Por Josias de Souza
Em 2011, ao tomar posse,
Dilma Rousseff deixou-se levar pelo pior tipo de ilusão que um presidente da
República pode ter: a ilusão de que preside. Não quis papo. Levou a
administração no tranco, na base do vai ou racha. Vê-se agora obrigada a
administrar um condomínio rachado. A exemplo do que fizera na semana passada,
abriu a semana reunindo-se com seus supostos aliados na Câmara. Não conseguiu,
porém, reverter a perspectiva de arrostar mais derrotas legislativas.
Após três horas de
conversa, a maioria dos apoiadores de Dilma saiu disposta a contrariar a
presidente em duas votações: a proposta que torna obrigatório o pagamento das
emendas orçamentárias dos congressistas e o projeto que destina os royalties do
petróleo para educação e saúde. É como se os parlamentares governistas
quisessem ensinar a Dilma que o poder efetivo dela não vai muito além dos
quatro andares do Planalto.
Do palácio pra fora, o
comando da presidente se dissipa na imensidão amazônica da máquina e no mar de
opiniões e interesses que coabitam o Congresso. Até julho, Dilma podia
contra-atacar com os vetos. Agora, com a regra que obriga os parlamentares a
analisar os vetos presidenciais em 30 dias, ela corre o risco de se desmoralizar
se continuar fingindo que faz e acontece. Melhor negociar e tentar atenuar as
derrotas.
A votação do orçamento
impositivo e dos royalties consta da pauta desta terça na Câmara. A segunda
deve ser adiada para quarta. Numa tentativa de abortar a impressão de que
ninguém cuida do funcionamento do seu condomínio, a síndica Dilma escalou a
ministra Miriam Belchior (Planejamento) para acordar cedo. Ela acenderá as
caldeiras do dia numa reunião com líderes na Câmara. E verificará se ainda é
possível fazer com que as legendas governistas girem em torno do eixo do
governo e ao redor da luminosidade cada vez menos solar de sua presidente.
Miriam esgrime um estudo
que aponta oito problemas e supostas ilegalidades que resultariam da aprovação
da execução impositiva das emenda$ ao Orçamento da União. Por trás da pregação
está a ameaça de um recurso ao STF caso a proposta passe. Os deputados parecem
decididos a pagar pra ver. Em relação aos royalties, são basicamente duas as
divergências entre Dilma e o pedaço mais rebelde de sua infantaria.
Dilma repisou a tecla da
destinação de 100% dos royalties para a Educação. Os deputados insistiram na
conveniência de separar 25% para a Saúde. O grosso do dinheiro virá do Fundo
Social criado sob Lula para armazenar os dividendos do petróleo. A presidente
quer destinar à Educação 50% dos rendimentos desse fundo. Os deputados preferem
aplicar 50% de todo o fundo, não apenas dos rendimentos.
Numa conta feita pela
assessoria da Câmara, a fórmula de Dilma resultaria num aumento de R$ 25
bilhões nas arcas da Educação em dez anos. A da Câmara destinaria à Educação e
à Saúde um adicional de R$ 279 bilhões emu ma década. Haja lábia para a
ministra Miriam. Ou Dilma se acomoda em meio aos entrechoques das forças que
dizem apoiá-la ou se arrisca a ser governada por elas. Com sorte, os aliados
permitem que a presidente continue dando a impressão de que comanda.
Fonte: "Blog do Josias"
Nenhum comentário:
Postar um comentário