Por
Ricardo Noblat
Outro dia, o romancista baiano João
Ubaldo Ribeiro escreveu no jornal O Globo: "Toda ditadura, sem exceção,
tem como prioridade básica o controle da imprensa, a vigilância rigorosa sobre
os fatos e opiniões que podem ser conhecidos pelo público".
Ubaldo esqueceu os governos
democráticos. Também eles têm como prioridade básica o controle da imprensa, a
vigilância rigorosa sobre os fatos e opiniões que podem ser conhecidos pelo
público.
Existe uma diferença vital aí: se
necessário, as ditaduras usam a força bruta para subjugar a imprensa. Os
governos democráticos se valem de meios não violentos. Ou dissimuladamente não
violentos. Mais eficazes na maioria das vezes porque não costumam deixar marcas
visíveis.
A Sociedade Interamericana de
Imprensa (SIP) realizou em São Paulo mais uma de suas assembleias anuais.
Uma pesquisa da SIP aplicada junto a
diretores de veículos de comunicação da América Latina concluiu que quase dois
terços deles consideram governos e grupos políticos as maiores fontes de ameaça
à liberdade de imprensa.
Um terço dos pesquisados afirma que
os governos atuam para controlar os meios de comunicação, e um terço reclama de
iniciativas que limitaram a liberdade de expressão nos últimos cinco anos.
Dois exemplos desse tipo de
iniciativa castradora: leis de controle de conteúdo. Isso ainda não temos no
Brasil. E a manipulação da publicidade oficial - isso já temos, e em escala
avançada.
Liberdade de imprensa não é o direito
que têm jornalistas e donos de veículos de comunicação de divulgarem o que
quiser. Não é não.
Liberdade de imprensa é o direito que
você, eu, todos nós temos de saber o que está acontecendo.
Sem saber, como tomar decisões que
afetarão profundamente a nossa vida e a vida alheia? Ou mesmo decisões banais,
mas capazes de nos infringir prejuízos?
A Velha Censura é facilmente
identificável. O governo diz o que não pode ser publicado. Os veículos de
comunicação não publicam.
A Nova Censura é mais sofisticada. Um
dos seus mecanismos mais poderosos é a formação de grandes conglomerados de
mídia controlados por empresas que nada têm a ver com jornalismo. O jornalismo
independente perde com isso.
Outros mecanismos da Nova Censura:
* a aprovação pelos parlamentos
nacionais de leis destinadas a domesticar o jornalismo;
* a determinação de governos em
favorecer veículos de comunicação que lhes fazem as vontades em detrimento de
outros que se comportam de modo independente;
* a concessão pelos governos de canais
de rádio e de televisão a grupos políticos (o Brasil é um dos piores exemplos
disso);
* a indústria das assessorias de
imprensa (elas não servem ao jornalismo que se pretende livre e honesto. Servem
de preferência a empresas e pessoas dispostas a manipularem informações para
sair bem na foto);
* o emprego nos governos e em empresas
estatais de um número gigantesco de jornalistas. Hoje, tem mais jornalista nas
redações oficiais do que fora delas.
A Nova Censura se alimenta de
condições que lhe são favoráveis. No caso do Brasil, por exemplo: a situação
falimentar ou pré-falimentar de muitas empresas de comunicação. Por serem
frágeis, se submetem mais facilmente.
Como pode haver independência
editorial onde não há independência financeira?
Lembram-se do número de jornais que
publicaram de graça uma coluna semanal onde Lula respondia a perguntas de
leitores? Mais de 130. Propaganda pura de Lula e do governo. Que não inventaram
a fórmula.
A redução dos investimentos em
jornalismo de qualidade torna as empresas de comunicação dependentes de
notícias que lhe são oferecidas a custo zero.
E quem as oferece? Governos e grandes
grupos políticos e econômicos.
Em setembro de 1994, ao se preparar
para conceder uma entrevista à TV Globo, em Brasília, Rubens Ricúpero, ministro
da Fazenda do governo do presidente Itamar Franco, não se deu conta de que
havia no estúdio um microfone aberto.
Imaginou que não estava sendo
escutado quando disse, irônico mas verdadeiro:
- O que é bom a gente fatura, o que é
ruim a gente esconde.
É assim que procedem todos os
governos, democráticos ou não.
A frase de Ricúpero cai bem como lema
da Nova Censura.
Fonte: "Blog do Noblat"
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