Por Percival Puggina
Raras
vezes se viu tamanha barafunda num "mar de rosas". Dilma Rousseff já
cumpriu dois terços de seu mandato acumulando trapalhadas e fracassos. Demorou
duas décadas mas, finalmente, o PT está alcançando seu objetivo de 1994 -
acabar com o Plano Real. O sonho dourado das esquerdas nos anos 90, o fim do
programa que deu estabilidade à moeda nacional, aquilo que Lula tentou mas não
conseguiu em seus oito anos, Dilma, está realizando em menos de quatro, à base
de trombada na cristaleira. O petismo espatifou a Economia e tudo mais à sua
volta. Nem despejando bilhões no mercado, o Banco Central consegue conter a
evasão das verdinhas ianques, que se retiram do país como os ratos abandonavam
o Titanic nas impressionantes cenas do filme de James Cameron.
Há
poucos meses, quando o PT festejava em São Paulo seus dez anos no governo da
União, o tom ufanista dos discursos mostrava que o partido chegara à overdose
de poder. "Pode juntar quem quiser", bravateou Lula, convicto de nova
vitória do partido em 2014. "Qualquer coisa que eles tentarem fazer nós
fazemos mais e melhor", prosseguiu o eufórico ex-presidente, nariz enfiado
no pote do poder. Seguiu-lhe a arrevesada sucessora, tratando de mostrar
serviço. Arrombou a ostra onde oculta sua sabedoria e extraiu esta pérola:
"Não tenho medo de comparações, inclusive sobre corrupção"... Isso
tem outro nome, claro. Mas é, também, overdose de poder. Poder sobre a própria
imagem, sobre a sociedade, poder sobre os demais poderes, poder sobre a mídia,
poder agregado, ano após ano, em sequências exponenciais perante auditórios
interesseiros.
Quatro
meses depois, foi a vez de o povo evidenciar que também ele tivera sua overdose
de petismo. E saiu às ruas para pacíficas e civilizadas demonstrações de
inconformidade. O povo deu uma olhada no próprio país e percebeu que, por trás
da publicidade, dos cenários, das montagens, das invenções e versões, tudo -
simplesmente tudo! - vai muito mal. Depois de dois PACs lançados às urtigas,
que não valiam a tinta e o papel gastos para redigi-los, a economia arqueja
sobre uma infraestrutura carente de tudo que importa - energia, rodovias,
ferrovias, armazenagem, portos. Quanto mais PAC, menos PIB. O rio São Francisco
continua no mesmo lugar, levando, dolente, suas águas para o mar de Alagoas. Nas
refinarias projetadas, nada se avoluma com maior rapidez do que o preço
inicialmente previsto. Aqui no Rio Grande do Sul, de onde escrevo, as ditas
"obra da Copa" ficarão para depois da Copa. O prometido, jurado e
sacramentado metrô de Porto Alegre ainda é um risco no papel, em eterna
discussão. E a duplicação da travessia do Guaíba resume-se a um trabalho de
computação gráfica.
A
Educação brasileira é a penúltima entre 40 países estudados pela Economist
Intelligence Unit. A Saúde beira à perfeição. Sim, é um perfeitíssimo
pandemônio! Nós, os cidadãos, reconhecemos que houve uma inversão nos extratos
sociais. Mudamo-nos para o submundo, para a zona de perigo, onde não existe a
proteção da lei, onde padecemos nossa desdita sob a implacável violência do andar
de cima. Ali, no andar de cima, é tudo ao contrário e o mundo do crime opera ao
resguardo do imenso guarda-chuva gentilmente proporcionado pelo aparelho de
Estado e suas leis. É isso que se chama, aqui, de Segurança Pública. Tudo por
obra e graça do petismo que chegou à overdose de si mesmo e perdeu os próprios
controles.
Fonte: "Mídia Sem Máscara"
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