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No Domingo de Páscoa

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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

"Jornalismo macabro: escondendo os cadáveres que não interessam com aqueles que interessam"


Por Reinaldo Azevedo
Escrevi na VEJA desta semana um artigo sobre os números da violência em São Paulo, comparando-os com o que acontece no resto no Brasil. O texto se segue a uma reportagem da revista que procura entender o que está em curso, em vez de fazer terrorismo, como virou moda. Alguns tontos me escreveram afirmando que tentei minimizar o problema. Que bobagem! Se eu negasse o surto de violência, ele deixaria de existir? Recuso, isto sim, é a espetacularização intelectualmente vigarista do que é um drama para muita gente.
Não vou aderir à indigência política que toma conta desse assunto só para evitar a suspeita de que gosto de andar na contramão. Pra começo de conversa, eu não tenho o menor problema de ir no contrafluxo se achar que devo. Se os números e os fatos, além da convicção, me dão razão, aí é que não mesmo. Existe um recrudescimento da violência, provocado, tudo parece indicar, pelo crime organizado. Ocorre que setores consideráveis da imprensa deixaram de fazer reportagem e passaram a fazer militância. Pior: tornaram-se aliados objetivos dos criminosos. Vamos ver.
Dado o número de homicídios dolosos no Brasil, foram assassinadas ontem perto de 130 pessoas no país. Outras tantas serão assassinadas hoje, e o mesmo vai acontecer amanhã. Onde estão os mortos do Rio Grande do Sul, do Rio, de Minas, da Bahia, do resto do país? Por que suas histórias não comovem? Por que se faz mais alarde justamente onde, proporcionalmente, menos se mata?
"Porque existe uma guerra entre policiais e PCC em São Paulo, Reinaldo", poderia responder alguém. Eis o problema! ESSA DITA GUERRA FOI INVENTADA PELO JORNALISMO DE TESE, NÃO PELA REPORTAGEM QUE SE ATÉM AOS FATOS. Jornalistas proclamam isso por aí sem que, no entanto, consigam apresentar evidências, a não ser depoimentos em off…
Peguemos os casos dos tais motoqueiros matadores. O que textos sugerem nas entrelinhas ou se explicita em falas em off é que os ditos-cujos seriam policiais vingando a morte de colegas assassinados pelo PCC. Muito bem! Impressiona-me que editores e diretores de redação não se deem conta da barbaridade. Se se dá de barato, sem evidências, que motoqueiros que passam atirando são policiais vingando a morte de parceiros, a bandidagem vai fazer o óbvio: passará a matar sobre duas rodas para incriminar… policiais!
O meu texto em VEJA evita a especulação irresponsável - e o mesmo faz a reportagem - para se ater aos dados, que estão sendo solenemente ignorados. Parece claro, a esta altura, o esforço para impor a São Paulo um outro "modelo" de segurança pública - como se a história depusesse contra o que está aí. É mentira!
A Folha de hoje traz uma entrevista com Cláudio Beato, apresentado como especialista em segurança pública. Leiam esta pergunta e esta resposta:
Folha - São Paulo tinha uma política de segurança que era considerada exemplar. O que aconteceu para essa política desmoronar?
Claudio Beato - Não acho que ela está desmontando. Os números não apontam para uma situação dramática. O que está acontecendo é um aumento de homicídios. O que houve foi um investimento alto na última década, em que alguns departamentos, como o de homicídios, souberam aproveitar os recursos. Teve avanço grande na investigação, o que resultou na queda dos homicídios de mais de 70% em dez anos.
Beato, nesse trecho, teve o bom sendo de corrigir o perguntador. São Paulo, apesar do recrudescimento do número de homicídios, deve fechar 2012 com a mais baixa taxa do país, mas, para o repórter da Folha, a política de segurança pública "desmoronou"!
Os fatos
Há um esforço deliberado - resta saber com que propósito - para destruir a política de segurança pública de São Paulo, mais eficiente do que a de qualquer outro estado do Brasil. Vou à página 32 do Anuário de Segurança Pública 2012 e encontro lá, por exemplo, a tabela com os mortos por armas de fogo (números por 100 mil), um índice importante de criminalidade e também do bom ou do mau trabalho da polícia, a quem compete recolher as armas irregulares. São Paulo é um dos seis (APENAS SEIS) estados em que as mortes, por esse meio, estão abaixo dos dois dígitos: Acre: 8,5; Piauí, 7,1; Roraima, 6,4; Santa Catarina, 7,6; São Paulo, 8,3; Tocantins, 9. Nas outras 21 unidades, tudo nos dois dígitos. No Rio "pacificado", é de 25,8! Em Alagoas, 55,2; na Bahia, 31,7. Na página 33 do Anuário, há outro gráfico interessante. Em São Paulo, 57% dos crimes de morte são cometidos por armas de fogo; no Rio, 72%; Em Pernambuco e Espírito Santo, 76%.
Gastos
A página 40 do Anuário traz a tabela com os gastos de segurança. Chega a ser uma piada ver o governo federal a dar pitaco na área. Eis os da União em 2011 no cotejo com 2010:
Gastos com ação policial
2010 - R$ 453.838.474,90
2011 - R$ 468.744.253,45
Variação positiva:3,28%
Defesa civil
2010 - R$ 1.928.736.558,02
2011 - R$ 654.811.931,53
Variação negativa: - 66,05%
Informação e inteligência
2010 - R$ 90.736.851,48
2011 - R$ 37.761.346,24
Variação negativa: -58,38%
Aí está o desempenho do buliçoso José Eduardo Cardozo. Comparemos os gastos da União com os de São Paulo para vermos quem pode dar aula a quem.
Gastos com ação policial
2010 - R$ 6.002.243.824,23
2011 - 10.464.184.037,60
Variação positiva: 74,34%
Gastos com defesa civil
2010 - 28.463.959,04
2011 - 28.901.986,61
Variação positiva: 1,54%
Gastos com inteligência
2010 - 201.367.938,30
2011 - 275.463.304,72
Variação positiva: 36,80%
José Eduardo também resolveu fazer declarações bombásticas sobre presídios. Pois é… São Paulo tem 195 mil presos, cerca de 41% dos estimados 470 mil que existem no Brasil, embora só tenha 22% da população. Veja que escândalo vai na página 46 do anuário! Os gastos totais do país com custódia e reintegração chegaram a R$ 7.567.570.274,93 em 2011. Sabem por quanto respondeu a União? Por R$ 1.000.953.831,10 - menos do que em 2010: R$ 1.373.275.483,03.
Em 2011, pois, os estados arcaram com R$ 6.466.616.443,18. Pois bem. Desse total, quanto ficou por conta de São Paulo, que tem apenas 22% da população do país? Resposta: R$ 3.841.336.810,01. Que mimo! O estado já tem 41% dos presos, certo? E ainda responde por 59,4% dos gastos com reintegração e custódia.
Crianças e adolescentes
Fui ao Mapa da Violência consultar um outro dado que costuma também ser índice de uma política de segurança pública ineficaz ou destrambelhada: o de morte de crianças e adolescentes. Está lá na página 50.
São Paulo teve uma queda no número de crianças e adolescentes mortos (mais de um ano e menos de 19) de 78,2% entre 2000 e 2010, a maior do país. Na Bahia, por exemplo, cresceu 477%. Isso em números absolutos. Na página 51, há os mortos por 100 mil habitantes. Em São Paulo: 5,4. É a segunda menor do país: só perde para o Piauí. A redução, nesse caso, é de 76,1%.
Encerro
O estado está sob fogo cruzado. A campanha eleitoral começou com dois anos de antecedência. O engajamento de setores da imprensa é escandaloso. Ligue a televisão ou leia os jornais paulistanos e fique com a impressão de que São Paulo é hoje o lugar mais inseguro do país.
Estamos diante de um dos momentos mais tenebrosos da cobertura jornalística, em que se escondem os cadáveres que não interessam com os cadáveres que interessam. E assim se faz pensando no mundo dos muito vivos…
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"

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