Por Augusto Nunes
O presidente da República que não sabe
escrever - e rabiscou em mais de 60 anos menos de cinco bilhetes de aluno de
jardim da infância - assinou o tratado da reforma ortográfica. O ex-presidente
que nunca leu um livro - e compara uma virada de páginas a exercício em esteira
- virou colecionador de títulos de doutor honoris causa.
A presidente que não conseguiu administrar a
lojinha em Porto Alegre foi promovida pelo padrinho a supergerente de país. A
chefe de governo que nomeou um ministério infestado de corruptos é aplaudida
por demissões feitas a contragosto pela única faxineira do mundo que gosta de
lixo por perto. E as vítimas dos pitos da mulher rabugenta fazem de conta que
estão ouvindo a voz que identifica a estadista enérgica.
O ex-ministro da Educação continua convencido
de que está certo falar errado - "Nós pega os peixe", por exemplo. O ministro
da Fazenda acha que o Brasil fica melhor depois de cada crise econômica. O
ministro da Pesca não sabe colocar minhoca em anzol. O ministro da Indústria
apressou a falência de uma fábrica de tubaína com meia dúzia de conselhos. O
ex-ministro da Justiça apadrinha terroristas italianos e, como atesta a portaria publicada na seção O País quer Saber,
promove a anistiado político o assassino confesso de um companheiro.
No país anestesiado pela rotina do absurdo, é
natural que uma Comissão da Verdade subscreva a História escrita pelos
perdedores, confunda fato com fantasia e eternize mentiras. Entre tantas, uma
das mais obscenas é a que atribui aos grupos que naufragaram na luta armada
contra o regime dos generais uma relevância que jamais tiveram.
Essa visão deliberadamente distorcida permite
enxergar mártires da liberdade onde só houve gente disposta a tudo para
substituir a ditadura militar pela ditadura do proletariado. Quem não sofre de
miopia malandra sabe que os marighelas, lamarcas, clementes e demais
liberticidas só contribuíram para prolongar o período autoritário. A liberdade
foi resgatada não pela turma da bolsa-ditadura, mas por milhões de brasileiros
engajados na resistência democrática.
Como resume o título do post republicado na seção Vale Reprise, os
democratas vitoriosos ao fim de 20 anos de luta garantiram a sobrevivência de
centenas de devotos do partido único que erram a escolha na encruzilhada. Nós
não lhes devemos nada. Eles nos devem tudo, a começar pela vida. E ainda assim
afrontam seus salvadores com a tentativa de expropriação do triunfo do que foi,
é e será para sempre dos democratas que resistiram.
Resistiram sem bravatas, sem rompantes
juvenis. Resistiram com a tenacidade, a paciência e a bravura de quem aprendeu
que duelos desse porte não são para moleques que mal aprenderam a manusear
metralhadoras. É coisa a ser resolvida por combatentes adultos.
Fonte: "Direto ao Ponto"
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