. Porém, deve ser
cuidadoso, pois muitas vezes um sentimento antissionista oculta um sentimento
antissemita. Este último é pecaminoso, enquanto aquele pode ter apenas razões
políticas, e no quesito político o debate ainda está aberto. Porém, antes de se
posicionar como antissionista, ou seja,como alguém que discorda do direito do
judeu ter uma terra, pense se o que você tem não é uma posição crítica a
algumas formas como o sionismo acontece, e não ao sionismo em si.
8) Cristãos podem discordar livremente de algumas formas
como a política israelense acontece, desde que apresentem razões plausíveis
para isto. Esta discordância não implicaria em antissemitismo. Israelenses
podem agir de forma arbitrária e injusta, o que aconteceu, acontece e
acontecerá. Eles não estão isentos de erros inerentes a seres humanos. A
doutrina cristã da radicalidade do pecado em seres humanos não isenta ninguém,
nem mesmo cristãos ou judeus, da possibilidade de corrupção e injustiça.
9) Muitos dos boicotes, oposições e discurso antissionistas
que existem hoje, principalmente oriundos da esquerda política e da nova
esquerda ocidental, estão carregados de sentimento antissemita. E simplesmente,
ignora-se a complexidade cultural inerente a grupos claramente terroristas. O "hamás" e o "hezbolah" não são grupos 'revolucionários', são movimentos
islamistas fundamentalistas que se valem de metodologias imorais para lograrem
êxito em suas iniciativas. Não estão dispostos ao diálogo nem com seus pares.
10) Enfim, cristãos não podem "canonizar" o Israel moderno,
e tornarem-se acríticos em relação a suas ações políticas e militares. Existe
um apoio acrítico por parte de alguns cristãos evangélicos por causa da
influência da teologia dispensacionalista. Se não sabe o que é isto, pesquise
sobre o assunto. Tanto palestinos quanto judeus têm o direito de viverem em
paz, e penso, ambos tem o direito a uma nação e a uma identidade nacional. Não
há soluções mágicas para a tensão entre Israel e Palestina, este é um conflito
com raízes no passado, porém, criminalizar de forma arbitrária tanto
israelenses como palestinos, pode incorrer em análises injustas da situação.
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