Por Reinaldo Azevedo
O
deslocamento do presidente da República de um estado para outro custa muitos milhares
de reais a mais do que a Presidência já consome normalmente. Pois bem! Dilma
Rousseff se deslocou anteontem para São Paulo, com todo o séquito. Segundo a
assessoria de Imprensa do Palácio do Planalto, cuidava de uma "agenda privada".
Não deixava de ser uma informação correta. A chefe do Executivo veio se
encontrar com o antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, que, salvo engano, não
exerce mais cargo nenhum no país. Ficaram fechados por longas quatro horas no
escritório da Presidência na capital paulista. Participaram da reunião os
ministros Aloizio Mercadante (Educação), Fernando Pimentel (Desenvolvimento,
Indústria e Comércio) e Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência),
além de Marco Aurélio Garcia, assessor especial.
Todas
essas pessoas, exceção feita a Lula, têm gabinetes em Brasília. Carvalho
trabalha no mesmo prédio em que Dilma dá expediente. Os outros podem se
deslocar a pé para o Palácio do Planalto. O que se viu, então, foi o gabinete
presidencial se deslocando de Brasília para o encontro com aquele que se
pretende - e, como tal, é tratado ainda - condestável da República. Dilma
deixou seus afazeres de presidente para cuidar da disputa eleitoral na cidade.
Isso dá uma medida da importância que tem para o PT - e para o Apedeuta em particular
- a eventual eleição de Fernando Haddad, especialmente depois que Recife
derrotou o Babalorixá de Banânia, e Belo Horizonte, a própria presidente da
República.
Bastaram
dois anos e uma eleição para que Dilma demonstrasse que, se preciso, perde a linha
sem medo de ser feliz. Já nomeou uma ministra de Estado (Marta Suplicy, da
Cultura) para estimulá-la a ingressar na campanha de Haddad. Agora, Gabriel
Chalita já recebeu a promessa de um assento na Esplanada dos Ministérios para
fechar acordo com o candidato petista à Prefeitura.
Como
se vê, trata-se do uso escancarado da máquina pública em favor do candidato do
partido. A nova fantasia do PT é a
de que uma vitória na maior cidade do país seria a evidência de que a população
não está nem aí para o mensalão. Nunca estive entre aqueles que acreditavam que
o escândalo pudesse fulminar o PT. Irrelevante certamente não é, e isso não
está ainda quantificado - nem mesmo qualificado. De todo modo, uma coisa é
certa: as urnas não absolvem o que - e os que - o STF condenou. A corte, por
intermédio dos seus ministros, já caracterizou devidamente o que foi o
mensalão: uma tentativa de golpe nas instituições republicanas.
Ora, o
que foi o mensalão? O emprego de recursos públicos, por meio de uma engenharia
criminosa, para tornar irrelevante a própria democracia. Tratou-se de um
processo de privatização do estado em benefício de um partido e de um projeto
de poder. Pois bem: quando Dilma nomeia uma ministra de Estado e promete nomear
outro para tentar eleger seu candidato, faz o quê? Quando recebe em gabinete
oficial - e o escritório da Presidência em São Paulo é… a Presidência! - um
grupo para tratar de assunto exclusivamente partidário, faz o quê? Quando
mobiliza para tanto a máquina que garante o seu deslocamento, faz o quê?
Respondo:
privatiza recursos públicos em favor de um candidato! Isso, minhas caras, meus
caros, é só o espírito do mensalão se manifestando por outros meios. E o
julgamento no Supremo ainda nem acabou. Não tem jeito. São quem são e têm uma
natureza. E é da natureza dessa gente não aprender nada nem esquecer nada.
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo"
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