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sexta-feira, 16 de agosto de 2013

"Goebbels & Google"



Por Gustavo Nogy

"LULA MORREU". Vou conferir a notícia e, sigh!, Lula não morreu. Nem mesmo "esteve ontem" no Sírio-Libanês. Para alegria de muitos e desespero de tantos outros, ele continua entre nós e deve contribuir sobremaneira para a reeleição do títere que ora nos preside. (Quem morreu parece ter sido o José Serra, mas isso são histórias outras).
Nelson Mandela morre dia sim, dia não, há pelo menos dois meses. Eu chorei sua morte ao menos cinco vezes, e ele, que nunca foi exatamente santo - amistosas atividades antes da "canonização" política não me deixam mentir - prossegue, vivo e são, até sua próxima morte em data a ser acordada. E basta trocar os nomes - de Nelson Mandela por Sílvio Santos - que tudo se passa da mesma maneira.
Outra publicação me avisa que "papa Francisco suspende a excomunhão do padre Beto", aquele homossexual (confere?) disfarçado de sacerdote. E lá vou eu gastar dois minutos da minha vida para confirmar que não, a excomunhão não foi suspensa coisíssima nenhuma, e tudo não passa de mais um conto ilustrado com a foto do saudoso e nunca assaz louvado Sérgio Malandro. Dois minutos para conferir a bobagem e mais dez para prevenir três ou quatro amigos da mentira.
Meses atrás, Helena Ramirez, histórica líder do movimento feminista no Brasil, teria deixado a audiência da TV Globo estarrecida, ao declarar no programa do humorista Jô Soares que "mulher que se submete a fazer sexo na vexatória posição 'de quatro' está jogando no lixo as décadas de luta das mulheres conscientes". Certas posições sexuais não seriam dignas da fêmea contemporânea e bípede. Polêmica. Consternação nas redes sociais. Feministas libertárias criticam a feminista puritana, e a feminista puritana criticaria as feministas libertárias, tenho certeza. Se existisse.
Ocorre que não houve entrevista polêmica, Helena Ramirez é personagem tão histórica quanto a inteligência do Emir Sader e, pensando bem, aquele pernóstico também não é entrevistador, e a audiência da TV Globo não fica impressionada com porcaria alguma, há muito tempo. Mas o boato imita a vida (as senhoras e senhoritas estejam avisadas que, até segunda ordem, a posição em questão está liberada). Hoje, uma mentira contada uma única vez já se torna verdade sacrossanta e virtualmente indesmentível.  
Ainda na semana passada circulava um escabroso post que mostrava chineses comendo (literalmente) criancinhas no jantar. Era picadinho de criança com batatas, criança ao molho madeira, criança-atolada. O mundo ficou horrorizado com os chineses e os chineses responderam ao mundo (em chinês), e ninguém entendeu nada. Mas há um problema: não que os chineses sejam incapazes disso (sorry, chineses), mas o escândalo é escandalosamente falso. Eles preferem cachorros.
Pedro Doria, n'O Globo, comenta de forma bastante pertinente o fenômeno:
O entusiasmo pelo advento da Internet e pelas liberdades quase ilimitadas que ela promove deve ser temperado, mais do que nunca, com doses generosas de prudência e seriedade. Ler e ler novamente. Cruzar as fontes. E ler ainda uma vez mais.
Se o jornalismo tradicional nunca foi das atividades mais confiáveis - em virtude das preferências ideológicas, das urgências da profissão, das pressões ora econômicas, ora estatais que a mídia mainstream sofre e exerce -, isso não há de ser diferente na mídia heterodoxa, independente e colaborativa.  
O caso do coletivo Fora do Eixo (Mídia Ninja) é exemplar. Alguns militantes nas ruas, câmeras nas mãos e falta de ideias na cabeça. Pablo Capilé, um dos mentores da trupe, fez fama e fortuna com esse jornalismo-verdade - que de verdade não tem rigorosamente nada, e de jornalismo tem o pior.
O fato é que nunca a verdade (sai pra lá com seu Pilatos interior!) esteve tão exposta e, a um só tempo, tão escondida sob pilhas de mentiras virtuais. Andrew Keen, em seu livro O Culto do Amador (recomendo), questiona a liberalidade com que despejamos bobagens na rede, anonimamente. Ele é bastante pessimista. Eu sou menos pessimista. Mas temos inegavelmente um problema.
Na prática, não é preciso suprimir uma informação que se queira suprimida. Basta que produzamos centenas de milhares de ruídos, e a verdade acaba esmagada e insignificante, sob o peso de milhões de nano-Goebbels geradores de, aspas, conteúdo. O maior problema é que a irresponsabilidade de muitos arruaceiros virtuais termine por justificar a sanha autoritária dos nossos legisladores. Dizer a verdade - ou, no mínimo, ter o cuidado de distinguir entre uma informação e um hoax - é, mais do que civilizado, uma justificativa para manter os burocratas longe de nós.
A propósito: Oscar Niemeyer, aparentemente, morreu. Mas se me contassem que tudo não passou de uma brincadeira, eu acreditaria piamente. Sem conferir.
Publicado no blog Ad Hominem.
Fonte: "Mídia Sem Máscara"


 

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